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Tecnologia e Ciência

Os robôs podem substituir os seres humanos no futuro?

Impactos de uma criança "criada por robôs" seriam desastrosos

Tecnologia e Ciência|Tiago Alcantara, do R7

Robôs podem realmente superar os seres humanos? Pesquisadores divergem sobre o assunto
Robôs podem realmente superar os seres humanos? Pesquisadores divergem sobre o assunto

A inteligência artificial (IA) está mais próxima do cotidiano do que podemos imaginar. Basta pensar em uma vida sem buscadores como o Google, que usa IA para fornecer os resultados com mais velocidade. Até mesmo pensar em como seria difícil se locomover pela cidade sem a ajuda do GPS para calcular a melhor rota entre dois pontos. Ou, ainda, sem utilizar os assistentes virtuais, como Google Assistente, Siri, Cortana e outros.

Essa evolução ainda não atingiu o seu ápice. A próxima geração deve ser a mais impactada pela tecnologia em toda a história e, como reflexo, levar o contato com os robôs a um nível completamente diferente.

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Recentemente, o robô humanoide "Pepper", da companhia japonesa Softbank, foi notícia por conta de sua nova habilidade: fazer as vezes de um sacerdote em cerimônias funerárias budistas. Ter máquinas substituindo humanos não é novo. O que talvez deixe as pessoas assustadas é o quão "substituíveis" os seres humanos são para atividades afetivas - na opinião deles mesmos.

Com os avanços da IA, já existem robôs que andam, falam e tem comportamentos próximos aos dos seres humanos. Uma pesquisa da IEEE, organização profissional que reúne especialistas dedicados ao avanço da tecnologia, revela que 40% dos pais da geração Alpha diz que provavelmente substituiriam uma babá humana por um robô-babá ou, ao menos, usariam o robô para ajudar nos cuidados das crianças.


Chamados de "pais do milênio", as pessoas citadas no estudo pertencem à geração Y ou geração do milênio, nascidos entre 1985 e 2000, com filhos da chamada geração Alpha (crianças hoje com sete anos de idade, ou menos – nascidos entre 2010 e 2025). O levantamento aborda o impacto da tecnologia de IA na vida de suas crianças. Na pesquisa, foram entrevistados 600 pais entre 20 e 36 anos, com pelo menos uma criança de sete anos ou menor.

Você deixaria um robô cuidar do seu filho%3F A resposta de várias pessoas da geração Y é "sim"

Para o especialista em IA e professor do Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Edson Prestes, os impactos de uma criança "criada por robôs" seriam desastrosos.


— Isso é preocupante. Para uma pessoa leiga, pensar em ter um robô para este tipo de atividade é algo natural e benéfico. Porém, se analisarmos um pouco mais a fundo os possíveis efeitos colaterais, devemos ter bastante cuidado. Uma criança necessita da riqueza da interação humana para ter um desenvolvimento saudável. Existem evidências que mostram que crianças privadas do cuidado e atenção humanos durante sua infância não desenvolveram adequadamente importantes regiões dos seus cérebros como córtex, hipocampo e amídala.

AI não substitui o educador


Atualmente, o uso de IA já está mudando as salas de aula no Brasil e no mundo. Parte dessas iniciativas vem do desenvolvimento de brinquedos "inteligentes" e aplicativos que, no futuro, serão capazes de responder a linguagem humana e a comportamentos infantis específicos. Esses gadgets terão a capacidade de monitorar em tempo real e aprimorar o aprendizado de vocabulário.

Para 80% dos pais entrevistados, a IA aumenta a expectativa quanto à melhoria e maior rapidez de aprendizado de seus filhos. Ainda, os resultados apontam que 74% dos pais do milênio considerariam um tutor robô para seus filhos.

Robôs podem ser utilizados em locais insalubres aos humanos. É possível criar empatia por eles?
Robôs podem ser utilizados em locais insalubres aos humanos. É possível criar empatia por eles?

No entanto, estamos diante de uma circunstância sem precendentes. Portanto, como as consequências dessa interação ainda não podem ser registradas, só nos resta a especulação, lembra o professor e doutorando da USP (Universidade de São Paulo) Francisco Tupy. Para o pesquisador, que estuda a relação entre jogos e educação, a tecnologia pode servir como um suporte na educação e cuidado das crianças.

