"Fantasmas" brasileiros sofrem agressões na Suécia
Funcionários de parque de diversões são ameaçados e espancados durante o trabalho
Internacional|Wellington Calasans, especial para o R7, em Estocolmo
Os imigrantes brasileiros que trabalham como "fantasmas" na casa mal-assombrada do parque de diversões mais famoso da Suécia, o Gröna Lund, são vítimas de ameaças e espancamento no trabalho. A denúncia, que domina o noticiário da Suécia na manhã desta quinta-feira (25), foi feita por um dos principais jornais do país nórdico, o Dagens Nyheter (DN).
De acordo com a publicação, os brasileiros do Up Leon, grupo que trabalha com o parque há uma década, são as principais vítimas das agressões, que são timidamente denunciadas à polícia e ao órgão público sueco que fiscaliza o ambiente de trabalho.
Brasil só agilizará regularização de imigrantes ilegais vindos do Haiti
As histórias registradas nos relatórios da polícia ao longo dos anos se assemelham a um roteiro de filme de terror. Os trabalhadores levam socos, pontapés, e há registros de casos mais graves, com perdas de dentes e desmaios por espancamento.
Segundo as autoridades policiais, se antes as pessoas agrediam os "fantasmas" com cuspes ou atirando refrigerantes e pipocas como reação ao susto, há indícios de que hoje alguns grupos vão à casa mal-assombrada com o intuito exclusivo de agredir covardemente os artistas que estão apenas cumprindo o seu trabalho.
As queixas de abusos eram constantes quando funcionários suecos trabalhavam na casa mal-assombrada. Há quase dez anos, quando eles foram substituídos por brasileiros, o número de denúncias caiu drasticamente. A polícia lamenta o silêncio e diz que pouco ou nada pode fazer se não houver queixas que denunciem esses abusos.
"Não querem parecer chorões"
A imprensa local insinua como discriminatória a declaração de um dos responsáveis pelo parque de diversões, Johan Lindgren, que afirmou que "os trabalhadores brasileiros possuem um 'limite superior' ao dos outros trabalhadores" e que, por isso, não costumam dar queixa das agressões.
— Eles [os trabalhadores brasileiros] são gratos pelo trabalho que têm e não querem, eu acho, parecer que são chorões.
Mantendo o silêncio, os brasileiros não quiseram falar com a equipe de reportagem do jornal local.
Os artistas do grupo Up Leon também foram procurados pelo R7 enão quiseram dar entrevista.
Embaixada não recebeu denúncia
Segundo a embaixadora do Brasil na Suécia, Leda Lúcia Martins Camargo, "não há na Embaixada nenhum registro de brasileiros que trabalham no Gröna Lund ou denúncia feita por terceiros que confirme o que tem sido noticiado na imprensa sueca".
— A Embaixada do Brasil não precisa de intermediários na relação com os brasileiros. Se qualquer um desses trabalhadores nos procurar, ou se algum outro brasileiro vier até nós e denunciar, sob o argumento de que, de alguma forma, esses trabalhadores temem fazer a denúncia, agiremos imediatamente.
Em entrevista ao R7, a embaixadora disse também que não pode agir "como se o problema fosse exclusivamente com os brasileiros, pois naquele parque de diversões existem trabalhadores de diversas nacionalidades".
— As leis suecas e a polícia sueca são exemplares, e qualquer trabalhador, brasileiro ou não, estará bem amparado se os abusos divulgados hoje pela imprensa forem denunciados por eles.
Soluções paliativas e omissão
Pela lei sueca, o empregador é obrigado a relatar como sendo acidente de trabalho, seja ele físico ou de dano mental, todo evento que resulte em violência ou ameaças de violência. A pena máxima para as empresas que não comunicarem as lesões é uma multa de 150 mil coroas suecas (aproximadamente R$ 46 mil).
Segundo a imprensa sueca, os responsáveis pelo Gröna Lund estão cientes de que o trabalho é perigoso e teriam tomado medidas de segurança. Entre elas, equipar os artistas com transmissores de rádio, criar uma série de cantos onde se possa esconder de visitantes e também a possibilidade de trabalhar atrás das grades para ficarem mais seguros.
Até o momento, no entanto, o parque comunicou apenas dois casos de agressão ao órgão competente. A assessora de imprensa do Gröna Lund, Annika Troselius, diz ter conhecimento da existência de vários casos que não foram notificados, mas afirmou que a responsabilidade de informar não é mais do parque.
Segundo ela, desde 2011, o grupo Up Leons é subcontratado por uma empresa chamada Monsab, que teria a responsabilidade de informar os casos às autoridades suecas.
Por outro lado, a administradora do órgão público sueco que fiscaliza o ambiente de trabalho, Mia Tern, diz que não há dúvida de que toda a violência deve ser comunicada a eles.
— O Gröna Lund deve apresentar relatórios sobre os trabalhadores em perigo para que o empregador possa nos informar. O locatário deve tomar medidas para impedir as ameaças e atos de violência, que aparentemente existem.
O que acontece no mundo passa por aqui
Moda, esportes, política, TV: as notícias mais quentes do dia