“Estava enojado com o processo todo”, diz Costa sobre supostos desvios na Petrobras
Ex-diretor da estatal afirma que alertou a Casa Civil sobre os problemas nas obras da petroleira
Brasil|Carolina Martins, do R7, em Brasília
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, afirmou, nesta terça-feira (2), que estava enojado com o processo de desvios de recursos da estatal quando enviou, em 2009, um e-mail para a Casa Civil relatando todos os problemas nas obras da petroleira apontados pelo TCU (Tribunal de Contas da União).
Reportagem da revista Veja mostra a mensagem enviada por Costa a Dilma Rousseff, que na época era ministra da Casa Civil do governo Lula. O e-mail alerta que o TCU recomendaria a paralisação de obras de duas refinarias e de um terminal: a construção de Abreu e Lima, em Pernambuco, e de Getúlio Vargas, no Paraná, e do terminal do Porto de Barra do Riacho, no Espírito Santo.
Em acareação realizada na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) da Petrobras, Costa afirmou que mandou o e-mail porque Dilma solicitou a relação de problemas e que a intenção era tentar acabar com os esquemas ilícitos.
— Eu já estava enojado com esse processo todo. Eu não mandei esse e-mail para continuar com o processo, eu mandei um e-mail para alertar que estávamos com problemas, e não para continuar com processo que eu não estava satisfeito.
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Perguntado se Dilma Rousseff, como ministra da Casa Civil, sabia do esquema de desvio de recursos, Costa afirmou não poder fazer essa conclusão. Costa afirmou ainda que nunca tratou pessoalmente sobre esse assunto nem com Dilma nem com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Carta de demissão
O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) se mostrou surpreso com a declaração de Costa e questionou porque permanece na empresa e não denunciou os esquemas mesmo estando enojado.
O ex-diretor afirmou, no entanto, que pediu demissão três anos depois, e que não saiu antes porque é muito complicado deixar um esquema que está funcionando com o consentimento de tantas pessoas.
— Quando se está em um processo desses, você entra e não tem como sair. Eu sai. Em abril de 2012 eu entreguei minha demissão porque não estava aguentando mais a situação. Eu não estava lá até agora [antes da prisão], em abril de 2012 eu assinei minha demissão.
Corrupção generalizada
O ex-diretor de Abastecimento da petroleira afirmou também que o esquema de desvio de recursos na estatal não é exclusividade da petroleira.
— O que acontecia na Petrobras acontece no País inteiro, nas rodovias, nas ferrovias, acontece no Brasil, é só pesquisar que acontece.
Pouco antes, Costa afirmou que se arrepende amargamente de ter aceitado apoio político para assumir a Diretoria de Abastecimento da estatal. Costa disse que essa era a única forma que existia para conseguir realizar o sonho de ser diretor e, quem sabe, presidente da petroleira.
— Eu não posso dizer que não seja um sonho de qualquer empregado da Petrobras, era um sonho meu ser diretor e, quem sabe, chegar à presidência da empresa. Mas, desde o governo Sarney [...] todos os diretores da Petrobras se não tivessem apoio político não chegavam a diretores. Isso é fato. Infelizmente, eu me arrependo amargamente, porque estou sofrendo isso na carne e estou fazendo minha família sofrer, aceitei apoio político para uma diretoria. Aceitei esse cargo, e esse cargo me deixou onde eu estou hoje. Estou arrependido, quisera eu não ter feito isso.