Legalização da maconha no Brasil divide comunidade científica
Cigarro e álcool provam que permitir uso da droga será prejudicial ao País, diz psiquiatra
Brasil|Kamilla Dourado, do R7, em Brasília
Após a legalização da maconha no estado americano do Colorado e no Uruguai, a discussão chegou com força ao Congresso Nacional neste ano — a formulação de um projeto de lei está nas mãos do senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Se nas ruas o tema encontra a aprovação de alguns segmentos da sociedade, a comunidade científica ainda bate cabeça “nos laboratórios”.
Radicalmente contrário aos argumentos favoráveis à legalização da droga, o psiquiatra Valdir Campos, que é especialista em Dependência Química pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), argumenta que a maconha tem mais de 400 substâncias nocivas à saúde.
— Se pega uma substância em si, bruta [da maconha], são drogas de abuso que só vão produzir doenças. Pode trazer problemas de memória e câncer. Pessoas que têm predisposição à esquizofrenia podem desenvolver o transtorno. Ela [usuário] não está fazendo uso medicinal de nada. A população não pode cair nessa lábia para a legalização.
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Além do risco de dependência, Campos ainda cita que a legalização da maconha pode gerar na sociedade os mesmos problemas causados pelas drogas consideradas lícitas — como o álcool e o cigarro.
— Hoje pagamos um preço altíssimo, já que o cigarro matou mais pessoas no século passado do que guerras. Os maiores gastos com saúde pública são consequências do consumo do álcool e do tabaco. Vamos legalizar a maconha para depois ficarmos com a mesma guerra. Tem também o risco dos inúmeros acidentes de trânsito causado por pessoas sob efeito da maconha. Ao invés de criar uma solução, legalizar seria gerar um novo problema. Sou contra porque vai ser uma fábrica de causar doenças.
Por outro lado, entre os defensores da legalização da maconha, está o neurocientista da UnB (Universidade de Brasília) Renato Malcher. Para ele, a proibição do consumo de maconha causa mais males do que a legalização para fins medicinais e recreativos.
— A regulamentação é a coisa mais humana. Ao contrário do álcool, a maconha não tira a consciência de ninguém. A maconha deixa as pessoas mais pacatas, relaxadas e não as torna inconscientes. Com a legalização, o mercado paralelo fica enfraquecido, sem contar que a maconha oferecida no mercado negro tem excesso de THC [princípio ativo da droga].
Soma-se aos argumentos do professor da UnB o benefício do uso da maconha para pessoas que tenham doenças crônicas que provocam dor.
— A maconha pode amenizar o tratamento de crianças com formas severas de dor e epilepsia. No caso de câncer, tem um efeito além de tratar a dor, porque evita a proliferação e a metástase, inibe a náusea que faz as pessoas emagrecerem e aumenta o prazer que a pessoa tem de comer. Todas as percepções são mais agradáveis, como o olfato e a visão.
A única ressalva do neurocientista é que há grupos de pessoas com restrições para o consumo, como jovens, com idade entre 18 e 20 anos. Segundo Malcher, esse grupo ainda está em fase de formação e, por isso, o consumo da maconha nessa idade pode, a longo prazo, causar problemas como depressão.