Comissão da Verdade: Rubens Paiva morreu no DOI-Codi
Versão oficial diz que ex-deputado fugiu da prisão. Seu corpo nunca foi encontrado
Brasil|Do R7
De posse de novos documentos que esclarecem a prisão do ex-deputado Rubens Paiva, o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Cláudio Fonteles, afirmou nesta segunda-feira (4) que é possível desmentir a versão oficial e afirmar "categoricamente" que Paiva foi morto nos porões do DOI-Codi.
Fonteles também negou rumores de que a presidente Dilma Rousseff estaria insatisfeita com a atividade do grupo e cogitaria inclusive substituir alguns de seus integrantes.
— Afirmo categoricamente que ele (Rubens Paiva) foi morto no DOI-Codi. Pra mim, (isso) está esclarecido, só falta pontuar agora quem foi que matou, o nome da pessoa. Quem matou foi o Estado militar, esse sistema mata, agora alguém deu um tiro, deu socos.
Fonteles observou, no entanto, que não está com a "palavra final".
Em novembro passado, a comissão recebeu papéis encontrados na casa do coronel reformado do Exército Júlio Miguel Molinas Dias, assassinado quando chegava a sua casa, em Porto Alegre. Segundo Fonteles, documento do próprio Exército detalha a passagem de Rubens Paiva no DOI-Codi.
— O documento demonstra que do dia 20 ao dia 25 (de janeiro de 1971), o que se passava com o Rubens Paiva. Ora, segundo a versão oficial, teria sido morto dia 22 de janeiro, esses documentos que marcam toda a sua trajetória nos porões do DOI-Codi não fazem nenhum registro à morte dele.
Um outro documento, o informe nº70 do DOI-Codi, explica como o ex-deputado foi levado de casa por agentes do Cisa, órgão de inteligência da Aeronáutica.
— Fica claro que, membros do Cisa, que é o serviço de informações da Aeronáutica, prendem Rubens Paiva e mais duas senhoras, e entregam essas pessoas ao DOI-Codi.
No caso, as duas senhoras teriam desembarcado no Rio de Janeiro com cartas de exilados políticos no Chile para serem entregues a Rubens Paiva. O informe foi encontrado no Arquivo Nacional, em Brasília.
Agora, a comissão deverá tentar localizar os agentes do Cisa, informou o coordenador.
— A documentação é muito forte, é prova documental que vem do próprio sistema ditatorial com a tarja de "secreto".
Críticas
Fonteles rebateu críticas de que Dilma estaria insatisfeita com o andamento dos trabalhos do grupo.
— Eu acho que crítica é válida, mas tem de provar. Se você for no nosso site, vai ver a quantidade de audiências públicas que a gente tem ido para fomentar essa grande rede (de informação), já percorremos mais de 11 Estados. Não somos caixa preta. Que a sociedade critique o trabalho, colabore, contribua.
Segundo Fonteles, a partir do dia 15 de fevereiro o ex-ministro Paulo Sérgio Pinheiro assume a coordenação da comissão. Entre os objetivos do grupo estabelecidos em lei estão "esclarecer os fatos e as circunstâncias dos casos de graves violações de direitos humanos" entre 1946 e 1988 e "promover o esclarecimento circunstanciado dos casos de torturas, mortes, desaparecimentos forçados, ocultação de cadáveres e sua autoria, ainda que ocorridos no exterior".