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Embaixadores de Israel e Palestina trocam acusações sobre crueldade e horror da guerra

Ataques duraram oito dias e deixaram 164 palestinos e seis israelenses mortos

Internacional|Diego Junqueira, do R7

Corpo de palestino executado em Gaza é arrastado pela cidade
Corpo de palestino executado em Gaza é arrastado pela cidade

As agressões entre israelenses e palestinos dos últimos dias serão lembradas por cenas de horror, crueldade e desumanidade. Por que os ataques israelenses matam tantos civis? Por que os palestinos recorrem ao terrorismo e a execuções arbitrárias? O R7 levou essas perguntas aos embaixadores israelense e palestino no Brasil e descobriu que a resposta é exatamente a mesma: a culpa é do outro.

A ação israelense começou no último dia 14 com o assassinato do chefe do braço armado do Hamas, o grupo palestino que governa a Faixa de Gaza desde 2007. De acordo com Israel, o ataque era uma resposta aos 800 foguetes que tinham sido lançados de Gaza sobre o sul de Israel desde o início do ano.

Em oito dias de confrontos, que foi encerrado na quarta-feira (21) com um acordo de cessar-fogo, mais de 3.000 mísseis e foguetes voaram na região. Israel atacou 1.500 alvos, segundo seu Exército, enquanto os palestinos lançaram 1.506 foguetes. Uma média de quase 18 ataques por hora, se somados os dois lados do confronto.

As agressões deixaram 164 palestinos mortos — mais da metade deles civis, segundo fontes médicas em Gaza. Do lado israelense, seis pessoas morreram — dois soldados e quatro civis.


Palestino morre em ação de Israel na fronteira com Gaza

Como sempre ocorre nessa parte do Oriente Médio, as agências de notícias publicaram dezenas de imagens de crianças mortas em Gaza, além de funerais abarrotados de gente, alguns deles armados, jurando morte a Israel.


O premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, chegou a chamar Israel de “Estado terrorista” pelo que chamou de “assassinato em massa de muçulmanos”.

O R7 questionou o embaixador de Israel no Brasil, Rafael Eldad, sobre o alto número de civis mortos em Gaza.


Segundo Eldad, o Hamas é um grupo criminoso que recorre a uma condenável técnica de defesa: usar civis e jornalistas como escudo humano.

— Quem tem a culpa disso [morte de civis]? Israel, que está tentando atacar alvos do Hamas, de onde eles mandam foguetes, ou o Hamas, que está escondendo [as armas] de uma maneira deliberada, entre civis, crianças e jornalistas, usando-os como escudo humano?

Para o embaixador israelense, a “culpa é desse grupo terrorista criminoso que está atuando de uma maneira criminosa, e não de Israel, que está tentando se defender para que eles não sigam mandando foguetes contra nossos cidadãos”.

Eldad questionou ainda um argumento recorrente que diz: “Se há mais mortes e feridos do lado palestino, então Israel tem a culpa e os palestinos têm a razão”.

— O que quer dizer isso? Que matem mais judeus para termos alguma simpatia? É preciso que morram mais israelenses para termos simpatia? (...) Só porque morreram mais palestinos, então os palestinos têm razão? Não. Essa não é uma maneira de ver as coisas.

Palestinos carregam corpos de crianças durante funeral em Beit Lahiya, na Faixa de Gaza
Palestinos carregam corpos de crianças durante funeral em Beit Lahiya, na Faixa de Gaza

Terrorismo e execuções

O abismo no número de mortos revela a desproporção do poder de fogo entre israelenses e os palestinos em Gaza, além do preparo de Israel em proteger seus cidadãos dos ataques.

Enquanto Israel é um dos países que mais investem em suas forças militares, com gastos que superam os R$ 3.000 por habitante, segundo dados do Instituo Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), as milícias palestinas em Gaza utilizam, em sua maioria, foguetes de fabricação caseira, como o R7 pôde constatar em janeiro deste ano em viagem patrocinada pelo governo israelense ao sul do país.

Os ataques palestinos utilizaram também os mísseis Fajr-5, de fabricação iraniana, com capacidade de alcance de 75 km, que colocaram milhões de israelenses na mira das milícias islâmicas, além das cidades de Tel Aviv e Jerusalém.

Há diferença também entre o objetivo das agressões. Enquanto Israel afirma atacar alvos militares do Hamas, os foguetes e mísseis palestinos são lançados sem a tecnologia para atingir um alvo definido — alguns caem em áreas abertas e outros tantos sobre edificações civis. Muitos são ainda interceptados pela moderna bateria antiaérea israelense, o Domo de Ferro.

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Além de não atacarem alvos militares, os palestinos recorreram ao terrorismo na quarta-feira (21), com um ataque a um ônibus em Tel Aviv, que deixou 29 feridos e confirmou a eterna sensação de insegurança vivida dentro de Israel.

Um dia antes, execuções arbitrárias foram registradas pelas câmeras das agências de notícias na Cidade de Gaza, onde seis palestinos foram assassinados por supostamente colaborarem com Israel. Um deles teve o corpo amarrado a uma moto e foi arrastado pelas ruas da cidade como forma de alerta a outros possíveis infiltrados.

Em entrevista ao R7, o embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Mohamed Khalil Alzeben, condenou tanto o atentado terrorista como a execução dos seis palestinos, e afirmou que as facções islâmicas em Gaza não são terroristas.

— Violência gera violência. Nós não apoiamos nenhum tipo de ação violenta ou terrorista, como o senhor disse, nem de Estado nem de indivíduo. Nós consideramos que a violência não é a solução. Acredito que esta ofensiva, a agressão de oito dias contra Gaza, deve servir de lição para palestinos e, sobretudo, para israelenses, de que a solução não é militar, mas política.

Segundo Alzeben, as milícias palestinas que atuam em Gaza não são terroristas, mas político-militares.

— Não admito dizer “grupos terroristas”. São “grupos político-militares” que atuam, e esperamos que todos se incorporem à OLP [Organização para Libertação da Palestina], e se incorporem à política, respeitando o direito internacional e as regras do jogo.

De acordo com o embaixador palestino, esses grupos só poderão ser controlados quando a agressão israelense for interrompida.

— Espero que a violência por parte de Israel ao longo desses anos cesse, para que esses grupos militares deixem de existir e se convertam em forças políticas capazes de construir um futuro melhor para o nosso povo. (...) Se Israel invade Gaza, e um militante se levanta e repele essa agressão, isso é um ato de defesa. Só que nós não queremos nem atos de defesa nem agressão. Se Israel seguir agredindo a Palestina, sem dúvida haverá uma reação.

Tanto Eldad quando Alzeben afirmaram que seus governos estão dispostos a se sentar na mesa de negociações para discutir um acordo de longo prazo.

Mas enquanto continuar a "matança contra o povo palestino", como diz Alzeben, e os "grupos terroristas" seguirem na ativa, como afirma Eldad, a paz na região deve continuar sustentada sobre frágeis documentos de cessar-fogo, e não sobre uma solução que dure longos anos.

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