Um ano após morte de Lázaro, moradores das cidades por onde ele passou ainda sentem medo
Caçada ao homem considerado responsável por assassinatos envolveu cerca de 300 agentes. Polícia investiga possíveis mandantes dos crimes
Cidades|Isabelle Amaral*
Um ano após a morte de Lázaro Barbosa, de 32 anos, a lembrança do matador ainda assombra as regiões rurais das cidades por onde ele passou no Centro-Oeste do país. “A gente não sabe quando outra pessoa completamente psicopata assim pode aparecer e simplesmente ameaçar e matar sua família. As vítimas mortas não eram familiares meus, mas eu moro aqui, as pessoas que eu amo estão aqui, eu tive medo por elas. O trauma vai ficar para sempre”, desabafou um homem que preferiu não ser identificado, morador de Ceilândia, no Distrito Federal, onde Lázaro foi acusado de matar uma família inteira.
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Suspeito de praticar ao menos oito assassinatos ao longo da vida, Lázaro passou a ser conhecido nacionalmente como "serial killer" após ser considerado responsável pela morte de um homem e os dois filhos dele, de 15 e 21 anos, em Ceilândia, no dia 9 de junho. A mulher da vítima e mãe dos rapazes foi encontrada morta três dias depois com sinais de estupro.
Após o ocorrido, foi registrada uma série de outros crimes como invasão de fazendas, ameaças, tiros em moradores, roubos, sequestros e mortes, tanto em regiões de Ceilândia quanto em cidades de Goiás, como Cocalzinho, Edilândia e, por fim, Águas Lindas de Goiás – onde Lázaro foi capturado e morto pela polícia no dia 28 de junho de 2021.
A sequência de crimes deixou um rastro de medo entre cidadãos que moram no entorno desses municípios, sensação que perdura até hoje. De acordo Fernando Fernandes, delegado de Ceilândia e deputado no Distrito Federal pelo Pros, além do medo, ainda há muitos rumores entre essas pessoas, principalmente as que moram nas áreas rurais, onde o "serial killer" conseguiu se esconder por tanto tempo. “É como se o fantasma do Lázaro ainda estivesse andando por aqui. Eles acreditam em um possível outro caso e buscam meios de se proteger”, disse em entrevista ao R7.
Fernandes, que esteve na linha de frente na força-tarefa para a captura do "serial killer", explicou que, desde que tudo aconteceu, fazendeiros têm solicitado registro de armas de fogo para viver, segundo eles, com segurança nesses locais. Entretanto, vale ressaltar que, das vezes em que Lázaro invadiu as casas, pelo menos em duas ele conseguiu roubar os armamentos dos proprietários.
Para encontrarem o suspeito, foragido por semanas, as polícias do Distrito Federal e de Goiás precisaram trabalhar juntas em uma força-tarefa, com o apoio, inclusive, da Força de Segurança Nacional. Tiveram ainda que lidar com a pressão de órgãos governamentais e da sociedade para que o acusado fosse detido rapidamente.
A comunicação entre as corporações e denúncias sobre o último paradeiro de Lázaro foram essenciais para localizá-lo. Porém, na época, a polícia também recebia ligações falsas de pessoas que diziam ter visto o suspeito, o que acabou atrapalhando as investigações.
Questionado sobre como aumentar a segurança entre os moradores, o delegado Fernando Fernandes disse que a polícia tem trabalhado nisso. “Desde o caso Lázaro houve um reforço no patrulhamento rural. Além disso, o Disk-Denúncia é essencial nesses casos. Quando o morador vir alguma pessoa suspeita andando pela região, é necessário que comunique a polícia imediatamente para que ela possa trabalhar antes que tragédias, como as feitas por Lázaro, ocorram”, afirmou.
Caso está em segredo de Justiça e ainda é investigado
Mesmo com a morte de Lázaro Barbosa, o caso ainda é investigado pela polícia e segue em segredo de Justiça. Segundo o delegado, o processo está em segredo para “não gerar mais especulações e não prejudicar as investigações com possíveis mandantes dos crimes e até participantes”.
O "serial killer" teve ajuda do fazendeiro Elmi Caetano, de 74 anos, e de um caseiro enquanto se escondia na região de Cocalzinho (GO). Os dois chegaram a ser presos e o caseiro afirmou que Lázaro até dormiu na fazenda. Segundo o boletim de ocorrência, o dono do local proibiu que os policiais entrassem na casa.
