Dólar fecha no menor valor desde agosto após BC sinalizar juro alto por mais tempo
A moeda americana à vista fechou em queda de 0,35%, a R$ 5,0457 na venda, mas chegou a a ficar abaixo dos R$ 5
Economia|Do R7
O dólar se recuperou depois de, mais cedo, ter sido negociado abaixo do nível de R$ 5 pela primeira vez em quase oito meses. Mas ainda fechou no menor patamar desde agosto nesta quinta-feira (2), após uma nova desaceleração no ritmo de aperto monetário nos Estados Unidos e da sinalização de juros elevados por mais tempo no Brasil.
A moeda americana à vista fechou em queda de 0,35%, a R$ 5,0457 na venda — patamar de encerramento mais baixo desde 29 de agosto de 2022 (R$ 5,0330).
Mais cedo, o dólar caiu até 2,42%, tendo baixado para R$ 4,9408, mas se recuperou ao longo da tarde — o que Jefferson Rugik, presidente-executivo da Correparti Corretora, atribuiu ao avanço da divisa americana no exterior e a um movimento por parte de importadores, que aproveitaram o "barateamento" da moeda para ir às compras.
Nesta tarde, o índice do dólar contra uma cesta de pares fortes subia mais de 0,6%, no que agentes do mercado chamaram de ajuste depois de o indicador ter caído para seu menor patamar em nove meses, na véspera.
O tombo recente do dólar tanto no exterior quando no mercado local foi desencadeado em parte pela decisão do Federal Reserve, na véspera, de elevar sua meta de taxa de juros em 0,25 ponto percentual — uma desaceleração em relação a aumentos anteriores de 0,5 e até 0,75 ponto.
"Nos Estados Unidos há um otimismo em relação ao cenário inflacionário do país, enquanto o Federal Reserve vem reduzindo paulatinamente o ritmo de sua alta de juros... A ação do banco central mostra uma moderação", disse Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
Ao mesmo tempo, destacou Mattos, o Banco Central do Brasil decidiu na quarta-feira (1º) manter a Selic em 13,75% ao ano e indicou que as taxas permanecerão elevadas por mais tempo, ressaltando que a incerteza fiscal e a deterioração nas expectativas de inflação do mercado elevam o custo para atingir as metas.
"Com os juros elevados por mais tempo, você acaba ancorando mais a moeda brasileira. O diferencial de juros não é a única variável que afeta o desempenho da moeda, mas é um deles, e portanto contribui para um dólar estável ou em queda", avaliou Roberto Padovani, economista-chefe do Banco BV.
Quanto maior o diferencial entre os custos dos empréstimos domésticos e internacionais, mais atraente fica o real para uso em estratégias de "carry trade", que consistem na contratação de empréstimo em país de juro baixo e na aplicação desses recursos em uma praça mais rentável.
Para além do fator juro, alguns investidores apontaram o resultado das eleições para as lideranças do Congresso como um suporte adicional ao real, visto que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu o que queria ao ver reeleitos Arthur Lira (PP-AL) como presidente da Câmara e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) como presidente do Senado, ainda que a oposição bolsonarista tenha demonstrado relativa força política entre os senadores.
"Câmara e Senado consolidaram condições de governabilidade melhores, isso é superpositivo para a questão da atividade", disse Bruno Mori, planejador financeiro pela Planejar, que também citou uma reabertura econômica na China como mais um impulso para a divisa doméstica e outras moedas de países emergentes.
Com o real nadando a favor da correnteza, a tendência para o mês de fevereiro é que o dólar rompa definitivamente a barreira dos R$ 5 para baixo, acrescentou o especialista.
Até agora em 2023, a divisa americana caiu 4,4% frente à brasileira. No acumulado de 2022, o dólar recuou 5,30% em relação ao real.