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Demissão de Patriota expõe atraso do Itamaraty, diz especialista

Ministro deixou cargo após a fuga do senador boliviano Roger Molina de La Paz 

Internacional|Fábio Cervone, colunista do R7 com agências

O ex-ministro Antonio Patriota já havia sofrido diversas críticas de dentro do governo
O ex-ministro Antonio Patriota já havia sofrido diversas críticas de dentro do governo

A demissão do embaixador Antonio Patriota da chefia do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, nesta segunda-feira (26), expôs não só uma falta de sintonia entre o diplomata e a presidente Dilma Rousseff, como também ressaltou o atraso da estrutura do Itamaraty, criticada frequentemente por especialistas.

De acordo com Natália Fingermann, coordenadora de Relações Internacionais do Senac, a notícia da queda de Patriota surpreendeu pelo momento, mas já haviam sinais evidentes de uma possível renúncia. Entretanto, o caso evidenciou uma crise institucional dentro do ministério.

— Existiam muitas críticas dentro e fora do Itamaraty contra o Patriota. Mas a atitude do diplomata Eduardo Saboia mostrou falta de comando no ministério. Como o ministro não sabia exatamente o que estava acontecendo com uma embaixada tão próxima de Brasília e importante para os interesses regionais?

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Para a professora, a tradição do MRE precisa ser renovada para que a instituição possa dialogar mais com a sociedade e com seus funcionários. Segundo ela, Patriota não soube administrar as novas demandas e perdeu credibilidade até mesmo entre seus funcionários.

— Saboia colocou uma causa "humanitária" à frente das ordens burocráticas. Ele não esperou uma decisão do ex-ministro e levou adiante sua aventura diplomática, que para muitos na sociedade civil, foi considerada heroica.


Em diversos casos recentes, Patriota mostrou falta de sintonia com o governo, lembra a especialista. Um deles foi a libertação dos torcedores presos na Bolívia, que só foi possível com a intervenção do Ministério da Justiça. 

Outro tema delicado foi em relação à base de Alcântara, no Maranhão, em que o ex-ministro queria que Dilma Rousseff assinasse ainda neste ano uma permissão para que os EUA utilizassem o local para lançamentos de foguetes. Tal ideia foi totalmente vetada pelo ex-presidente Lula, quando ele ainda estava no governo, e gerou muitas críticas ao ser retomada recentemente.

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Natália Fingermann acredita que a demissão de Patriota poderá ser entendida como um gesto apropriado para o governo boliviano, que recentemente protestou contra a fuga do senador Roger Pinto Molina. 

— A mudança pode ser positiva para a relação entre Brasil e Bolívia, pois mostrou uma atitude assertiva do governo em resolver a crise diplomática. Brasília precisa evitar ser pivô de qualquer instabilidade política na região. 

Entretanto, ainda é cedo para avaliar os impactos de médio e longo prazo dentro do Ministério das Relações Exteriores.

— Não dá para avaliar, até porque é preciso ver como será a gestão do novo ministro. Mesmo assim, o Itamaraty é conhecido por sua estabilidade institucional e coerência diplomática. 

Fuga do senador boliviano

A queda de Patriota ocorre após a fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina, que chegou ao Brasil no sábado (24) após passar mais de 450 dias na Embaixada do Brasil em La Paz.

Molina estava asilado desde junho de 2012 na representação diplomática sob alegação de ser um perseguido político. O parlamentar é um dos principais opositores do governo do presidente boliviano Evo Morales, mas pesam sobre ele ao menos 20 processos judiciais. Segundo o governo boliviano, Molina solicitou o asilo para não responder na Justiça a crimes de danos econômicos ao Estado calculados em pelo menos US$ 1,7 milhão.

Para deixar a Bolívia, Molina precisava de um salvo-conduto do governo Morales, o que era considerado uma exigência do Planalto para trazer o parlamentar para o Brasil. Mas o pedido foi negado.

A situação de Molina se arrastou sem solução até a última sexta-feira (23), quando o parlamentar deixou a embaixada em um carro diplomático brasileiro e seguiu até Corumbá (MS). O percurso de mais de 20 horas foi feito por dois carros da embaixada brasileira com escolta de fuzileiros navais.

De Corumbá, Molina seguiu para Brasília em um avião cedido pela família do senador brasileiro Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado.

A fuga de Molina foi arquitetada pelo ministro Eduardo Saboia, que é encarregado de negócios da embaixada e chefe temporário da representação em La Paz.

Saboia disse que tomou sozinho a decisão de retirar Molina da embaixada em La Paz por razões humanitárias, já que o parlamentar boliviano estava com sintomas de depressão e falava até em cometer suicídio.

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