Chávez está consciente de sua doença e seguirá sendo presidente, diz Maduro
Vice-presidente afirma que líder está "tranquilo e sereno"
Internacional|Do R7
O vice-presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, garantiu na quinta-feira (17) em entrevista exclusiva à Agência Efe que Hugo Chávez está consciente das fases do seu pós-operatório e que o Governo avalia todos os cenários, mas que o atual presidente seguirá como chefe de Estado.
Além disso, defendeu a política de comunicação do Governo com relação à doença do presidente, que, segundo disse, combina a luta de ideias, a defesa política e humana de Chávez e de sua família e a informação médica.
EFE — Como está o presidente? Quais são as últimas novidades sobre o seu estado?
Nicolás Maduro — Como informamos de maneira permanente, a operação foi bastante complexa, difícil, houve danos resultantes de uma hemorragia que felizmente foi controlada, mas que produziu uma situação mais difícil e complexa que a que fora estimada. Recentemente, em 14 de janeiro, parte da equipe política foi visitá-lo. Estivemos com ele, conversamos, o atualizamos sobre as distintas situações do país. Em termos gerais, o vejo muito tranquilo, muito sereno, muito consciente de todas as fases pelas quais passou no pós-operatório, e estamos muito otimistas.
EFE — Chávez já superou essa complicação respiratória?
Maduro — São detalhes médicos. Toda a fase de infecções foi controlada e os médicos estão tratando agora as complicações respiratórias derivadas do pós-operatório e da fase de infecções, que foram muito agudas.
EFE — Nos dias posteriores à intervenção cirúrgica e no final de dezembro, o senhor informou sobre a situação do presidente em um tom um tanto compungido, dando a sensação de que esses momentos foram particularmente complicados. Foi assim?
Maduro — Sim. Nós informamos nosso povo de forma reiterada com a verdade, e foram situações difíceis as que vivemos nos dias finais do ano. O presidente sempre nos exigiu que mantivéssemos o povo muito bem informado, de maneira muito objetiva, com serenidade e com respeito a ele como paciente. Todos os pacientes têm direito a sua privacidade, e o presidente Chávez não é uma exceção.
EFE —Vocês defenderam a política de comunicação do Governo com relação à informação dada sobre o presidente, mas há gente que pensa que talvez falte um aspecto técnico na informação, uma informação mais detalhada do ponto de vista médico. Por que não se optou por uma solução como recorrer a médicos que pudessem de alguma maneira salvaguardar a intimidade do presidente e ao mesmo tempo dar conta do estado de saúde?
Maduro — Você sabe que o presidente Chávez é o líder mundial de uma revolução social, que propõe uma mudança de era, não somente em nosso país e no continente, mas um mundo sem impérios. E o presidente enfrentou os poderes mundiais, as transnacionais da informação e fez em nosso país uma revolução que recuperou nossos recursos naturais. O manejo de toda a situação foi feito com um critério muito claro do papel do presidente Chávez. Tivemos que enfrentar uma guerra midiática, realmente miserável sobre a vida do presidente. Então adotamos o que consideramos uma opção correta: dar relatos que combinem a luta de ideias, a defesa política e humana do presidente Chávez e de sua família e a informação médica.
EFE —Quanto tempo vocês calculam que o presidente poderá permanecer em Cuba?
Maduro — Neste momento não seria possível estabelecer isso porque o quadro clínico está evoluindo. Talvez nos próximos dias, já com a reunião com as equipes médicas, seja possível dar uma resposta um pouco mais próxima da realidade.
EFE —Estamos falando de semanas, não de meses...
Maduro — Entrar nesse tema seria especular, mas nós esperamos e rezamos para que seja em semanas.
EFE —O que acontecerá se o presidente não puder reassumir a chefia de Estado?
