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Dólar acima dos R$ 3 afeta preço do pãozinho, viagens e até eletrônicos

Moeda norte-americana subiu 20% somente nos três primeiros meses de 2015

Economia|Alexandre Garcia, do R7

Dólar saltou quase R$ 1 em seis meses e afeta bolso do brasileiro
Dólar saltou quase R$ 1 em seis meses e afeta bolso do brasileiro

Diferentemente do que a maioria dos brasileiros pensa, a alta do dólar não prejudica somente os planos de quem deseja fazer uma viagem para o exterior. A cotação da moeda norte-americana tem impacto direto também no preço de produtos classificados como básicos e que fazem parte do dia a dia da população — do pãozinho francês até a TV da sua sala.

A escalada da moeda em relação ao real começou em setembro do ano passado. No dia 5 daquele mês, a divisa valia R$ 2,23. De lá pra cá, a moeda disparou quase R$ 1 e hoje custa R$ 3,12 — depois de quadro quedas seguidas. Somente nos três primeiros meses de 2015, o dólar se valorizou 20%.

O presidente da ABBA (Associação Brasileira dos Importadores e Exportadores de Bebidas e Alimentos), Adilson Carvalhal Junior, avalia que uma alta tão acentuada não era esperada e ressalta que o mês de março foi “totalmente atípico”.

— Para nós, foi um susto. O mercado não estava preparado com essa expectativa de que o dólar ia chegar nesse nível. Então, as vendas deram uma freada e o mercado também freou.


Smartphones

Com a valorização do dólar em relação ao real, os consumidores em busca de tablets e smartphones já encontram preços mais salgados. O presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), Humberto Barbato, afirma que os repasses “dependem da realidade de cada empresa”.


— Enquanto era possível, se segurou o aumento de preço, mas isso tem, evidentemente, um prazo. A partir de agora, que já existe uma estabilização da moeda acima dos R$ 3, os repasses estão sendo feitos.

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Barbato explica que os produtos eletrônicos que fazem parte do dia a dia da população têm componentes importados na maior parte da sua composição.

— Na ordem de 70% dos componentes de um smartphone têm origem no exterior, desde o display até o semicondutor, o chip, a memória e uma outra infinidade de peças. Isso acontece porque o Brasil não é fabricante de componentes.

Pãozinho

O vice-presidente do Sindipan (Sindicato das Indústrias da Panificação e Confeitaria de São Paulo), Carlos Elias Gonçalves Perregil, a alta do dólar afeta diretamente a panificação. Apesar de afirmar que as empresas têm segurado o repasse nos preços, ele acredita que o impacto da valorização da moeda norte-americana já chegou ao bolso dos consumidores.

— Enquanto havia especulação e estoque antigo, se segurou [os preços]. Agora não tem mais. Hoje acabou a especulação e a alta no valor do pão já é uma realidade.

De acordo com Perregil, a variação de preços dos pães tem relação com a utilização de muitos produtos importados para a composição das massas. O vice-presidente avalia que uma estabilidade da moda dos EUA traria uma maior tranquilidade para o setor.

— O ruim é que você compra hoje e no outro dia já está mais caro [...]. Se o dólar parar nos R$ 3,15 e se estabelecer nesse preço, o pão também fica parado e conseguimos ter um valor mais estável.

Alimentos e bebidas

Além do pãozinho, os alimentos importados e aqueles que têm em sua composição itens originados no exterior — tais como vinhos e peixes — já sofreram com a disparada da moeda norte-americana nos últimos meses. Carvalhal, da ABBA, no entanto, afirma que deve haver um repasse ainda maior no preço dos produtos.

— Os importadores subiram a tabela de preço entre 10% e 15% no começo do ano, esperando um dólar em torno de R$ 2,70 e R$ 2,90. Só que ninguém acreditava em uma alta tão agressiva em março.

Na avaliação do presidente, esse novo repasse no valor dos produtos ainda deve levar um tempo por dois motivos: o fato das vendas estarem muito fracas e as pessoas muito inseguras com o futuro da moeda.

Carvalhal cita ainda que trocar os produtos importados pelos nacionais similares tem um impacto pequeno no bolso do consumidor.

— De uma maneira geral, você tem uma minoria de produtos que podem ser substituídos por um item nacional, mas você tem também uma interferência do dólar na economia para produtos locais que é muito grande.

Viagens

Ainda que não seja o único setor afetado pelo encarecimento do dólar, o ramo de viagens para o exterior deve enfraquecer nos próximos meses. Para o vice-presidente da ABAV-SP (Associação Brasileira das Agências de Viagens de São Paulo), Edmar Bull, as preocupações econômicas dos turistas acabam deixando o setor em alerta.

— Não é uma preocupação, é uma cautela. A gente já sabia que este ano seria assim, mas a gente tem opção para todos os orçamentos.

Bull, no entanto, avalia que os turistas que estão indo rumo ao exterior com o dólar mais caro fecharam os pacotes antes da disparada da moeda. Ele diz que uma mudança de hábito poderia amenizar o impacto da alta da moeda no bolso dos brasileiros.

— O brasileiro não viaja, ele muda. O negócio dele é compras. Então, ele tem que melhorar seu orçamento para poder viajar. Tem promoção de hotel, promoção de pacote, promoção de aéreas. 

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