"Canibal" desenhava quadrinhos com histórias de violência contra mulheres
Declaração foi feita à Justiça por irmãos de Jorge Negromonte
Cidades|Do R7
Um temperamento violento, que começou a aflorar na adolescência. Foi desta forma que irmãos de Jorge Beltrão Negromonte da Silveira, um dos integrantes do trio conhecido como “canibais de Garanhuns”, descreveram a personalidade do acusado. Os depoimentos foram dados durante a primeira audiência de instrução do processo contra o trio, em Olinda, na quinta-feira (25).
Irineu e Emanuel Beltrão contaram que, quando jovem, Jorge desenhava quadrinhos em que retratava cenas de violência contra mulheres. O acusado teria ainda praticado pequenos furtos, além de falsificar a assinatura de outro irmão para sacar R$ 80 mil.
Os irmãos disseram que Jorge não tinha contato com a família nos últimos tempos e que todos ficaram surpresos com a descoberta dos crimes supostamente praticados pelo trio. Eles confirmaram que os parentes tinham conhecimento de que o irmão vivia com duas mulheres, mas nunca frequentaram a casa deles.
Irineu e Emanuel estiveram entre as 17 testemunhas convocadas para a audiência. Dez delas seriam ouvidas nesta primeira etapa, mas o Ministério Público desistiu de quatro. Ao todo, seis prestaram depoimentos: além dos dois irmãos de Jorge, a dona da casa onde o corpo de Jéssica Camila da Silva Pereira (uma das vítimas do trio) foi encontrado e outras três pessoas, entre elas, um policial civil. As outras testemunhas serão ouvidas nas comarcas dos municípios onde moram.
No mesmo dia, a Justiça de Olinda determinou que o trio ficasse internado no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, de Ilha de Itamaracá (PE), por 45 dias. A juíza Maria Segunda Gomes de Lima deferiu o pedido da defesa para que os três fossem submetidos a exame de sanidade mental.
Presos desde abril, Jorge, Isabel Cristina da Silveira e Bruna Cristina Oliveira da Silva foram acusados pelas mortes de Jéssica, Giselly Helena da Silva e Alexandra Falcão da Silva. À polícia, eles relataram que eram integrantes de uma seita chamada Cartel, que tem como meta a purificação do mundo e o controle populacional, por isso as vítimas sempre eram mulheres.
Além de suposta prática de canibalismo, os réus teriam usado carne das vítimas para rechear salgadinhos, comercializados em Garanhuns, no agreste de Pernambuco. Neste município, os três respondem pelos homicídios triplamente qualificados de Giselly e Alexandra, ocultação e vilipêndio de cadáver (desrespeito ao corpo) e furto.
Bruna e Jorge foram acusados ainda por estelionato, porque teriam usado o cartão bancário de Giselly. Bruna também foi denunciada pelo crime de falsa identidade, uma vez que se apresentou ao delegado, assumindo o papel de Jéssica, morta em 2008. Ela era a mãe da menina de cinco anos encontrada com os acusados.
Em Olinda, o trio responde pela morte de Jéssica. Os três foram acusados de homicídio quadruplamente qualificado; ocultação e vilipêndio de cadáver.
Próxima audiência
A próxima audiência de instrução do processo que corre em Olinda está marcada para o dia 14 de dezembro, data em que termina o tempo de internação.
A promotora Eliane Gaia Alencar disse que, diante de todas as provas, indícios e depoimentos, ela acredita na condenação dos acusados, mesmo com a abertura do "incidente de insanidade mental", que avaliará se os três apresentam distúrbios psíquicos. Eliane disse acreditar que cada um pode pegar pena de 25 anos de prisão.
O Código Penal brasileiro considera entre os inimputáveis, os portadores de doença mental severa. Pela lei, “é isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento”.