PF prende ex-ministro Geddel Vieira Lima em Salvador
Político seria o "dono" dos R$ 51 milhões encontrados esta semana na BA
Brasil|Do R7, com agências
A Polícia Federal prendeu o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) na manhã desta sexta-feira (8) em sua residência no bairro do Apipema, em Salvador (BA). A prisão acontece três dias após a PF encontrar R$ 51 milhões em malas e caixas de dinheiro em um apartamento na capital baiana que, segundo a Justiça Federal, seria utilizado pelo ex-ministro.
A medida é mais uma fase da Operação Cui Bono?, um desdobramento da Lava Jato conduzida pelo Ministério Público Federal no Distrito Federal.
Geddel foi encontrado pelos policiais em sua casa, onde cumpre prisão domiciliar, por volta das 5h40 da manhã.
De acordo com a Record TV, Geddel tentou esconder o próprio rosto quando foi levado para a viatura policial. Ele foi transportado pelas autoridades pouco depois das 7h para o aeroporto da cidade, de onde será transferido para Brasília. Ele chegará á capital federal por volta das 15h.
A Polícia Federal organizou a operação após a Justiça solicitar a prisão preventiva do político baiano. O receio de que Geddel fugisse do País teria motivado as autoridades a realizar a prisão.
A PF também cumpriu hoje três mandados de busca e apreensão em endereços ligados ao político em Salvador, além de um segundo mandado de prisão preventiva, contra o chefe da Defesa Civil da capital baiana.
Na última terça-feira (5), a PF deflagrou a operação Tesouro Perdido, uma etapa da operação Cui Bono?, um desdobramento da Lava Jato. Em um apartamento da capital baiana, os agentes encontraram milhares de notas de reais e dólares armazenadas em caixas e malas.
A Polícia Federal levou 14 horas para contar a grana, totalizando R$ 51 milhões, sendo R$ 42.643.500 e US$ 2.688.000 — foi a maior apreensão de dinheiro vivo da história da agência. Na quinta-feira, a PF confirmou que fragmentos das digitais de Geddel foram identificadas nas notas de dinheiro apreendidas.
Na decisão da 10ª Vara Federal de Brasília, o juiz Vallisney de Souza Oliveira afirma que Geddel agiu de forma "sorrateira".
"A autoridade policial explica que foi realizado exame pericial no dinheiro apreendido, no qual os Peritos lograram localizar alguns fragmentos de impressões digitais de GEDDEL QUADROS VIEIRA LIMA e de GUSTAVO PEDREIRA DO COUTO FERRAZ no material. Quanto a este último envolvido, a autoridade policial aponta como sendo pessoa ligada a GEDDEL QUADROS VIEIRA LIMA, tendo sido, inclusive, indicado por ele para buscar, em 2012, valores ilícitos remetidos por ALTAIR ALVES, emissário de EDUARDO CUNHA", escreveu o magistrado em despacho.
A defesa de Geddel Vieira Lima informa que somente se manifestará "quando, finalmente, lhe for franqueado acesso aos autos, especialmente aos documentos que são mencionados no decreto prisional. Pesa dizer que o direito de defesa e, especialmente, as prerrogativas da advocacia, conferidas por lei, sejam tão reiteradamente desrespeitadas, impedindo-se o acesso a elementos de prova, já documentados nos autos".
Investigação
Geddel Vieira Lima foi ministro da Secretaria de Governo de Temer até ser acusado pelo ex-ministro da Cultura, Marcelo Calero, de pressão para liberar um empreendimento imobiliário na Bahia, onde Geddel tem um imóvel, e que havia sido barrado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico Nacional), subordinado à pasta então comandada por Calero. A área onde está localizado o imóvel é tombada. Após o caso ser revelado, em novembro de 2016, Geddel pediu demissão.
Poucas semanas depois, Geddel se tornou um dos investigados na Operação "Cui Bono?", deflagrada em 13 de janeiro, que apura irregularidades cometidas na vice-presidência de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, durante o período em que foi comandada pelo político baiano, na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff.
A investigação teve origem na análise de conversas registradas em um aparelho de telefone celular apreendido na casa do então deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
O teor das mensagens indicam que Cunha e Geddel atuavam para garantir a liberação de recursos por vários setores da Caixa Econômica a empresas que, após o recebimento, pagavam vantagens indevidas aos dois e a outros integrantes do esquema, entre eles Fábio Cleto.
Cleto, que ocupou por indicação de Eduardo Cunha a vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias, foi quem forneceu as primeiras informações aos investigadores. Em meados do ano passado, ele fechou acordo de colaboração premiada com a Procuradoria Geral da República.
Em 3 de julho, Geddel foi preso sob acusação do MPF (Ministério Público Federal) de estar tentando obstruir as investigações — ele estaria pressionando o doleiro Lúcio Funaro para evitar que ele fizesse uma delação premiada. Dez dias depois, o TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) decretou prisão domiciliar a Geddel, mesmo sem a tornozeleira eletrônica.
Geddel, que é ainda ex-deputado federal, também foi ministro da Integração Nacional na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.