Logo R7.com
Logo do PlayPlus
Publicidade

Mulher trans morta a pauladas em SC já tinha feito dois BOs por transfobia

Delegado à frente das investigações foi substituído após declarações preconceituosas

Cidades|Diego Junqueira, do R7

Jennifer foi encontrada morta na manhã de sexta-feira em uma construção abandonada no bairro dos Ingleses, em Florianópolis
Jennifer foi encontrada morta na manhã de sexta-feira em uma construção abandonada no bairro dos Ingleses, em Florianópolis Jennifer foi encontrada morta na manhã de sexta-feira em uma construção abandonada no bairro dos Ingleses, em Florianópolis

A mulher transexual Jennifer Celia Henrique, de 37 anos, que foi morta a pauladas na última sexta-feira (10) em Florianópolis, Santa Catarina, já tinha apresentado duas queixas à Polícia Civil por agressão física e injúrias em razão de sua orientação sexual.

O primeiro BO (boletim de ocorrência) foi aberto em 2013, quando Jenni, como era conhecida, foi agredida por dois jovens quando voltava para casa após sair de uma festa. Ela chegou a desmaiar com os golpes e, por isso, não conseguiu identificar os agressores.

O segundo, de 2016, denunciava um homem que morava próximo de sua casa. Ela relata na queixa que o sujeito a perseguia e frequentava os mesmos lugares, impedindo-a inclusive de frequentar os locais. Esse vizinho a agrediu verbalmente com “palavras de baixo calão” e a ameaçou. As informações são da Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina e da Delegacia Geral da Polícia Civil.

Os registros de Jennifer na Polícia Civil do Estado ainda incluem a comunicação de perda de documento e duas intimações para prestar esclarecimentos em uma investigação de estelionato.

Publicidade

De acordo com a assessoria de imprensa da Delegacia Geral da Polícia Civil, que se refere a Jenni erroneamente como "homossexual", nenhuma hipótese está descartada.

Já amigos e ativistas da causa LGBT afirmam se tratar de mais um crime de ódio.

Publicidade

“Para mim foi um choque saber do caso principalmente porque a Jenni era muito querida e adorada por todos. Não tinha briga com ninguém, não tinha desavenças, era uma pessoa do bem mesmo”, diz Lirous K’yo Fonseca Ávila, 35 anos, membro do Conselho Municipal LGBT e coordenadora-geral da Adeh (Associação em Defesa dos Direitos Humanos com Enfoque na Sexualidade).

— Pra nós é um pesar muito grande porque a gente sabe que a maioria dos crimes que acontecem em Florianópolis ficam impunes, principalmente com a população LGBT.

Publicidade

Troca de delegado

O R7 confirmou nesta segunda-feira (13) que o delegado Ênio Mattos, da Delegacia de Homicídios da Capital, foi substituído das investigações pelo delegado Eduardo Mattos, que também atua na Homicídios.

A mudança aconteceu no final de semana, segundo a coordenadora da Adeh, em razão de declarações preconceituosas do delegado anterior.

Em entrevista ao site de notícias Hora de Santa Catarina, Ênio Mattos havia descartado já na sexta a possibilidade de crime de ódio, afirmando se tratar de uma “transa mal acertada”. Jennifer era vendedora de produtos de beleza e nunca trabalhou como garota de programa. O delegado ainda insistiu naquele dia em tratar a mulher trans como homem.

“Acredito que [a mudança de delegado] aconteceu pela indignação do movimento social”, diz Lirous.

— A gente conseguiu que um delegado que tivesse responsabilidade assumisse o caso, porque a gente percebeu que o anterior não tinha responsabilidade alguma nem empatia pelo caso. É bem complicado para nós perceber que a gente ia se sentir desamparada pelo poder público.

A Delegacia Geral da Polícia Civil afirmou à reportagem que a opinião do delegado não representa a visão da corporação e que a mudança ocorreu por uma questão “territorial”, já que o assassinato aconteceu na região norte da ilha de Florianópolis, onde o novo delegado, Eduardo Mattos, já atua em investigações desde o início de fevereiro.

Apesar da mudança, na manhã de hoje Ênio continuava a prestar declarações à imprensa sobre o caso. Em contato com o R7 no início da noite, o delegado se recusou a responder aos questionamentos.

Eduardo, o novo responsável pelas investigações, afirmou ao R7 que somente o crime de latrocínio está descartado, "a princípio", "uma vez que não foi levado dinheiro da vítima".

— É cedo pra definir uma linha de investigação e não descartamos nenhuma hipótese. Crime envolvendo homofobia ou homicídio passional, enfim.

Segundo Lirous, ela nunca imaginou que a transfobia pudesse atingir Jenni.

— Em nenhum momento eu pensei que a transfobia fosse chegar até a Jenni, porque ela era uma pessoa bem querida na região, uma figura carimbada na cidade, uma personalidade, e é um choque saber que a violência está do nosso lado, das pessoas que são ativistas lutando pelo direito das outras, assassinadas num mesmo ritual das demais que são encontradas no Brasil.

Últimas

Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.