Em declaração à polícia, o funcionário do dono da fazenda admitiu que o patrão chamava Lázaro para almoçar e costumava deixar a porta aberta para ele entrar. Agora, as investigações também trabalham com possiblidades que não podem ser reveladas. Em março deste ano, Elmi sofreu um infarto na fazenda onde morava e morreu em um hospital de Brasília, segundo o advogado dele.
Captura e morte de Lázaro
Lázaro Barbosa foi morto com dezenas de disparos após ficar 20 dias foragido. Ele foi encontrado em uma área de mata em Águas Lindas de Goiás. As buscas mobilizaram centenas de policiais do Distrito Federal e de Goiás, helicópteros e mateiros que conheciam a região. Pistas como manchas de sangue e imagens de uma câmera de segurança apontaram o possível local do esconderijo do acusado. Ele foi baleado durante intenso tiroteio com a polícia.
Segundo o relato dos policiais militares, eles foram alvo de diversos disparos e não tiveram escolha a não ser o revide.
A captura foi comemorada por moradores da região que estavam amedrontados e tiveram a rotina alterada por causa das buscas e do temor de que o fugitivo invadisse fazendas. Após ser localizado e baleado, Lázaro foi levado para o Hospital Bom Jesus, no mesmo município, onde seu óbito foi atestado.
Durante as quase três semanas de buscas, Lázaro passou por diferentes zonas de mata. Armado, ele invadia fazendas para se alimentar e descansar e chegou a obrigar moradores a cozinhar para ele.
No dia da captura, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, informou nas redes sociais que Lázaro havia sido finalmente capturado. "Era questão de tempo até que a nossa polícia, a mais preparada do país, capturasse o assassino Lázaro Barbosa. Parabéns para as nossas forças de segurança. Goiás não é Disneylândia de bandido. Lázaro foi preso na região de Cocalzinho. Cumprimentar a todos aqueles que estão ali há vários dias trocando informações e chegando a esse resultado final”, escreveu.
O presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), também comentou a morte do homem. “O Brasil agradece! Menos um para amedrontar as famílias de bem”, escreveu no Twitter.
Crime e histórico de casos
Lázaro Barbosa de Souza, de 32 anos, ficou conhecido como "serial killer" e maníaco do Centro-Oeste após a chacina de uma família no Distrito Federal. O crime violento deixou mortos em casa o pai e dois filhos, enquanto a mãe, levada por Lázaro, foi torturada, estuprada e também assassinada – ele abandonou o corpo da vítima próximo a um córrego. Após o crime, fugiu para o município de Cocalzinho de Goiás (GO).
As buscas por Lázaro se iniciaram no dia 9 e duraram até 27 de junho de 2021. Durante a caça, a polícia encontrou esconderijos completos na mata. Diversos moradores da região afirmaram ter visto o suspeito. Uma força-tarefa com cerca de 300 policiais foi montada, com cães farejadores, câmera termal e especialistas.
Após 20 dias de perseguição, Lázaro foi capturado e morto por policiais, no dia 28 de junho de 2021, no interior de Goiás.
O primeiro delito de Lázaro registrado ocorreu, porém, em 2007, quando ele foi preso sob acusação de duplo homicídio em Barra dos Mendes, na Bahia. Ele fugiu pouco depois da prisão. Em 2009, foi preso no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, por estupro, roubo e porte ilegal de arma de fogo. Lá, psicólogos emitiram um laudo segundo o qual ele era "detentor de conduta agressiva e impulsiva, além de instabilidade emocional."
Desde então, Lázaro ampliava o histórico de delitos. Ele chegou a entrar em uma chácara de Ceilândia (DF) e obrigar todos os moradores a ficar nus, prender os homens em um quarto e coagir as mulheres a cozinhar para ele. Duas semanas depois, invadiu outra chácara na cidade e roubou os moradores. Foi acusado, entre outros crimes, da morte de um caseiro em Cocalzinho de Goiás e de um idoso em Santo Antônio do Descoberto.
Os crimes teriam prosseguido até a fatídica chacina da família Vidal, no início de junho de 2021, que chamou a atenção das autoridades e motivou o início das buscas, que culminou na morte de Lázaro.
* Com a colaboração de Joyce Ribeiro
* Estagiária sob supervisão de Fabíola Perez e Márcio Pinho