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Alta tecnologia transforma pilotos em passageiros, dizem especialistas sobre avião que caiu na França

Avião com 150 pessoas se acidentou nos Alpes franceses, matando todos que estavam a bordo

Internacional|Fernando Mellis, do R7

Airbus não utiliza os convencionais manches, apenas uma espécie de joystick e sistemas automatizados de voo
Airbus não utiliza os convencionais manches, apenas uma espécie de joystick e sistemas automatizados de voo Airbus não utiliza os convencionais manches, apenas uma espécie de joystick e sistemas automatizados de voo

Um avião tão moderno e computadorizado que é capaz de agir por conta própria e não obedecer aos comandantes. É assim que alguns pilotos e especialistas em aviação descrevem o Airbus A320, modelo que se acidentou nos Alpes franceses nesta terça-feira (24). O voo 9525 da Germanwings, de Barcelona (Espanha) para Düsseldorf (Alemanha), levava 150 pessoas — incluindo seis tripulantes. Ninguém sobreviveu.

Essa aeronave possui um sistema chamado fly-by-wire, conforme explica o piloto e diretor de segurança de voo do SNA (Sindicato Nacional dos Aeronautas), Mateus Ghisleni.

— Esse sistema consiste em computadores que substituem ligações mecânicas, cabos ou qualquer outro material que ligue os conjuntos de controle de voo.

Ele acrescenta que a tecnologia faz parte da filosofia da Airbus, mas também passou a ser utilizada por outros fabricantes como a Boeing e a Embraer.

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— Os computadores são programados para não permitir alguns erros que os pilotos pudessem cometer, de comandos indevidos, de tentar pôr a aeronave em uma situação que ela não conseguiria voar. Por outro lado, em algumas vezes, tem que colocar a aeronave nessa condição e ela não aceita esse tipo de comando porque foi programada para não aceitar. Esse sistema torna o voo mais seguro, mas em determinados casos pode limitar a atuação do piloto.

Acidentes com Airbus A320 já deixaram quase mil mortos

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Já o consultor aeronáutico e piloto Durval Fantozzi Filho é mais crítico em relação ao sistema.

— A Airbus, com bases nas pesquisas que apontam que em 95% dos acidentes existe falha dos pilotos, decidiu reduzir a interferência deles no voo. Houve uma informatização excessiva das aeronaves. Aí quando tem uma pane em um computador, o piloto vira passageiro, não pode fazer nada.

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O comandante Mário Rocco Sobrinho tem mais de 40 anos de experiência em aviação e sugere que uma das possibilidades é que o A320 tenha sofrido algum tipo de perda de controles.

— É uma tecnologia nova, tem alguns problemas às vezes. Dependendo de qual for a pane, o avião não responde mais. Isso já aconteceu.

A320 é seguro? 

Qualquer acidente aéreo mexe com o inconsciente das pessoas, principalmente de quem costuma voar com frequência. E aí, vem aquela pergunta: Esse avião de que tanto se falou nesta terça-feira é seguro?

Os especialistas garantem que sim. O A320 é o segundo modelo mais vendido e utilizado em todo o mundo, atrás do Boeing 737. Por consequência, pode haver mais acidentes envolvendo esse tipo de avião.

França retoma buscas por destroços do avião que caiu nos Alpes

Até então, a última tragédia com um A320 havia sido em 28 de dezembro de 2014. Um voo da AirAsia caiu no mar de Java, na Indonésia. Os 162 passageiros morreram. As causas desse acidente ainda estão sendo apuradas.

No Brasil, um avião igual, operado pela TAM, passou direto na pista de Congonhas, deixando 199 mortos, em 2007. As investigações indicaram falha dos pilotos.

Dois anos depois, outro modelo de Airbus da Air France (A330), com o mesmo sistema de voo, caiu no Atlântico em um voo entre o Rio de Janeiro e Paris. Os 216 passageiros e os 12 tripulantes morreram. As investigações foram conduzidas pelo mesmo escritório que vai apurar o acidente com o voo da Germanwings.

Em 2012, os investigadores franceses concluíram que, após um sensor entupir por causa do gelo, o computador exibiu mensagens que não foram interpretadas corretamente pelos pilotos. Para o comandante Fantozzi, o sistema ficou confuso o suficiente para deixar a tripulação mais desnorteada ainda.

Aeronave levava 144 passageiros e seis tripulantes de Barcelona, na Espanha, para a cidade alemã de Düsseldorf
Aeronave levava 144 passageiros e seis tripulantes de Barcelona, na Espanha, para a cidade alemã de Düsseldorf Aeronave levava 144 passageiros e seis tripulantes de Barcelona, na Espanha, para a cidade alemã de Düsseldorf

O acidente

O voo 9525 partiu às 10h01 (6h01 no horário de Brasília) do aeroporto de Barcelona e deveria chegar por volta das 11h40 em Düsseldorf. Quando sobrevoava a região de Prads-Haute-Bléone, pouco mais de meia hora após a decolagem, a aeronave começou a perder altitude por oito minutos, até bater em uma montanha.

O avião estava em operação desde 1991 — inicialmente pertencia à alemã Lufthansa e depois passou a integrar a frota da subsidiária Germanwings, uma companhia de baixo custo. A aposentadoria de um avião ocorre entre 25 e 30 anos de uso, devido ao aumento dos custos operacionais. 

Em nota, a Airbus afirmou que a aeronave tinha mais de 58 mil horas de voo. A fabricante e a operadora do A320 afirmaram que enviaram equipes de investigadores ao local.

As autoridades francesas não descartam, mas tratam como remota, a possibilidade de um ataque terrorista. Isso porque em uma eventual explosão, a aeronave não perderia altitude aos poucos. Os serviços de inteligência também não identificaram pistas de qualquer ação do tipo.

Os destroços estão a mais de 1.500 m de altitude, em uma localidade onde costuma nevar nesta época do ano, o que dificulta o trabalho das equipes de resgate. As buscas foram interrompidas no início da noite e serão retomadas na manhã desta quarta-feira (24). O escritório francês que vai conduzir as investigações convocou uma coletiva de imprensa para as 16h (12h em Brasília).

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