Teste: Ford Ka Trail 2017 com motor 1.0 de 3 cilindros é popular disfarçado de aventureiro
Com exceção da suspensão elevada em 31 mm, diferenças estão concentradas no visual
Carros|Diogo de Oliveira e André Schaun, estagiário do R7
Quem tem mais de 30 anos certamente se lembra dos filmes de Indiana Jones, famoso professor de arqueologia criado por George Lucas, que encarava aventuras mirabolantes em cenários selvagens e cheios de misticismo. Tal como o personagem do astro Herrison Ford nas telonas, digamos que o novo Ka Trail tenta transmitir essa imagem de "desbravador". Para tanto, o hatch se vale da imagem. Em vez de chapéu, jaqueta de couro e chicote, o compacto ganhou os costumeiros adereços de aparência offroad.
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A versão "Indiana Jones" do Ford Ka é mais um compacto maquiado para parecer um SUV. A maior mudança de engenharia do Ford Ka Trail é uma suspensão elevada em 31 mm, para aumentar os ângulos de ataque e saída, melhorando a performance em terrenos levemente acidentados. O motor 1.0 TiVCT flex de três cilindros vem acoplado ao câmbio manual de 5 marchas, tal como nas demais versões de entrada do hatch. Não há qualquer alteração mecânica.
Por fora, o Ka Trail não faz questão de ser discreto. Traz molduras plásticas na cor preta sob as caixas de rodas, para-choque dianteiro levemente redesenhado, rodas de liga leve de 15 polegadas escurecidas com pneus de uso misto, máscara negra nos faróis principais e de neblina, rack de teto e adesivos nas laterais e na tampa do porta-malas — com o sobrenome "Trail" em laranja fluorescente em fundo cinza, para não passar despercebido. A aparência ficou bonita e até comedida diante de alguns rivais.
A cabine, no entanto, o visual é totalmente carnavalesco, com cores chamativas e detalhes que não acabam. Os bancos são revestidos parcialmente de couro com costuras laranja e verde, pedaleira esportiva e soleira com o logotipo Trail. Só o painel continua igual. O banco mescla couro com tecido à prova d´água, para facilitar a limpeza — é chamado de repellent. É um item bem interessante para a proposta da versão.
Ao sentar no banco do motorista, obrigatoriamente, afunde seu pé na embreagem, caso contrário, o carro não ligará. O pedal longo é um dos pontos mais negativos do subcompato, que chega a dar caimbra de tanto esforço que deve ser feito nas trocas de marcha, principalmente para sair da inércia. O motor 1.0 aspirado é o mesmo da versão "pelada", com nenhum cavalo a mais, entregando potências de 85 cv (etanol) e 80 cv (gasolina), e torque de 10,7 kgfm e 10 kgfm, respectivamente. Mais do que cavalos, o hatch carece de mais torque. Uma dica valiosa é para não sair sem o freio de mão numa subida um pouco mais inclinada, pois a resposta é lenta, e se tiver um carro na sua bota, considere seu para-choque batido. Então o jeito é sair como se aprendeu na autoescola.
Depois que o carro embala, a potência começa a dar suas caras — afinal, é o 1.0 aspirado mais potente do Brasil — e resposta do subcompacto "aventureiro" é percebida. Em consumo, o desempenho na cidade é satisfatório, com médias de 8,8 km/l (etanol) e 12,5 km/l (gasolina), segundo o Inmetro. Durante os testes, os números não fugiram disso.
Como se trata de uma versão aventureira, saímos da cidade para ver como o Ka Trail se comporta na terra. Com a suspensão elevada, o hatch tem altura do solo em 200 mm, e se mostra mais apto a pegar estradas de terra esburacadas. Falar que o modelo tem "capacidade off-road" já é um sonho muito distante de um popular 1.0 com embalagem fora-de-estrada. Contudo, dentro de suas limitações, o compacto até teve bom desempenho, levando em consideração o que ele pode oferecer.
A maior altura é combinada ao eixo traseiro de maior rigidez torcional e a amortecedores com nova calibração. O conjunto mostrou melhor estabilidade em trechos de piso irregular, e reduziu a vibração do volante — que também é amenizada por um coxim hidráulico no suporte do motor. O limite de altura para água ou lama em solos desfavoráveis é de 450 mm, ou seja, não se empolgue e tente enfiar o carro em trilhas com jipes 4x4 ou queira atravessar enchentes na cidade, pois o Ka Trail irá parar no estaleiro.
O Ka aventureiro começa a ser vendido neste mês a partir de R$ 47.690, preço um tanto salgado para uma versão que oferece pouquíssimas mudanças em relação às demais. Com motor 1.5 flex, o hatch beira os R$ 60 mil. Se a ideia era turbinar as vendas do compacto — e tentar assumir a vice-liderança do mercado, hoje do HB20 — o preço pode ser um limitador. Isso porque os rivais, como Chevrolet Onix Active, Hyundai HB20X e Renault Sandero Stepway oferecem mais conteúdos e câmbios manual e automático.
Ficha técnica Ford Ka Trail 2017
Motor: 1.0 TiVCT de 3 cilindros, flex
Potência: 85 cv (etanol) e 80 cv (gasolina)
Torque: 10 kgfm (G) e 10,7 kgfm (E)
Câmbio: Manual de 5 marchas
Direção: Assistência elétrica
Freios: ABS com EBD (antitravamento com distribuição de força entre as rodas)
Rodas e pneus: 15 polegadas/Pirelli Scorpion ATR/
Dimensões: 3,86 m (comp), 1,52 m (alt), 1,69 m (larg), 2,49 m (entre-eixos)
Tanque de combustível: 51 litros
Capacidade do porta-malas: 257 litros
Peso:1007 kg