Maduro — O presidente Chávez foi muito claro e, em seu discurso do dia 8 de dezembro, estabeleceu um conjunto de cenários, que estão sendo avaliados neste momento. Ele já estava preparado para assumir uma operação de alto risco. Analisamos diferentes cenários, ele já tinha pensado em distintas fórmulas para enfrentar qualquer circunstância, inclusive a pior. No caso de o presidente não puder continuar, a Constituição estabelece os mecanismos para que a vida política e institucional do país se mantenha com estabilidade e sejam convocadas eleições em 30 dias. O que posso dizer agora é que o presidente Chávez é presidente da Venezuela, começou o mandato 2013-2019 e seguirá sendo presidente do nosso país.
EFE —Na terça-feira, o senhor anunciou que Elías Jaua fora nomeado chanceler por decisão do presidente Chávez. O decreto foi assinado pessoalmente por Chávez ou fez-se uso da assinatura eletrônica do presidente?
Maduro — A direita venezuelana é tão trôpega que insiste em dizer que o novo chanceler não foi nomeado pelo presidente Chávez. A única que falsificou uma carta e uma assinatura na história da Venezuela recente foi a oposição, inventando que o presidente Chávez tinha renunciado em 2002.
EFE —Mas a assinatura do decreto era eletrônica?
Maduro — Eu penso que isso é um debate que não leva a lugar algum. O presidente Chávez deu uma ordem e assinou um decreto, e o decreto saiu como saem centenas de decretos durante o ano. Se quiserem, revisamos os milhares de decretos que foram assinados desde 1999.
EFE —No último dia 8, a Corte Suprema opinou que o presidente podia fazer seu juramento posteriormente e que o Governo anterior podia, por um princípio de continuidade administrativa, seguir interino. No entanto, a oposição defende que o cargo deveria ser assumido pelo presidente da Assembleia, Diosdado Cabello. Por que isso não aconteceu?
Maduro — Porque a Constituição é muito clara. Primeiro, o presidente desfruta de uma permissão constitucional da Assembleia Nacional solicitada por ele e dada por unanimidade; ou seja, todos os parlamentares da Venezuela, tanto do bloco revolucionário como opositor, votaram a favor dessa permissão. Em segundo lugar, a Corte Suprema de Justiça ratificou que o presidente pode fazer seu juramento em outra data. O presidente é um presidente em posse do cargo, reeleito, ratificado várias vezes. Havia continuidade e há continuidade administrativa. O único cenário no qual o companheiro Diosdado Cabello assumiria a Presidência é se fosse declarada a falta absoluta do presidente antes do juramento.
EFE —Nestas circunstâncias, como vice-presidente, o que o senhor pode fazer? Até onde chegam suas competências neste momento?
Maduro — Bom, é longa a lista, não? Para uma entrevista como esta.
EFE — Por exemplo, a nomeação de ministros não está dentro de suas capacidades.
Maduro — Não está.
EFE —Ou seja, se houvesse algum tipo de eventualidade em um dado momento, somente o presidente Chávez poderia substituir um ministro.
Maduro — Poder do presidente, claro. O presidente delegou algumas funções para o manejo dos assuntos administrativos: isenções de impostos, gestão de alguns recursos, mas ele mantém a condução do Estado.
EFE —Vocês viajaram periodicamente durante estas últimas semanas a Cuba, e imagino que se reuniram também com o Governo cubano, com o líder cubano Fidel Castro, com o presidente Raúl Castro. É possível comentar algo sobre essas reuniões?
Maduro — Primeiro, é preciso comentar que praticamente todos os dias o comandante Fidel Castro está no hospital, está perto dos médicos, dos familiares, está cumprimentando o presidente Chávez e, por isso, é preciso agradecê-lo do ponto de vista humano. E com o presidente Raúl Castro temos uma infinidade de planos de cooperação em matéria de saúde, educação, esporte, cultura e economia. Temos investimentos conjuntos e aproveitamos as visitas ao presidente Chávez para tratar desses assuntos.
EFE — Quando escuta as acusações que Havana é quem manda na Venezuela e que Nicolás Maduro é uma pessoa próxima ao Governo cubano, o que o senhor sente?
Maduro — É a campanha deles, a eles lhes corresponde mentir. A nós corresponde trabalhar e dizer a verdade.