Vice-presidente do PMDB diz que vai determinar entrega imediata dos cargos após reunião do partido
Romero Jucá afirma que o PMDB votará com independência no Congresso após o rompimento
Brasil|Chris Lemos, colunista do R7
O vice-presidente do PMDB, senador Romero Jucá, disse, em entrevista exclusiva ao R7 e a Rede Record, que após a decisão do partido de sair do governo determinará a entrega imediata dos ministérios e cargos ao Planalto. A reunião do diretório do PMDB que vai ratificar o desembarque do partido da base aliada do governo está marcada para esta terça-feira (29).
— No dia seguinte à decisão [de desembarque do governo], nenhum ministro ou membro do PMDB ocupará cargo em nome do partido. O PMDB não estará oficialmente a base do governo e não ocupará cargos. A posição de cada um deve ser levada em conta e cada um é responsável pelos seus atos.
Na tarde desta segunda-feira (28), o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, referendou a primeira baixa do partido ao pedir exoneração do cargo. Segundo informações de bastidores, os ministros de Minas e Energia, Eduardo Braga, e da Saúde, Marcelo Castro, são os dois que mais resistem a devolver os cargos.
Jucá afirma que “tudo indica” para a saída do PMDB da base aliada do governo. Segundo ele, a decisão permitirá que o partido vote com independência os projetos no Congresso Nacional.
Questionado sobre a posição que o partido adotará na votação do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, ele revela que a bancada “vai olhar e averiguar com muito cuidado todo o procedimento para que seja cumprida a Constituição”.
Confira a íntegra da entrevista com o presidente da convenção do PMDB:
Chris Lemos: Como será conduzida a reunião amanhã?
Romero Jucá: A reunião será democrática. Nós vamos ouvir todos os segmentos. Já estamos ouvindo os diretórios e esperamos ter uma decisão majoritária e, talvez, até de entendimento para que possa ter uma demonstração de mais força e mais unidade do PMDB.
Chris Lemos: O senhor imagina que pode existir uma decisão por aclamação?
Romero Jucá:Eu acho que nós temos que trabalhar para buscar um entendimento. É claro que não é uma solução simples. Mas, na convenção também era difícil ter um rendimento e tivemos um. Então, quando há política, quando há bom senso e quando há compromisso com a realidade, normalmente se consegue construir saídas.
Chris Lemos: Erra quem investe na divisão do PMDB?
Romero Jucá: Erra quem investe na divisão do PMDB. O PMDB está mis unido do que nunca. O PMDB sabe do seu papel histórico e da sua responsabilidade com o Brasil.
Chris Lemos: O senhor diria que a ruptura com o governo é irreversível?
Romero Jucá:Eu diria que, hoje, tudo indica que vamos sair da base do governo, deixar de ocupar cargos no governo, votar com independência no Congresso, marcar claramente as nossas posições e vamos, eventualmente, votar de forma a apoiar o governo em determinados assuntos, porque o que for importante para o Brasil é importante para o PMDB. Mas, também vamos marcar nossas diferenças e votar contrariamente quando entendermos que o que o governo está propondo não interessa para o País.
Chris Lemos: A grande preocupação é em relação ao modo como o PMDB votará o impeachment
Romero Jucá: O impeachment tem que ser instruído a uma comissão na Câmara dos Deputados. O processo não chegou ainda ao Senado. O partido não estará no alinhamento do governo. Portanto, o partido vai olhar e averiguar com muito cuidado todo o procedimento para que seja cumprida a Constituição e, a partir daí, se faça uma avaliação no momento da votação.
Chris Lemos: No dia seguinte à decisão de rompimento com o governo já haverá um desmonte do primeiro escalão. Os sete ministros do PMDB deixarão seus cargos?
Romero Jucá:No dia seguinte à decisão, nenhum ministro ou membro do PMDB ocupará cargo em nome do PMDB. O PMDB não estará oficialmente a base do governo e não ocupará cargos. A posição de casa um deve ser levada em conta e cada um é responsável pelos seus atos.
Chris Lemos: O que acontece com o vice-presidente Michel Temer?
Romero Jucá:O presidente Michel Temer é vice-presidente da República. Ele se resguarda, vai aguardar o posicionamento do partido, não vai participar da reunião que vai definir a saída da base do governo, exatamente para deixar o partido com tranquilidade para poder tomar a decisão sem nenhum tipo de pressão. A partir daí, ele vai exercer seu papel de vice-presidente, com equilíbrio institucional e a experiência que ele tem.
Chris Lemos: O PMDB pode ser acusado de ter precipitado o fim do governo Dilma. Isso não é um peso na trajetória do partido?
Romero Jucá:Pelo contrário, o PMDB adiou essa saída da base. O PMDB já foi dividido para a eleição de 2014. Parte do PMDB não apoiou a presidente Dilma. Portanto, o partido já estava dividido e depois os erros se aprofundaram. O PMDB o tempo todo tem alertado essa situação e o que está, de certa forma, travando o Brasil e destruindo o governo foi a ação econômica que o PMDB não tem participação e também a ação política que o PMDB não tinha participação. Portanto, não foi falta de aviso, não foi falta de contribuição. Mas, infelizmente, o PMDB não conseguiu fazer o que podia ter feito para ajudar a dar outro rumo para o País. Da forma como o País está hoje não pode continuar.
Chris Lemos: Para esclarecer, não se trata de ir para a oposição...
Romero Jucá:Não. Nós não estamos indo para a oposição. Estamos independentes. Vamos votar com consciência, com equilíbrio, visando o que é importante para o Brasil. Agora, o PMDB, a partir de amanhã, se essa for a decisão do diretório, e aponta que será, o PMDB não fará mias parte da base do governo e não terá alinhamento direto com o governo, nem compromisso na votação das questões que o governo enviar para o Congresso.
Chris Lemos: Aumenta a responsabilidade do partido imaginar que os partidos médios da aliança tendem a acompanhar a ruptura?
Romero Jucá: Aumenta a responsabilidade, mas o PMDB não tem medo de responsabilidades. Pelo contrário, eu acho que essa decisão do PMDB é de encontro do PMDB com sua veia histórica, com a sua história, com a sua responsabilidade, com o seu compromisso e com mudanças no Brasil. Portanto, o PMDB está preparado.