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Acampadas em batalhões, mulheres de PMs do ES dizem que não vão recuar: "Temos uma crise na nossa mesa"

Familiares impedem atuação de policiais em protesto por melhores condições de trabalho

Cidades|Ana Ignacio, do R7

Parentes de PMs estão em batalhões de diversas cidades do Estado
Parentes de PMs estão em batalhões de diversas cidades do Estado

Na entrada do 7º Batalhão de Cariacica (ES), dezenas de mulheres colocaram cadeiras de plástico na rua e ficam sentadas impedindo a saída de viaturas policiais desde sexta-feira (3) à noite. O grupo se reveza na porta do batalhão e pretende chamar atenção para a situação de trabalho dos policiais militares do Estado.

M., 32 anos, é dona de casa e mulher de um PM. Ela defende o movimento dos familiares e a necessidade de mostrar as dificuldades que os policiais do Estado enfrentam.

— Nosso movimento é branco. Não estamos agredindo ninguém, quebrando nada, depredando nada. A única coisa que a gente está fazendo é impedindo as viaturas de sair. A PM está há sete anos sem aumento de salário. A família da polícia está praticamente passando fome. Quando o filho pede leite e não tem, a gente faz isso. A gente entende que existe uma crise no País, mas na nossa casa também tem uma crise, uma crise na mesa.

M., que prefere não ser identificada com medo de sofrer represálias, tem uma filha de 12 anos e seu marido tem mais três filhos de outro casamento e paga pensão para a ex-mulher.


— O salário não dá para nada. Não temos plano de saúde, o hospital da Polícia Militar está abandonado, estou na minha casa com quatro talões de energia atrasada.

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Segundo ela, o governo do Estado não tem dialogado com a categoria e a situação nos municípios está tensa.


— Está uma guerra. Todos os bairros estão em toque de recolher e não tem ninguém na rua. Mas a gente só está reivindicando um direito. A PM do Estado está passando fome.

T. 29 anos, professora, é familiar de policiais militares e também aderiu ao movimento. Ela tem se revezado com as demais mulheres desde sábado (4).

— Eu apoio a categoria. Vejo o que eles passam, o cotidiano deles, as condições de trabalho são precárias. Imagina a pessoa dar a própria vida para defender a sociedade com salário que mal dá para sustentar a família direito?

No 7º Batalhão de Cariacica, ao menos 100 pessoas participam do movimento, segundo T., e se revezam para passar 24 horas por dia no local. Há algumas doações de alimentos e água e as mulheres afirmam que só sairão da frente do batalhão após negociação com o governador.

Segundo T., o clima na cidade é tenso e os moradores estão preocupados com a situação da segurança.

— As pessoas estão dentro de casa, estão com receio de sair às ruas. Vejo que, por um lado, as pessoas podem perceber como é importante o trabalho da Polícia Militar.

Apesar das mulheres declararem que o protesto é espontâneo e não há participação das associações de classe no ato, a Justiça do Espírito Santo declarou ilegal o movimento dos familiares dos policiais militares, que estão acampados em frente a 11 batalhões da Polícia Militar em mais de 30 cidades do Estado. No documento em que declara a ilegalidade do movimento, o desembargador Robson Luiz Albanez afirma que a proibição de saída dos policiais militares caracteriza uma tentativa de greve por parte deles. Uma multa de R$ 100 mil foi fixada às associações que representa os policiais capixabas, caso haja descumprimento da decisão.

Onda de violência

Desde sábado, ao menos 75 homicídios foram registrados na Grande Vitória (Vitória, Serra, Vila Velha e Cariacica). O número de corpos na cidade já é seis vezes maior que a capacidade máxima do DML (Departamento Médico Legal) de Vitória, que tem 12 gavetas frigoríficas.

A Fecomércio de Vitória divulgou uma nota recomendando que os comerciantes façam uma avaliação do nível de segurança no entorno antes de abrir as portas. Os saques já somam mais de R$ 4,5 milhões em prejuízo, segundo a entidade. Além disso, a Prefeitura de Vitória suspendeu as aulas nas unidades da rede municipal. Também foram suspensas as aulas para os alunos da modalidade EJA (Educação de Jovens e Adultos), do período noturno.

André Garcia, secretário de Segurança Pública e Defesa Social informou, em vídeo enviado pela assessoria de imprensa da pasta, que em relação ao "movimento que impede a saída de viaturas para atendimentos de ocorrências e para o patrulhamento das ruas do ES" foi ajuizada uma ação que foi deferida declarando a ilegalidade desse movimento e a necessidade de desobstrução de todos os quarteis e unidades da polícia. O governo do Estado também solicitou o apoio da Força Nacional de Segurança para o Estado e foi trocado o comando da PM.

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