"Minha filha não morreu, ela foi assassinada", diz pai de vítima de tragédia em Santa Maria
Estudante de radiologia deixou uma filha de um ano e quatro meses
Cidades|Sylvia Albuquerque, do R7
O pai da estudante de radiologia Leandra Toniolo, uma das 235 vítimas mortas no incêndio em Santa Maria (RS), acredita que o acidente na boate Kiss não se tratou de uma fatalidade, mas sim de um crime doloso, quando existe a intenção de matar.
Ildo Toniolo contou que o local funcionou como um depósito de bebidas antes de se tornar uma casa noturna e ele mesmo trabalhou lá no período entre 1983 e 1986. Conhecendo o ambiente, ele disse acreditar que o depósito jamais poderia ter se tornado um lugar de eventos e receber a quantidade de gente que estava na boate na noite do incêndio.
— A minha filha não morreu, ela foi assassinada. Aquele lugar é um túmulo, não existem saídas, e não poderia jamais ser uma boate. Eu vou até onde eu aguentar e quero que todos os responsáveis por essa tragédia sejam punidos e percam a liberdade de ir e vir. Eu quero saber o nome do bombeiro que um dia assinou a autorização para aquilo abrir as portas.
Leandra deixou uma filha de um ano e quatro meses. Ela foi para a boate com uma amiga porque a criança estava com a avó paterna, em Santa Catarina. Leandra avisou a colega que ia ao banheiro e ficou presa na hora do incêndio, como muitas outras vítimas.
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A amiga conseguiu sair e foi até a casa do pai de Leandra avisar. A jovem foi achada no banheiro horas depois, já sem vida. O pai a localizou no ginásio da cidade, para onde os corpos foram levados. A filha dela ainda não foi comunicada. Os avôs paternos e maternos disseram que querem uma guarda compartilhada, quando a criança passa um período na casa de cada um.
— Minha filha trabalhou o dia todo e quis se divertir porque estava sem a menina em casa. Agora a criança vai crescer sem mãe e um dia se perguntar por que as outras têm e ela não. Daí teremos que contar a forma trágica que a Leandra se foi.
A casa noturna estava cheia na hora que o fogo começou. Cerca de mil pessoas estariam no local. O incêndio provocou pânico e muitas pessoas não conseguiram acessar a saída de emergência. Os donos não tinham qualquer autorização do Corpo de Bombeiros para organizar um show pirotécnico na casa noturna. O alvará da boate estava vencido desde agosto de 2012, afirmou o Corpo de Bombeiros.
Dois donos da boate e dois integrantes da banda que se apresentava foram presos. O músico que teria iniciado o incêndio negou que tenha sido o responsável pela tragédia. Segundo o delegado da Polícia Civil, Marcelo Arigony, o artista, cuja identidade não foi revelada, "não assumiu a culpa em suas declarações" de hoje e negou qualquer responsabilidade no acidente.
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Os donos da casa noturna também negaram qualquer tipo de culpa e disseram que o fogo começou depois que a banda soltou uma espécie de sinalizador. Os bens deles foram bloqueados pela Justiça nesta terça-feira (29). O prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB), disse não estar convencido de que houve falta de fiscalização nesse caso e que segue "a legislação em vigor no município".
— Quando a prefeitura tem conhecimento de qualquer irregularidade, nós tomamos providências. Por exemplo, não mais do que 15 dias, nós fechamos uma boate aqui em Santa Maria.
Ele afirmou que a emissão de um novo alvará de funcionamento do local estava em tramitação no Corpo de Bombeiros e não dependia da prefeitura.
— Na parte relativa à prefeitura, a boate estava rigorosamente regular.