— Uma máquina nunca vai ser uma babá. Essa relação de "tercerizar a educação ou o contato" não me soa muito bem, por mais que traga facilidades.

Para Tupy, o grande diferencial dessas máquinas é modelar o comportamento, traçar padrões. Uma câmera pode perceber, pela temperatura, se a criança está doente, identificar os sintomas.

— Só que isso não é uma experiência humana. Até que ponto ter padrões modelados para comportamento e situações dá a uma máquina o papel de mediação tecnológica entre seres humanos? Uma máquina não deve substituir os pais no exercício de autoridade, por exemplo.

Empatia artificial

O mesmo levantamento do IEEE ainda aponta que cerca de dois terços dos pais do milênio (63%) preferem ter tecnologias de AI ajudando-os a viver de forma independente quando forem idosos, enquanto apenas 37% optam por confiar em seus próprios filhos.

Outro resultado que pode deixar os amantes de animais de estimação intrigados é que 48% dos pais do milênio dizem que provavelmente trocariam um pet por um robô, caso fosse este o desejo de seus filhos. As mães são mais receosas do que os pais, com 42% das mulheres contra 55% dos homens mais inclinados a dar um robô de estimação para seus filhos.

De acordo com Tupy, o perigo mora "um passo adiante da inteligência artificial".

— O problema é a empatia artificial. A inteligência artificial é uma máquina simular o pensamento - as máquinas já têm modelagens para vários padrões de comportamento. O próximo passo é mais que pensar. A questão é quando a máquina puder simular um sentimento que o ser humano reconheça como verdadeiro.

E quando a máquina puder simular um sentimento que o ser humano reconheça como verdadeiro%3F

(Francisco Tupy, educador)

"Geração AI: um estudo do IEEE de pais do Milênio e seus filhos, a geração Alpha" entrevistou cerca de 600 pais e mães, com idades entre 20 e 36 anos, com pelo menos uma criança de até sete anos. As entrevistas foram realizadas entre 13 e 15 de junho de 2017.

Futuro (ainda) imaginário

A preocupação com a ética no desevolvimento de robôs é válida para a pesquisadora de robótica e inteligência artificial Esther Colombini, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Entretanto, a cientista acredita que estamos distantes de atingir um ponto no qual os robôs consigam substituir completamente atividades humanas.

Esther e seu time trabalham em parceria com pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) na construção de robôs humanoides capazes de aprender e executar atividades a partir da interação com o mundo. Mais especificamente, a pesquisadora trabalha com robôs capazes de jogar futebol - uma tarefa muito mais complexa do que possa parecer aos seguidores do esporte.

— O futebol de robôs é uma tarefa extremamente complexa. A iniciativa desenvolve tanto o projeto do robô jogador quanto a inteligência desse robô para movimentação, estratégia. A gente acha que andar é muito fácil, mas a verdade é que levamos cerca de um ano aprendendo a nos movimentar.

Isso acontece porque o jogador está quase sempre com apenas uma perna no solo e precisa ter uma programação capaz de se relacionar com o ambiente do jogo. Sem contar a estratégia para disputar cada partida, explica a pesquisadora.

Esther conta que seu time trabalha, principalmente, no software que faz o robô funcionar.Manter o equilíbrio do robô boleiro é um exercício complexo. Na visão da cientista, projetos mais específicos, como os carros autônomos ou exoesqueletos podem chegar mais rápido do que humanoides autônomos.

— Estamos realmente passando por muitos avanços, mas também há uma onda de merchandising em cima disso. Estamos muito longe de ter robôs humanoides de grande porte. [Atualmente eles] mal conseguem ficar em pé. Chegar a um nível de autonomia, de consciência ainda vai levar muito tempo.

A Boston Dynamics parece estar mais próxima de resolver o problema do equilíbrio. Na última semana, a empresa divulgou que o robô humanoide Atlas é capaz de fazer um roteiro básico de cross-fit. Saiba mais sobre o futebol de robôs na matéria do Esporte Fantástico:

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