A remoção do navio Haidar, que naufragou no porto de Vila do Conde, em Barcarena (PA), com cinco mil bois vivos, deve levar quatro meses. A previsão é da Mammoet Salvage, companhia holandesa contratada pelo armador da embarcação para realizar o serviço.
Ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, o diretor presidente da CDP (Companhia Docas do Pará), Parsifal de Jesus Pontes, responsável pela autoridade portuária, disse que o resgate é de alta complexidade e que a exportação de gado em pé só deve ser retomada quando o processo estiver em andamento.
— Se fosse um navio com carga seca, o prazo provavelmente seria menor. No entanto, a Mammoet nos informou que nenhuma empresa até hoje fez esse tipo de resgate, com cinco mil cabeças de gado dentro de um navio e em um porto fluvial. É um processo muito delicado.
O porto de Vila do Conde não vai parar durante o resgate, o que também dificulta a logística da operação. Casos complicados não são novidade no currículo da Mammoet, que atuou no resgate do Costa Concordia, que adernou em 2012 na região da Toscana, na Itália, e no do submarino nuclear russo Kursk, que afundou no Mar de Barents em 2000.
A equipe já trabalha no Haidar desde a segunda-feira (12) e deve começar a drenar o óleo do navio ainda esta semana. Por enquanto, Pontes afirma que os técnicos estudam o caso e planejam a operação.
O diretor presidente da CDP afirma que, do ponto de vista técnico, o andamento do resgate não impede novos embarques de bois vivos em Vila do Conde. No entanto, por determinação da Semas (Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade), a exportação ficará paralisada enquanto navio e carga permanecerem no local.
— A retomada deve ocorrer quando normalizarmos as operações, isto é, quando entrarmos em uma rotina de resgate.
Contudo, Pontes diz que há um componente humano que pode dificultar os embarques e que é difícil precisar.
— A comunidade de Barcarena está extremamente incomodada com o caso e, por enquanto, seria impossível passar uma carreta de bois no município.
O episódio se agravou no último fim de semana, quando 200 carcaças de bois mortos no naufrágio se desprenderam da barreira de contenção e se espalharam por praias turísticas da região.
— Essa imagem causou muito mais estresse social que o naufrágio; foi um extremo incômodo para a comunidade.
Após o incidente, moradores da região realizaram protestos no porto. Em nota, a Semas afirma que a paralisação é temporária e "visa prevenir qualquer tipo de acidente no local até que sejam providenciados os planos detalhados e a estratégia para descarte com segurança e ambientalmente correta das carcaças de gado, assim como a retirada do navio".
A medida praticamente interrompe a exportação de gado em pé no Brasil, já que o Pará responde por mais de 90% do que o Brasil envia para o mercado externo e o porto de Vila do Conde é a principal opção para o escoamento.
Na semana passada, o presidente da Abeg (Associação Brasileira dos Exportadores de Gado), Gil Reis, disse ao Broadcast que alternativas ao porto "são comercialmente inviáveis". Esta também é a posição do superintendente federal do Ministério da Agricultura no Pará, Josenir Nascimento, para quem as opções são "difíceis de serem operadas".
A Minerva Foods deve ser uma das grandes empresas prejudicadas com a situação, pois é líder neste mercado com a Kaiapós, a Boi Branco e a Agroexport. Juntas, as quatro empresas respondem por 98% dos embarques de gado vivo no Brasil.
Procurada pelo Broadcast, a Minerva ainda não se posicionou sobre possíveis perdas com a suspensão dos embarques.
Destinação dos animais
A CDP reservou parte da área portuária, distante do centro de Barcarena, para a destinação final dos bois mortos no naufrágio. O local já foi aprovado pela Semas e deve ser impermeabilizado para abrigar as carcaças. A secretaria informa ter entregue às empresas envolvidas uma notificação "com diretrizes específicas para que o aterramento seja feito de forma segura, com o menor impacto ambiental possível".
Mas este não era o plano inicial do comitê de crise, que inclui a CDP, empresas e autoridades municipais, estaduais e federais. Inicialmente, os gestores cogitavam incinerar as carcaças, porém a proposta foi abandonada após se verificar a baixa capacidade instalada no Estado para esta tarefa - apenas dois animais por dia poderiam ser incinerados.
Haveria uma alternativa, em Manaus, para dez carcaças por dia. Contudo, o volume também é pouco expressivo. Também se discutiu a possibilidade de usar um terreno da Semas como aterro sanitário, mas a proposta sofreu resistência da população, que protestou quando o despejo teve início e bloqueou o acesso à área.
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