Cúpula do clima no Peru abriu caminho para acordo global em 2015
Texto estabelece que todos têm que apresentar compromissos de redução de gases do efeito estufa
Internacional|Do R7
A Conferência da ONU sobre Mudança Climática conseguiu fixar em Lima um marco geral que, apesar de não agradar a todos, servirá de base para que se possa adotar em Paris, em 2015, um acordo universal para frear o aquecimento global.
Durante duas semanas, a capital peruana foi palco de acalorados debates sobre os efeitos e consequências da mudança climática e sobre as medidas que devem ser adotadas para conseguir que a temperatura do planeta não aumente dois graus até o final de século.
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Embora a conferência tenha começado com otimismo, nos últimos dias de negociações as diferenças de critério entre os países desenvolvidos e os países em vias de desenvolvimento pareciam insolúveis, mas finalmente, após uma prorrogação de mais de 24 horas, foi possível pactuar um documento com um mínimo denominador comum.
O objetivo central da COP20, da qual participaram mais de 10 mil delegados de quase 200 países, era preparar o terreno para que em Paris seja aprovado no próximo ano um acordo que substitua, em 2020, o Protocolo de Kioto, que obriga apenas os países desenvolvidos a reduzir suas emissões.
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O texto aprovado em Lima, denominado "O apelo de Lima à ação", estabelece que todos os países têm que apresentar compromissos quantificáveis de redução de gases do efeito estufa que devem estar acompanhados de informação detalhada das ações que vão desenvolver para que essa diminuição de emissões seja cumprida.
Também enfatiza o financiamento para a adaptação dos países em desenvolvimento à mudança climática, embora, na opiniões das ONGs, faltem referências à obrigação urgente dos países desenvolvidos de proporcionar financiamento climático. O documento faz referência ainda às "responsabilidades comuns, mas diferenciadas" dos países perante a mudança climática que foi, junto com o financiamento, um dos principais motivos de desencontro desta conferência.
Embora em Lima tenham sido alcançados US$10 bilhões para o Fundo Verde, a meta de conseguir US$ 100 bilhões para 2020 está ainda distante.
A leitura de que o Peru, país anfitrião, faz da cúpula é que representou um marco, porque permitiu flexibilizar posturas e chegar a um consenso final.
O presidente da COP20, o ministro do Meio Ambiente peruano, Manuel Pulgar Vidal, destacou a importância de que se tenha incluído uma referência ao fato de que os países desenvolvidos, que emitem mais gases do efeito estufa, têm mais responsabilidades que os menos desenvolvidos, mas que "todos as compartilhamos".
O comissário europeu de Energia e Clima, o espanhol Miguel Arias Cañete, também elogiou "a flexibilidade" para que as negociações "fossem levadas adiante".
Para a China, o acordo representa "um progresso positivo" e o resultado foi "relativamente equilibrado", já que "atende basicamente às necessidades dos países em desenvolvimento".
No entanto, para ONGs como a WWF (World Wildlife Fund), os governos falharam categoricamente em conseguir um acordo sobre planos específicos para reduzir as emissões antes de 2020, com o que se assentariam as bases para terminar a era dos combustíveis fósseis e se aceleraria o passo rumo às energias renováveis.
Para outras, como a Oxfam, "as decisões tomadas em Lima não descartam a possibilidade de um acordo em Paris, mas também não fazem muito para melhorar suas probabilidades de êxito".
A verdade é que o mundo esperava mais desta cúpula, sobretudo depois dos ventos favoráveis com os quais se iniciou, depois que Estados Unidos, China e União Europeia anunciaram sua decisão de reduzir suas emissões de gases poluentes.
Na cúpula também fizeram ouvir suas vozes as comunidades indígenas que reivindicaram respeito aos direitos sobre suas terras, e pediram que seus conhecimentos tradicionais sejam levados em conta na luta contra a mudança climática.
Em paralelo à Cúpula do Clima, milhares de pessoas participaram no dia 10 de dezembro da Marcha Mundial em Defesa da Mãe Terra, que, convocada por organizações civis, indígenas e sindicais reunidas na Cúpula dos Povos, percorreu as ruas do centro de Lima.
Em entrevista à Agência Efe em um intervalo da conferência, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, expressou seu otimismo de alcançar um acordo em Lima, ao considerar que todos os países já estão prontos para participar de um diálogo sério porque o "tempo se esgota" e a conta a pagar "será mais cara".
"Não há um plano B, porque não temos um planeta B", sentenciou Rajendra Pachauri, presidente do Painel Científico para a Mudança Climática das Nações Unidas.