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“Foi uma grande decepção”, diz pai de vítima sobre CPI da boate Kiss

Relatório final da comissão foi encerrado ontem e criticado por familiares de vítimas

Cidades|Do R7

Cerca de 150 pessoas ocuparam por seis dias a Câmara de Vereadores de Santa Maria após suspeita de irregularidades na apuração de responsabilidades no incêndio da boate Kiss
Cerca de 150 pessoas ocuparam por seis dias a Câmara de Vereadores de Santa Maria após suspeita de irregularidades na apuração de responsabilidades no incêndio da boate Kiss

Um relatório de 90 páginas, boa parte dele em tom de agradecimento a diversas instituições, é o resumo de uma CPI (comissão parlamentar de inquérito) instalada na Câmara Municipal de Santa Maria para apurar fatos relacionados ao incêndio na boate Kiss, em janeiro deste ano. O desfecho do trabalho da CPI foi divulgado na quarta-feira (3) e desagradou familiares e amigos de vítimas. A situação piorou na última semana, após a divulgação da gravação de uma conversa entre membros da comissão indicando que havia orientações de que a apuração de responsabilidades no incêndio teria que “dar em nada”.

Para o presidente da Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia na Boate Kiss, Adherbal Alves Ferreira, a CPI “não tem a menor importância”.

— [Foi uma] decepção total. Dentre o bloco [de vereadores], a gente não pode generalizar, mas foi uma grande decepção, principalmente no que diz respeito à situação da gravação, que percebemos que havia uma grande camuflagem.

Adherbal também criticou os trabalhos da comissão e disse que os membros não tinham condições de investigar aquilo que se propuseram.


— Esse relatório, para nós, não vale nada. Foi o relatório mais falso de toda a história do Brasil. Em uma situação dessas, de um assassinato em massa, e ninguém culpa ninguém, ninguém liberou alvará para ninguém. É um absurdo uma coisa dessas. Ninguém viu nada. É uma blindagem total de todos os setores. Eu não sei quem poderia ter a culpa, mas elas [vereadoras integrantes da CPI], infelizmente, não sabem apurar nada.

CPI


Iniciada no começo de março, a comissão parlamentar ouviu pessoas ligadas ao fato, também colheu peças do inquérito policial que investigou o incêndio e da denúncia do Ministério Público contra os quatro acusados de envolvimento direto na tragédia – os empresários sócios da Kiss, Elissandro Spohr e Mauro Hoffmann; e os integrantes da banda Gurizada Fandangueira, Luciano Leão e Marcelo de Jesus dos Santos –, soltos no fim de maio.

Os integrantes da CPI reforçaram, no relatório, a responsabilidade dos réus e de instituições como o Corpo de Bombeiros e a prefeitura, já mencionados no inquérito policial.


A comissão tratou como “preocupante” a situação da Prefeitura de Santa Maria em relação à concessão de alvarás e aprovação de projetos. “Se, de um lado, não se consegue identificar um aspecto denegatório às individualidades funcionais, parecem ser bastante evidentes as limitações estruturais do órgão público executivo municipal”, diz o documento.

Gravação

Na semana passada, foi divulgada a gravação de uma conversa entre os vereadores Maria de Lourdes Castro e Tavores Fernandes de Oliveira – presidente e vice-presidente da comissão, respectivamente – e de um assessor dele. Eles discutiam sobre atitudes da relatora da CPI, a vereadora Sandra Rebelato. O assessor de Tavores fala sobre supostas orientações.

— Ela [Sandra] pediu que não poderia dar em nada [a CPI], porque chegaria não sei onde.

A vereadora Maria de Lourdes manifesta preocupação com as investigações chegarem ao nome do secretário municipal de Relações de Governo e Comunicação, Giovani Mânica.

— Vamos jogando, porque vai chegar no [Giovani] Mânica, e chegando no Mânica, vai chegar no prefeito [Cezar Schirmer].

CPI da boate Kiss é inútil, dizem famílias após gravação de vereadores

Câmara ocupada

Revoltados com suspeita de que CPI terminaria “em nada”, parentes e amigos de vítimas da tragédia ocuparam o plenário da Câmara Municipal na tarde de terça-feira (25). O grupo, de aproximadamente 150 pessoas, exigia o fim dos trabalhos da comissão e a renúncia dos vereadores integrantes dela. O prédio foi liberado na segunda-feira (1º), sem que as reivindicações fossem atendidas.

Para Adherbal, permanecer no plenário, foi uma forma protestar contra o que os vereadores fizerem.

— A única coisa que nos deixou mal foi o estresse que nós tivemos todo esse tempo para chegar a nada. Se nós não tivéssemos ocupado a Câmara, iríamos ficar mais decepcionados ainda. [...] A sensibilidade humana é péssima. Eles não são sensíveis, eles não perderam nenhum familiar, é por isso que não estão dando bola. O que vale mais é o dinheiro.

O presidente da associação de familiares de vítimas e sobreviventes ainda disse estar indignado com a suposta alegação de que a ocupação da Câmara causou um prejuízo de R$ 30 mil ao Legislativo municipal.

— Nós provamos para a sociedade, de uma forma ordeira e pacífica, essa grande verdade. E agora, por finalizar ainda, nós deixamos a casa totalmente arrumada. Não deixamos nenhuma despesa para a casa e agora eles vêm dizer que tiveram um prejuízo de R$ 30 mil. Mais uma vez o povo está sendo enganado.

Ele ainda lamentou a falta de comprometimento de alguns parlamentares em esclarecer os fatos em torno da tragédia.

— É triste a casa legislativa estar ocupada por pessoas que não deveriam estar lá, que não representam o povo. [...] Vamos nos reunir agora com a diretoria [da Câmara] e ver qual posição nós podemos tomar, se fazemos um relatório paralelo ou até mesmo, quem sabe, alguém se entusiasme e monte uma CPI de verdade.

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