A roupa de João Doria (PSDB) no debate dos candidatos a prefeito de São Paulo, na noite de segunda-feira (22), deu muito o que falar nas redes sociais. Muita gente questionou o fato de o empresário ter deixado para trás o terno e a gravata e adotar um look “despojado”, contrastando com a roupa dos outros três homens que participaram.
Não é de hoje que Doria tem tentado tirar o estigma de milionário. Na semana passada, começou a campanha nas ruas, comeu pastel de feira e tomou café com leite. Passou a aparecer de calça jeans, tênis, jaqueta esporte e camisa com a manga dobrada.
Mas não foi o ar descontraído dele que deixou muita gente confusa no debate e sim a forma como ele se vestiu. Doria vestia uma calça escura, uma camisa branca, sem falar no indefectível cashmere, que já é sua marca registrada, e uma jaqueta da Ralph Lauren. Junto com isso, um tênis claro.
Na opinião do professor Marcio Banfi, coordenador do curso de pós-graduação styling da FASM (Faculdade Santa Marcelina), o problema de Doria não foi a ausência do terno e da gravata.
— É uma típica roupa de um cara mauricinho, que é o que ele é, um cara rico. [...] Eu acho que é um pouco forçadinha. Seria mais bonito, por exemplo, se ele tivesse só de camisa e gravata, ou até uma camisa jeans. Teriam outras formas para tornar a coisa mais descolada.
"Abandonei terno e gravata", diz João Dória sobre 'look' despojado em debate
Já a professora do curso de moda da FIAM-FAAM Luciana Andrejewski avalia que houve um “erro fashion” na escolha da roupa do candidato.
— A ideia de ter uma roupa diferente foi realmente de destoar, mas ele destoou de uma forma negativa. Eu não gostei. O tênis branco foi demais. [...] Ele continuava mauricinho. Até as fotos que circulam pela internet de ele comendo pastel destoam dessa postura popular. Quem conhece ele, o programa que ele tem, ele nunca foi esse popular.
O consultor de moda Mario Mendes diz que o candidato do PSDB está nitidamente inspirado na escola Obama de se vestir. O presidente dos Estados Unidos abandonou por muitas vezes o visual formal. Mendes avalia ainda que João Doria é o que se pode chamar de almofadinha, o rapaz bem-nascido que está sempre engomadinho, aquele que a mãe não deixa brincar para não sujar a roupa.
— Como dizia minha avó, é do tipo que veste o cabide com a roupa.
O consultor diz acreditar que Doria quer passar essa imagem de pessoa eficiente, empresarial, do big business, mas que é um cara legal, que não precisa desse uniforme de político para dirigir uma cidade.
— Mas que ninguém se engane. A roupa dele é mais cara do que qualquer um, inclusive a da Marta.
Para o professor da FASM, seja qual for o candidato, ele precisa pensar se a roupa com a qual está se apresentando é de fato aquilo que o público espera dele. Vale lembrar que em 2014, o então candidato do PV à Presidência, Eduardo Jorge, compareceu aos debates apenas de camisa. Porém, isso não chamou tanto atenção, uma vez que estava adequado com o perfil dele.
— Não adianta ele [Doria] tentar uma imagem que ele não tem. Ou ele chama alguém que vai reestudar todo o visual dele e aí ele encarna esse novo personagem que seja um pouco mais descolado ou ele tem que seguir realmente o que ele é. O que ele é: um cara meio caretinha, aquela coisa da camiseta polo, do suéter...
O debate televisivo é talvez o momento em que o eleitor veja o candidato por mais tempo. São cerca de duas horas de aparição. A forma como se veste impacta em como o político é visto por quem está do outro lado da tela, segundo Banfi.
— A gente está um pouco acostumado com as coisas clássicas. Eu acho que quando mais clássica a pessoa estiver, ela tem uma entrada mais fácil no eleitor. No caso da mulher, ela tem um pouco mais de liberdade. Mas o homem, se aparece com uma camisa azul turquesa, ele pode assustar. O ideal é ir para o mais sóbrio. Não precisa necessariamente usar uma gravata ou um terno.
*Colaborou: Deborah Bresser, editora do R7