Para setor privado, governo não conseguirá cumprir meta de aumentar jovens no ensino superior
Atualmente, 17% dos jovens brasileiros cursam ensino superior; objetivo é aumentar para 33%
Educação|Do R7
O governo federal pretende aumentar o número de jovens, com idades entre 18 e 24 anos, nas universidades do País. A Lei do Plano Nacional de Educação prevê que, em 10 anos, a meta a ser alcançada é de 33%. Atualmente, a taxa está em 17%. No entanto, a maioria dos estudantes brasileiros e o setor de educação privado duvidam desta meta.
A pesquisa A visão dos jovens brasileiros sobre os programas sociais do MEC - A importância do Fies, ProUni e Pronatec, encomendada pela ABMES (Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior), em parceria com o Instituto MDA, revelou que 54,2% dos entrevistados não acreditam que o País alcançará o objetivo, diante de 41,1% que responderam sim.
As entrevistas foram feitas com 1.000 pessoas, de 18 a 30 anos, entre os dias 6 e 10 de junho deste ano, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte, Manaus, Recife, Belém e Florianópolis. Questionados se pretendem fazer faculdade nos próximos três anos, 78,9% responderam que sim e 1,7%, talvez. Ou seja, 81%. O percentual foi usado como base para as demais questões.
Em relação aos programas sociais para o nível superior, a maioria respondeu que pretende utilizar o Pronatec (49,4%), Prouni (57,9%) e Fies (50,3%), caso não estudem em universidades públicas e são favoráveis ao aumento no número de vagas do FIES (90,2%) e do Prouni (91,9%). Em entrevista coletiva realizada na quarta-feira (20), o diretor presidente da ABMES, Janquiê Diniz, afirmou que o cenário é bastante pessimista, principalmente por causa da questão financeira.
— A maioria dos alunos que estudam em instituições privadas trabalha e estuda. Já nas públicas, entra mais quem pode pagar. Caso o aluno não consiga pagar a mensalidade, ele fica sem estudar.
Meta possível?
Segundo a associação, o governo federal apresentou proposta que pode diminuir os investimentos em educação. 75% dos jovens responderam ser contra esta medida e concordam que o poder público tem que implementar ações para que mais brasileiros obtenham o diploma de nível superior (96,4%). Diniz enfatizou que o jovem brasileiro tem vontade de estudar, mas não o faz por falta de condição financeira, principalmente.
— O jovem não está estudando porque não tem acesso. Se não entra na [faculdade] pública, não consegue a nota suficiente para o Prouni e não consegue o financiamento. Aí, ele vai trabalhar para ganhar um salário qualquer e ainda pode ficar sem emprego. Então, como ele vai estudar?
O diretor executivo da associação, Sólon Caldas, explicou a dificuldade de se atingir os planos do governo.
— Se temos 17% [de jovens estudando] e precisamos chegar a 33%, nós estamos falando de mais de 100%. Isso dá 10% ao ano [de crescimento]. Quando estávamos a todo vapor, com 720 mil contratos do Fies, chegamos a 3,5%. O que o Brasil vai fazer para podermos chegar a 33%? Esquece. Nem de longe vamos chegar.
Ainda segundo a associação, o País precisa de educação para poder se desenvolver.
— Na Coreia do Sul, por exemplo, de dez estudantes, nove chegam à universidade porque se investiu em educação. No Brasil, de dez que chegam no ensino básico, que é sem qualidade, apenas 1,7% entra na faculdade.
Lucro
Para algumas instituições privadas, o Fies não é mais vantajoso devido às novas mudanças que diminuiram o lucro do setor. De acordo com a associação, as universidades dão descontos nas mensalidades: 5% já previsto no ato da assinatura do contrato; 6% de FGEDUC (Fundo de Garantia de Operações de Crédito Educativo), e 15% se o aluno paga antes do vencimento, entre outros, informou Diniz.
— [Com todos os descontos], tem instituição que tirando apenas 10% de lucro porque, há seis anos, não se cobrava nada. Por isso, tem faculdade que pensa em sair do Fies.
Ainda segundo Diniz, algumas instituições em cidades pequenas chegam a ter 70% de alunos inscritos no programa.
— Se não tem Fies, o aluno não consegue estudar. Aí, a conta não fecha. É preciso criar um programa sustentável, com parceria de setores privados, como bancos, e públicos.
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