De ministro despojado a acusado de corrupção: relembre o escândalo envolvendo o vice da Argentina
Amado Boudou deve prestar depoimento à Justiça nesta quarta-feira
Internacional|Do R7, com agências internacionais
O vice-presidente da Argentina, Amado Boudou, é esperado para depor à Justiça nesta quarta-feira (23). Ele é investigado por acusações de corrupção e gestões incompatíveis com sua função em 2010, quando era ministro da Economia.
O juiz federal Ariel Lijo investiga o vice de Cristina Kirchner pela suposta aquisição irregular da empresa gráfica Ciccone, que, depois, ganharia o nome de Companhia Sul-americana de Valores, em conjunto com um grupo de sócios que teriam agido como testas de ferro de Boudou.
Acusações
O "Caso Ciccone" transformou-se no maior escândalo de corrupção do governo Kirchner, provocando, segundo diversas pesquisas, uma queda persistente da popularidade de Cristina desde que veio à tona semanas após a reeleição presidencial de 2011.
Nos últimos três anos, Boudou — além de tráfico de influências — também se tornou suspeito de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro.
Ministra marroquina volta a gerar polêmica declarando que política não é para mulher
ONU estima que 125 milhões de mulheres foram vítimas de mutilação genital em todo o mundo
A lei argentina determina que o delito de negociações incompatíveis com a função pública sujeita o autor a condenação de 2 a 6 anos de prisão, além do impedimento total de exercer cargos públicos por entre três e dez anos.
Na hipótese de levar o vice ao banco dos réus, o juiz Lijo poderá pedir o fim da imunidade de Boudou. Mas para isso será necessário que o Parlamento remova o privilégio.
O escândalo Ciccone veio à tona em dezembro de 2011, quando investigações revelaram pistas que indicavam que Boudou teria favorecido o empresário Alejandro Vanderbroele, diretor do fundo holandês "The Old Fund", na compra da gráfica, que estava a ponto de falir.
Boudou também teria intercedido por intermédio da Receita Federal para salvar a Ciccone do pagamento de pesadas dívidas tributárias.
Trem refrigerado com corpos de vítimas do avião da Malasia chega a Kharkiv
Ofensiva em Gaza já fez 100 mil buscarem ajuda da ONU
Depois, Boudou teria favorecido a empresa ao conseguir o contrato para a impressão de notas de 100 pesos, já que a Casa da Moeda não estava conseguindo abastecer a demanda de cédulas.
Simultaneamente, Boudou cancelou os planos para modernizar a Casa da Moeda. A companhia foi estatizada em 2012.
Vanderbroele é apontado como testa de ferro do vice. No entanto, Boudou nega qualquer vínculo com o empresário e afirma que nunca o viu. Paradoxalmente, o vice aluga seu apartamento no bairro de Puerto Madero para um sócio de Vanderbroele.
O misterioso empresário também pagava o condomínio e a TV a cabo do apartamento de propriedade do vice. A ex-mulher de Vanderbroele diz que ele e Boudou "são amigos desde a juventude". O vice afirma que as acusações são um "ataque mafioso" dos jornais Clarín e La Nación.
Ministro roqueiro
Considerado charmoso e jovial, Boudou ficou famoso por animar o público jovem da Argentina ao trocar o terno preto por jeans, tênis esportivos, camiseta sem manga e jaqueta.
Com esse look despojado e às vezes a bordo de sua moto Harley Davidson, Boudou percorreu grande parte do país, misturando viagens eleitorais com suas obrigações de ministro.
Fanático como muitos de sua geração pelo chamado rock nacional, Boudou passou a ser chamado pela imprensa local como "ministro roqueiro" e se apresentou em dezenas de palcos com a banda de seu amigo Miguel Quieto.