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Pesquisa mostra que negros são maioria das vítimas de homicídios

Dos 467 mil homicídios ocorridos entre 2002 e 2010, 65,8% foram de negros 

Brasil|Da Agência Brasil

A tendência de se culpar as vítimas de homicídio no Brasil é um dos grandes entraves ao combate à violência e à redução de casos que envolvem jovens brasileiros, informou Julio Jacobo Waiselfisz, autor do Mapa da Violência 2013: Homicídios e Juventude no Brasil, divulgado nesta quinta-feira (18). Para ele, essa inversão de mentalidade entre quem é vítima e quem é culpado gera a escassez de recursos e de medidas com o objetivo de efetivamente solucionar casos relacionados a essas pessoas, na maior parte negras.

— Há um mecanismo perverso que incentiva a tolerância à violência contra os grupos mais vulneráveis, que deveriam ter proteção do Estado: tornar a vítima culpada. Isso ocorre com mulheres, crianças e jovens marginalizados qualificados como traficantes, drogados e arruaceiros. Mas isso vale de uma forma geral.

No Mapa da Violência 2013, divulgado pelo Cebela (Centro de Estudos Latino-Americanos), observa-se a tendência de redução, em números absolutos, dos casos de homicídios de pessoas brancas, e o aumento de vítimas negras. Essa dinâmica se observa em relação à população em geral e entre os jovens.

Dos 467,7 mil homicídios contabilizados entre 2002 e 2010, 307, 6 mil (65,8%) foram de negros. Nesse período, houve decréscimo de 26,4% nos casos de homicídios de brancos e acréscimo de 30,6% dos de negros. Nesses mesmos oito anos, foram mais de 231 mil homicídios de jovens, dos quais 122,5 mil eram negros (53,1%). O decréscimo dos casos de pessoas brancas alcançou 39,8% no período, enquanto, entre negros, houve acréscimo de 18,4%.


Brasil é o sétimo colocado no mundo em casos de homicídios

As informações do estudo confirmam dados do IBGE (Instituto Nacional de Geografia e Estatística), de que a população branca tem, em média, rendimentos entre 60% e 70% superiores aos da população negra e sugerem que essa realidade tem relação direta com o atual perfil da violência no Brasil.


De acordo com Waiselfisz, um processo de privatização da segurança teve início no Brasil nos últimos 20 anos, com a terceirização de serviços e o surgimento de empresas especializadas, assim como já ocorria com outros tipos de serviços públicos, dos quais se destacam a saúde, a educação e a cobertura previdênciária. Além disso, existe o porquê de o nível se segurança ser mais elevado em áreas com a população de renda mais alta e majoritariamente branca.

— O Estado fornece um nível de serviço para toda a população. Às vezes, esse patamar é tão mínimo que não se oferece praticamente nada. Aí a lógica que prevalece é a de que quem pode, paga a diferença.


A partir daí ainda ocorre um outro paradoxo. Em áreas em que há mais circulação de renda e, consequentemente, interesses econômicos, há a tendência de se chamar mais atenção quando ocorrem atos de violência – tanto em relação à mídia, quanto em relação à pressão exercida sobre o Poder Público. Daí, a segurança pública atua de forma mais incisiva nesses locais, pois, devido à própria renda das pessoas, elas podem arcar com os custos de uma segurança privada. Para Waiselfisz, segurança pública também é política.

— Segurança pública também é política, o que reforça que haja mais atuação em bairros abastados e turísticos, por exemplo, do que em favelas. Assim, os abastados têm as duas – segurança pública e privada -, e as favelas, nenhuma.

O autor conclui que a violência na sociedade brasileira, especialmente entre os jovens, é o resultado de um modelo político, econômico e social.

— Essas pessoas [jovens entre 15 e 24 anos] são os algozes, mas também as vítimas da violência estrutural da nossa sociedade.

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