Até o fim deste ano, os cartões de crédito deverão transferir cerca de R$ 2,5 bilhões aos clientes por meio dos programas de recompensa, segundo a Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços). Com um número crescente de pessoas aderindo a esses benefícios, aumenta também a necessidade de saber aproveitar melhor o que o banco tem a oferecer.
A coordenadora da Proteste (Associação de Consumidores), Maria Inês Dolci, faz um alerta.
— Se não souber usar esse programa, ele vai trazer mais prejuízos do que benefícios.
O objetivo principal de quem junta pontos quase sempre é trocá-los por passagens aéreas. Mas, para isso, o ideal é saber das regras. Por isso, o R7 avaliou os regulamentos de seis bancos e o que cada um deles oferece (veja quadro comparativo abaixo).
Após gasto recorde no cartão de crédito, cresce número de brasileiros que viajam com milhas
Validade dos pontos
A maioria dos cartões mantém os pontos por, no máximo, 24 meses, contados a partir da data em que foram lançados. É recomendável que o cliente calcule se a média de gasto mensal dele vai ser suficiente para juntar os pontos que precisa nesse período. Uma vez expirados, não há como resgatá-los.
Transferência para outros programas
Uma forma de prolongar a vida útil dos pontos é transferi-los para programas de milhagem de companhias aéreas, por exemplo. É possível que seja exigido um mínimo de pontos para a transferência.
Mas atenção, uma vez que isso seja feito, esses pontos terão que ser utilizados naquele programa, ou vão expirar também. Além disso, o cliente tem que estar cadastrado na companhia aérea desejada. As milhas não são creditadas imediatamente. Pode levar mais de uma semana para que elas estejam disponíveis.
Resgate
Alguns bancos têm canais específicos para usar os pontos, sem que sejam transferidos para companhias aéreas. É possível comprar passagens e hotéis nos sites dedicados aos programas de recompensa. Mas atenção, não é possível cancelar, alterar ou pedir reembolso. Todas essas regras estão no contrato de cada cartão. Sempre os pontos mais antigos vão ser debitados a cada troca ou transferência.
Os catálogos online também oferecem produtos, como eletrônicos, eletrodomésticos, perfumes. Compare se os pontos usados para adquirir algum desses bens valem o preço dele no mercado. O R7 encontrou um forno elétrico por 12.942 pontos. Para conseguir essa soma, o cliente teria que ter gasto quase R$ 40 mil no cartão. Porém, o mesmo produto está à venda em uma loja por R$ 149.
Como juntar
As compras à vista são creditadas de uma só vez e as parceladas conforme o pagamento de cada uma. Nem todos os bancos pontuam o pagamento de boletos. Os que permitem, normalmente, têm restrições. Os cartões adicionais juntam pontos na conta do titular, que é o único autorizado a movimentar. A Proteste criou uma calculadora que permite ao consumidor simular quanto ele tem que gastar no cartão em um determinado período para conseguir os pontos que deseja.
A maioria dos cartões utiliza dólares americanos como mecânica de acúmulo. Ou seja, uma fatura de R$ 3.000 será convertida para dólares (cada banco tem uma cotação) e os pontos serão calculados em cima desse valor.
Cancelamento do cartão
Antes de cancelar algum cartão, olhe o saldo de pontos e, se for de seu interesse, transfira para alguma companhia aérea. Depois que o cancelamento for concluído, não será mais possível ter acesso aos benefícios do programa de recompensa.
Outras vantagens
Confira com o seu banco quais benefícios além dos pontos são oferecidos. Muitos deles possuem convênios e dão descontos em lojas, restaurantes, estacionamentos, shows e aluguel de carros, por exemplo. Alguns deles também dão direito a seguro viagem e assistência residencial.
Fatura em atraso
Não pagar a fatura em dia tem impacto no programa de recompensas. Os bancos costumam bloquear os pontos até que o débito seja quitado. Se a dívida passar de 60 dias, o cliente pode perder tudo o que acumulou, sem chance de recuperar.
Responsabilidade
O cartão de crédito é uma ferramenta ótima para o dia a dia. Mas é preciso ter em mente que, no Brasil, os juros cobrados por atrasos no pagamento da fatura estão entre os mais altos do mundo (258,68% ao ano em 2014). Para o professor Escola de Administração de Empresas da FGV-SP Edvaldo Alves, os gastos no cartão não devem exceder 30% da renda familiar.
— Se o dono do cartão começa a estourar o limite, ser financiado pelo cartão de crédito, aí é um risco para as finanças e para o orçamento doméstico. O cartão de crédito não é uma fonte de renda, é só uma antecipação e um meio prático de fazer pagamento.
Na segunda-feira (4), o SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) divulgou um levantamento que mostra que mais da metade dos brasileiros quer diminuir as compras parceladas por causa das dificuldades na economia. O professor concorda.
— Apesar de a inflação ainda estar sob controle, muitas pessoas não conseguem lidar com essa variável. E aí, nessas horas, assumir muitas dívidas com o cartão é um risco.