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Boate Kiss: vítimas ressuscitam em livro polêmico escrito por padre

Associação dos Familiares das Vítimas quer que obra seja retirada das livrarias 

Cidades|Vanessa Beltrão, do R7

Incêndio na Boate Kiss matou 241 pessoas
Incêndio na Boate Kiss matou 241 pessoas Incêndio na Boate Kiss matou 241 pessoas

Após mais de dois meses do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria (RS), que matou 241 pessoas, o padre Lauro Trevisan lança um livro polêmico que aborda a tragédia, considerada uma das maiores no Brasil. Em um dos trechos mais discutidos da obra Kiss, uma Porta para o Céu as vítimas são levadas para o céu por anjos e depois participam de uma “balada celestial” em que Deus pergunta se alguém queria voltar. No livro, dois ou três respondem que sim e são encontrados vivos no caminhão frigorífico que realizava o transporte dos corpos.

O autor afirma que se trata de uma figura de linguagem, “uma alegoria”.

— Isso foi interpretado como se fosse uma verdade, uma situação ofensiva. Não tem nada a ver.Eu queria colocar o fenômeno quase morte até porque não falei com deus, com os anjos. É muito claro, fácil de entender que se tratou de uma alegoria.

A situação desagradou os parentes das vítimas da tragédia que classificaram a publicação como uma “ofensa”. O presidente da Associação de Famílias de Vítimas de Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria, Adherbal Ferreira, entrou com uma ação extrajudicial para que o livro fosse retirado das livrarias. A obra que custa R$ 20 já vendeu 2.000 exemplares em todo o Brasil.

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De acordo com Ferreira, o livro alimentou uma expectativa.

— As mães ligaram para mim chorando porque eu também posso achar que a minha filha estava entre os mortos [que teriam voltado à vida no frigorífico] e não fizeram nada... Nos ofendeu em vários momentos e estou bem chateado e queria tirar o livro de circulação.

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Ferreira também fez um apelo:

— Boicotem esse livro, não comprem. É um absurdo.

O autor Lauro Trevisan é um padre com 78 livros já lançados que, segundo ele, abordam “o poder da mente”. O escritor diz que Kiss, uma Porta para o Céu é um livro de psicologia espiritual. Ele se defende das acusações e diz que a publicação é “uma história com personagens e acontecimentos simbólicos que não são verdadeiros”. 

— O livro compreende três aspectos: levar o consolo, o conforto às pessoas que sofreram com a tragédia e reanimar a cidade de Santa Maria que está bastante traumatizada. O terceiro ponto é ser uma lição para humanidade, para o mundo porque essa tragédia não pode ficar no esquecimento, mas deve ajudar a ter uma lição para criar um mundo mais humano, solidário e amoroso.

Uma outra parte do livro em que Trevisan fala que “esses heróis que morreram se dedicando a salvar aqueles que agonizaram a fumaça funérea” também foi bastante criticada pela associação.

Para Ferreira, o texto provocou confusão na cabeça das pessoas.

— Nós imaginávamos que nossos filhos tinham morrido em segundos, se eles agonizaram, estavam sofrendo. Causou uma comoção geral no nosso sentimento, no nosso coração e fez uma esculhambação geral na cabeça das pessoas.

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Propaganda e circulação

Apesar da ação extrajudicial da associação pedindo a retirada do livro das bancas, a obra continua sendo vendido em todo o Brasil e com propaganda na televisão.

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Sobre a medida tomada pelos familiares das vítimas, Trevisan informou que não recebeu nenhum pedido, mas garantiu que os trechos polêmicos serão retirados da segunda e terceira edições do livro que serão distribuídas nesta quarta-feira (10) em todo o Brasil com a tiragem de mais 4.000 exemplares.

— Para evitar qualquer dificuldade de entendimento, eu tirei esses textos porque a minha intenção é ajudar.

Sobre a possibilidade da retirada de circulação, ele afirma que “tirar um livro que está fazendo bem para humanidade é um absurdo”.

As justificativas, porém, não convenceram os familiares das vítimas.

— Não foi adequado ao povo, foi adequado ao bolso dele. Ele tem que pegar esse dinheiro e dar para uma instituição de caridade. É muita gente querendo se aproveitar.

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