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Educação

Bloqueio cultural atrapalha desempenho dos brasileiros em matemática

Para especialistas, aprendizado desta disciplina esbarra na falta de contextualização 

Educação|Maria Carolina de Ré, do R7

País ficou em 38º lugar numa lista que comparou dados de alunos de 44 países
País ficou em 38º lugar numa lista que comparou dados de alunos de 44 países

Por que os estudantes brasileiros que estão inseridos em uma cultura que valoriza o famoso "jeitinho", ou seja, a capacidade de improvisar e resolver problemas com criatividade, têm tanta dificuldade em solucionar testes de raciocínio matemático?

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Segundo especialistas consultados pelo R7, um bloqueio cultural, que relaciona a matemática com conceitos complexos, somado à dificuldade dos professores e instituições de ensino de mostrarem que esta área do conhecimento está presente em quase tudo o que fazemos, travam o aprendizado.

Maurício Mühlfarth, pós-graduado em educação matemática pela Unicamp e professor do Colégio Santa Catarina, diz que os brasileiros são criativos e inteligentes, mas ainda têm problemas para reconhecer a importância da lógica. 


— Estamos acostumados a ouvir que esta disciplina requer grande dedicação e memorização de coisas chatas. A maioria dos alunos não se prepara adequadamente para interpretar dados ou descobrir como tratar informações apresentadas em um problema matemático porque faz, de antemão, uma associação negativa deste conhecimento. 

Ele indica que alguns materiais didáticos também travam o interesse.


— Vejo uma mudança positiva no mercado editorial, mas ainda existem livros e apostilas que favorecem uma abordagem pouco produtiva da matemática. Em geral, estes materiais apresentam o conteúdo de uma forma muito técnica, sem contextualizar nem mostrar a influência da disciplina no cotidiano.

Rankings e pesquisas 


Um levantamento divulgado recentemente pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) indicou que os brasileiros não conseguem solucionar testes rápidos de lógica matemática.

O País ficou em 38º lugar numa lista que comparou notas de estudantes de 44 nações. A pesquisa dividiu a avaliação dos testes em seis categorias e determinou que 47,3% do total de alunos do Brasil obteve classificação nos dois piores níveis. O ranking da OCDE usou dados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) de 85 mil estudantes com 15 anos, avaliados em 2012.

O Fórum Econômico Mundial divulgou recentemente um relatório global (em inglês), no qual classifica a qualidade do sistema educacional brasileiro na 121ª posição numa lista com 148 países. No caso específico do ensino de matemática e ciências, ocupamos o 136º lugar.

Não são apenas os estudos comparativos internacionais que revelam problemas. Uma análise apresentada em março de 2013 pelo movimento Todos pela Educação, com informações retiradas da última Prova Brasil, aponta que quase 90% dos estudantes do País terminaram o ensino médio sem saber matemática.

Alejandra Meraz Velasco, gerente da área técnica Todos pela Educação, identifica que isso acontece porque as matérias de exatas têm um grande déficit de professores, que afeta a qualidade do ensino. 

— A licenciatura não é uma carreira muito atraente. No Brasil, professores recebem salários que, na média, são 50% menores do que os vencimentos pagos para outros profissionais com ensino superior. 

A gerente lembra que docentes de matemática também sofrem mais do que os de outras disciplinas na hora de fazer uma ponte entre a teoria e a prática. Mesmo assim, ela aponta mudanças curriculares positivas.

— Hoje o governo e as escolas recomendam que professores façam as crianças entenderem o que é a operação antes de ensinar como fazê-la. Ou seja, antes de mostrar a tabuada eles ensinam o conceito da multiplicação. 

Olimpíadas e modelos de ensino 

Mühlfarth, do colégio Santa Catarina, acredita que atividades como as olimpíadas matemáticas poderiam incentivar o aprendizado da disciplina. 

— Em Cingapura, China, Japão e Coreia do Sul, que lideraram o último ranking da OCDE, as olimpíadas científicas mobilizam um número enorme de participantes. O Brasil também promove estes eventos, mas a participação é muito menor. 

A especialista da Todos pela Educação tem uma opinião diferente. Para ela, as olimpíadas matemáticas tendem a buscar e motivar mais os alunos prodígios, ou seja, uma minoria que representa a "excelência". 

— Poucos colégios, sejam eles públicos ou particulares, conseguiram envolver todos os estudantes neste tipo de atividade. As competições têm aspectos positivos, mas são incapazes de transpor barreiras que dificultam o aprendizado da matemática. 

Alejandra citou que a adoção de conceitos multidisciplinares como os usados no sistema de educação da Finlândia, ao invés dos concursos e competições, podem gerar resultados melhores.

— Na Finlândia [que ocupa o 10º lugar no ranking da OCDE], é difícil identificar os campos de conhecimento trabalhados durante as aulas. As crianças aprendem usando um modelo de projeto, no qual o conteúdo de diversas disciplinas é ensinado de forma integrada. Este modelo pode aumentar a proficiência em matemática.

Finalizando a análise, tanto Alejandra quanto Mühlfarth concordam que não existe uma fórmula mágica para melhorar a aprendizagem. Mas, segundo eles, dar significado ao conhecimento é o primeiro passo.

— Os estudantes precisam entender que o conceito passado na sala de aula tem um uso real. Professores devem mostrar que uma equação não é só uma fórmula que aprendemos na escola, mas algo aplicado em diversas atividades do nosso dia a dia, conclui Mühlfarth.

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