Felicidade do brasileiro cai em meio a pandemia, mostra estudo da FGV
Pesquisa revela aumento da desigualdade e redução da renda. Índice de satisfação com a vida cai ao menor patamar em 15 anos
Brasil|Da Agência Brasil
As desigualdades sociais aumentaram no Brasil durante a pandemia de covid-19 e os indicadores de felicidade do brasileiro estão no menor ponto da série histórica.
De acordo com a pesquisa Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social), o país atingiu, em 2020, a pior nota média de satisfação com a vida desde 2006. Já a desigualdade, medida pelo chamado índice de Gini, atingiu o patamar mais alto, batendo também o recorde de toda a série histórica no primeiro trimestre de 2021.
Ainda segundo o estudo, os impactos mais fortes na diminuição de renda e bem-estar foram sentidos pela parcela mais pobre da população.
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O estudo mostra que, durante a pandemia, a renda média do brasileiro foi de R$ 1.122 entre janeiro e março de 2020, a R$ 995, no primeiro trimestre de 2021, o menor valor da série histórica, marcando, pela primeira vez, um montante abaixo de R$ 1 mil.
Já o bem-estar social - indicador que combina prosperidade com igualdade - caiu 19,4%, entre o primeiro trimestre de 2020 e o mesmo período de 2021, chegando a um novo piso da série.
Distribuição de riquezas
O índice de Gini, usado para avaliar a distribuição de riquezas de determinado lugar, passou de 0,642 no primeiro trimestre de 2020 para 0,674 no mesmo período de 2021, o que é considerado "um grande salto de desigualdade”.
Nesse contexto, os brasileiros estão com mais raiva (19% para 24%, de 2019 para 2020) e relatam estar mais preocupados (56% para 62%, de 2019 para 2020), mais estressados (43% para 47%) e mais tristes (26% para 31%). Já quando o assunto é diversão, a percepção do brasileiro é de queda, de 72%, em 2019 para 66%, em 2020.
Perdas materiais
Para o diretor do FGV Social e coordenador da pesquisa, Marcelo Neri, as perdas materiais explicam a perda de felicidade, mas não são o único motivo.
“Todos nós estamos vivendo um cenário muito desafiador e difícil, que é nosso risco de sobrevivência. Nosso dia a dia é muito difícil, em isolamento social, perda de entes queridos, tudo isso, para além da renda, ajuda a explicar essa perda da felicidade”, diz.
Satisfação com a vida
A medida geral de felicidade é dada por uma nota de avaliação de satisfação com a vida numa escala de 0 a 10. Essa nota, que vinha piorando entre 2014 e 2018, chegou a melhorar em 2019, atingindo 6,5 pontos. Em 2020, no entanto, caiu 0,4 ponto, chegando a 6,1 - a menor pontuação da série histórica, desde 2006.
A felicidade na pandemia também é desigual. Entre os 20% mais ricos, esse indicador aumentou de 6,8 para 6,9, de 2019 para 2020. Entre os 40% mais pobres, caiu de 6,3 para 5,5.
“Toda essa queda está concentrada na base da distribuição de renda brasileira, ou seja, uma piora da desigualdade de felicidade”, diz Neri.
Nota parada
A pesquisa também comparou os resultados com os de 40 outros países. Em média, a “nota de felicidade” ficou parada no restante do mundo, em torno de 6 pontos.
“O que a pesquisa mostra e acho que é importante dizer é que, embora a pandemia seja um fenômeno global que afetou a todos os países, o Brasil tem um desempenho nesses aspectos subjetivos pior. A gente talvez precise repensar como a gente está lidando com a pandemia em termos de políticas, em termos de enfrentamento, enquanto ação coletiva”, diz o coordenador do estudo.
A pesquisa está disponível na íntegra no site da FGV Social.