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Educação

Meu filho é um gênio: saiba como é a vida das mães de superdotados

Mulheres contam como é lidar com a inteligência acima da média de seus filhos 

Educação|Mariana Queen Nwabasili, do R7

Cláudia criou o blog Mães de Crianças Superdotadas e um grupo que leva o mesmo nome em uma rede social
Cláudia criou o blog Mães de Crianças Superdotadas e um grupo que leva o mesmo nome em uma rede social

Aos dois anos de idade, o filho mais novo da advogada e pesquisadora Cláudia Hakim, hoje com dez anos, ligava e desligava o computador e sabia encontrar o discador da internet na tela para acessar a ferramenta de seu interesse: o Google Earth.

A leitura também veio precocemente. Seguindo a mesma linha, a irmã do garoto, hoje com 13 anos, aprendeu a ler e a escrever aos quatro.

Ao invés de reprimir os interesses dos pequenos, Cláudia os incentivou da melhor maneira: brincando.

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― Alguns pais podem achar que uma criança curiosa não deve mexer em computador, mas eu encarava aquilo de um jeito diferente e deixava as situações acontecerem para ver até onde meus filhos iam. Ficávamos brincando em casa com jogos que tinham letras como peças para formar palavras. Assim, foi possível direcionar e dar espaço para as facilidades e interesses deles.

Foi justamente por ser mãe de duas crianças superdotadas que a advogada decidiu se especializar para garantir que estes jovens não tivessem seu processo de desenvolvimento interrompido.


Cláudia criou o blog Mães de Crianças Superdotadas e um grupo que leva o mesmo nome numa rede social. Ela garante que, por meio da página na internet, lançada em 2010, ela informa pais e mães sobre problemas e soluções relativos ao aprendizado dos pequenos com "alta habilidade", termo usado pelo MEC (Ministério da Educação) para definir superdotados.

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— Percebo que 90% de participantes do grupo [que conta com mais de 2.000 membros] são mães. Elas são mais participativas porque sofrem mais com a dificuldade dos filhos de se adaptarem quando não estão recebendo educação e os estímulos adequados, por isso buscam ajuda. Alguns pais também são participativos, mas são poucos.

Alessandra Benati e seu filho Adriel
Alessandra Benati e seu filho Adriel

De acordo com o ConBraSD (Conselho Brasileiro de Superdotação), existem cerca de 8 milhões de superdotados no Brasil. O número equivale a 5% da população do País. 

Alessandra Benati, professora de história em Belo Horizonte (MG) e educadora especializada em ensino para crianças com altas habilidades pela Universidade Federal de Lavras, não teve dificuldade para acelerar o aprendizado do filho superdotado, Adriel, de 12 anos. Porém, ela passou por um processo semelhante ao de Cláudia no que diz respeito ao interesse pelo tema.

Aos dois anos de idade, seu filho Adriel já sabia falar nomes de diferentes cores, formas, números e letras. Aos quatro, começou a ler. Os pais precisaram procurar ajuda de psicólogos para entender a necessidade especial do filho, pois não encontraram respaldo na escola. Decidiram adiantá-lo de ano.

Hoje, além de professora, Alessandra é consultora de escolas e de pais interessados em informações sobre educação voltada para crianças superdotadas.

Para ela, diferentes nomenclaturas e diagnósticos dificultam a inclusão de crianças com altas habilidades no AEE (Atendimento Educacional Especializado), que oferece apoio aos alunos com necessidades especiais. O AEE também fornece recursos multifuncionais em sala de aula de escolas públicas ou outros espaços de maneira gratuita.

― A visão comum de que crianças com altas habilidades são uma exceção acaba por contribuir para que milhões de jovens e adolescentes com muita capacidade se tornem invisíveis aos nossos olhos.

Já Thaise Fernanda Anunciação, enfermeira que deixou a profissão para criar seus quatro filhos, conta que teve dificuldade e precisou de apoio para facilitar o desenvolvimento de um deles, que é superdotado. Quando tinha quatro anos de idade e estava na educação infantil, Igor, hoje com sete anos, fazia rascunhos do mapa mundi nas aulas de desenho livre.

Thaise Fernanda Anunciação com seus quatro filhos (da esquerda para a direita): Melissa, Julia, Ruan e Igor
Thaise Fernanda Anunciação com seus quatro filhos (da esquerda para a direita): Melissa, Julia, Ruan e Igor

Na mesma época, o garoto também tinha costume de contar números com mais de três algarismos, recitar sequências de números ordinais, falar o nome das capitais do Brasil e de países da América Latina, além de andar com um dicionário da família embaixo do braço. Nesta idade, ele já estava alfabetizado, mas não podia ler na escola.

― Ele voltava cabisbaixo para casa da aula, porque a professora não o deixava ler na escola, justamente porque ele estava adiantado.

Com o tempo, Thaise percebeu que algumas professoras “acham que as mães de superdotados são loucas” porque consideram que seus filhos têm alguma habilidade muito desenvolvida para a idade deles. Algumas escolas se negam a trabalhar com isso.

Cláudia concorda e avalia que, “no Brasil, a iniciativa de diagnosticar superdotados vinda da escola praticamente não existe; na maioria das vezes a identificação e a preocupação com ela parte da mãe ou do pai.”

No processo de diagnóstico da superdotação de Igor, Thaise teve “muita sorte” porque foi auxiliada por funcionários da escola que seu filho frequentava. A coordenadora e a diretora da creche de Igor indicaram a ela que procurasse uma psicóloga para aplicar testes que avaliasse as habilidades do menino. Demorou alguns anos, mas a mãe seguiu o conselho.

Com os resultados dos testes e relatórios de professores sobre a maturidade de Igor, este ano, Thaise conseguiu acelerar o garoto na escola. Igor pulou o 2º ano do ensino básico e começou, em abril, a assistir aulas no 3º ano.

Thaise não encontrou dificuldades no caminho para adiantar o filho um ano na escola, mas destaca que a boa vontade pontual da professora dele na EMEF Antônio Carlos de Abreu, em São Paulo, fez com que as coisas não ficassem piores.

― Desde o primeiro ano, na medida do possível, a professora dava conteúdos especiais para o Igor desenvolver suas habilidades sem que fosse necessário ele perder o convívio social com as crianças da sua turma e idade. 

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