Currículo nacional precisa de mais tecnologia e direitos humanos dizem especialistas
Profissionais da área levantam falhas; há até quem ache que a base nacional é desnecessária
Educação|Ana Ignacio, do R7
Apesar dos avanços das discussões sobre a criação de uma Base Nacional Comum no Brasil, especialistas da área ainda apontam falhas na construção do texto e alguns até colocam em dúvida a necessidade de existir uma base única.
Para Daniel Cara, coordenador-geral da campanha nacional pelo direito a educação, o texto ainda precisa passar por adequações.
— Muita coisa falta, mas ainda está em construção. Nos textos que estão em discussão, creio que há várias ausências como a questão das tecnologias. A base não prevê o uso de tecnologias como um meio importante para a construção do conhecimento; falta também um trabalho dedicado a direitos humanos, o texto de história é preciso ser melhorado, a parte de língua portuguesa precisa ser melhorada, mas não dá para julgar o que ainda está em andamento.
Para Guiomar Namo de Mello, educadora e membro do Conselho Estadual de Educação, a criação da base nacional é importante, mas é necessário tempo para discussão de todas as particularidades do projeto, o que ela acredita que não ocorreu no caso do Brasil.
— Precisaríamos de mais tempo. É importante ter a base nacional comum. O MEC assumir essa bandeira é muito bom, mas tem que entender que não vai ser de um dia para o outro. A base tem que ter coerência porque estamos falando de 12, 13 anos de vida escolar, então o que aprende no primeiro ano tem que ser importante para os demais.
Para ela, esse encadeamento entre um ano e outro ainda está falho.
— Tem problemas de coerência, de progressão. Um tipo de conteúdo que aparece na 4ª série e depois só volta na 7ª, por exemplo. Estamos falando de muitos conteúdos e ninguém está pedindo que saia pronto. O que eu acho é que não poderia ter um prazo tão pequeno.
Precisamos de uma base?
Paralela à discussão dos conteúdos e da forma da base, há ainda um debate sobre a necessidade de um currículo único. Para Miguel González Arroyo, professor titular emérito da Faculdade de Educação da UFMG, o Brasil não precisa de uma base.
— Acho que não precisa porque nossa realidade, nossa nação é tão diversa que pretender uma base nacional já vai contra o reconhecimento dessa diversidade. Umas das funções da escola é trabalhar a cultura, mas nós temos uma cultua única nacional comum? Não temos. Então que base nacional comum vai dar conta de uma história tão intensa?
Escolas estaduais de SP têm horário reduzido e pegam pais de surpresa
Pais, professores, diretores e alunos temem fechamento de mais de cem escolas em SP
Para Arroyo, criar uma BNC seria uma forma de limitar o conhecimento e o que é ensinado nas escolas.
— A base nacional pensa que tem que melhorar a educação básica, mas a forma de melhorar é impondo uma única direção? A questão não é o conteúdo da base, é o que significa impor uma única base singular e comum, nacional diante dessa pluralidade de experiências.
Para Daniel Cara, a BNC é importante, mas é apenas um primeiro passo.
— É importante ter como um ponto de partida sobre aquilo que todos os alunos devem ter em comum. O problema é que ela tem que ser encarada dessa forma, como ponto de partida.
Já César Callegari, membro do Conselho Nacional de Educação e diretor da faculdade Sesi de Educação de São Paulo, defende a existência de uma BNC.
— A elaboração da base considero essencial para a melhoria da educação básica brasileira, porque ela define com clareza quais são os direitos e objetivos de aprendizagem de quem frequenta as escolas brasileiras.
Callegari declara ainda que a BNC não exclui conteúdo ou particularidades culturais.
— Tem muita gente que é contra a existência da base, que acha que é autoritária, que não leva a diversidade das crianças brasileiras em conta e eu penso exatamente o contrário. Independente da diversidade, é direito que todos estejam alfabetizados, por exemplo. Temos que defender essa base como um princípio do direito à educação.
Assine o R7 Play e assista à programação da Record onde e quando quiser