Brasileiro preso na Rússia por suspeita de tráfico está incomunicável e já foi transferido quatro vezes em um mês
Família diz que autoridades erraram ao considerarem chá do Santo Daime substância proibida
Internacional|Do R7
Desde o útimo dia 31 de agosto, o brasileiro Eduardo Chianca Rocha, de 66 anos, está preso e incomunicável, em uma cela com outros 12 prisioneiros, na Rússia, por suspeita de tráfico internacional de entorpecentes. Ele foi detido no aeroporto de Moscou com oito litros do chá Ayahuasca, conhecido como Santo Daime.
Segundo uma pessoa próxima da família, Chianca Rocha, fundador do grupo Frequência de Luz, só tem acesso a um advogado russo e a uma intérprete. O chá que o terapeuta carregava, conforme comunicado da família, é utilizado no Brasil nas cerimônias religiosas de igrejas como Santo Daime, União do Vegetal e nativos da região amazônica em práticas xamânicas.
A amiga da família afirmou que o Itamaraty está acompanhando o caso, mas diz que é necessária uma pressão da opinião pública para acelerar o processo de libertação do brasileiro.
Procurado pelo R7, o Itamaraty informou que a Embaixada do Brasil em Moscou acompanha o caso desde o dia 31, quando foi informada da detenção do brasileiro, e tem mantido contato com seu advogado na Rússia e com seus familiares no Brasil. Mas justifica que, "por questões de privacidade, o Ministério das Relações Exteriores não fornece informações sobre cidadãos nacionais aos quais presta assistência consular".
Na próxima semana, de acordo com a amiga, o tribunal local analisará a possibilidade de extradição ou de prisão domiciliar de Chianca Rocha.
— Trata-se de um terapeuta reconhecido, com mais de mil alunos formados, a maioria na Europa. Ele não estava lá com intenções ilícitas, pelo contrário, era para fazer palestras sobre a sua terapia.
Pelas informações obtidas por ela, o terapeuta não está sofrendo maus-tratos. No entanto, ele já foi transferido para quatro prisões em apenas um mês. Tendo começado a viajar para dar palestras em 2011, Chianca Rocha já havia ido a Moscou em outras ocasiões, segundo contou a pessoa próxima, e nunca havia tido problemas por causa do chá.
Além de engenheiro eletrônico e pesquisador, Chianca Rocha é terapeuta holístico e palestrante. De acordo com o comunicado divulgado por seus familiares, a acusação sobre ele não passa de um engano das autoridades russas.
A esposa dele, Patrícia Junqueira, afirma que a Ayahuasca é liberada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para uso ritualístico.
Já a Frente Parlamentar de Práticas Integrativas em Saúde do Congresso Nacional do Brasil, composta, segundo o comunicado, por 220 parlamentares entre deputados e senadores, protocolou documento na Embaixada da Rússia em Brasília pedindo que as autoridades russas liberassem o terapeuta.
O documento ressalta que está havendo um equívoco na interpretação da presença de uma droga sintetizada em laboratório, a DMT, proibida na Rússia há alguns anos, apresentando o currículo e o histórico de Chianca Rocha e solicitando a sua liberação.
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Ao argumentar que a Rússia é signatária da Convenção Europeia para a Proteção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais, que em casos similares nos Estados Unidos e Holanda, foi utilizada para demonstrar que os suspeitos não praticavam crime mas sim estavam usando o direito de manifestação religiosa, a Frente diz que a bebida não tem relação com a DMT. E pede a soltura do terapeuta.
— O fato é que no caso em tela, não se trata de droga sintetizada em laboratório, mas sim de uma substância natural, contida em baixíssimas concentrações nesta planta amazônica e, por isso, cientificamente comprovada como inofensiva à saúde humana.
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