O Egito não conteve os gastos e esforços para mostrar ao mundo nesta quinta-feira (6) que o regime militar liderado pelo general Abdel Fattah Al-Sissi representa um novo progresso para o país, ao inaugurar com toda a pompa possível o novo canal de Suez, também apelidado de Suez II.
A obra faraônica que permitiu a criação de um novo canal de 72 km vai incrementar a ligação entre o Mar Vermelho e o Mediterrâneo. Tal feito foi executado em tempo recorde de apenas 12 meses, contrariando as expectativas. A conquista do governo militar ajudou a reforçar o orgulho nacional, abalado desde os conflitos da Primavera Árabe, e a histórica fama do povo egípcio, considerado um dos melhores construtores da história da humanidade.
O evento de inauguração ocorrerá em Ismailya, sede da administração do canal. Autoridades e jornalistas do mundo inteiro participarão da ocasião. Para que o público possa acompanhar a festa, telões foram instalados em várias estações de trens entre Cairo e Alexandria para que tudo seja transmitido ao vivo.
Ocasião histórica
O clima de celebração que envolve a inauguração do canal é sentido ainda dentro dos aviões da Egyptair, companhia nacional, onde os assentos foram decorados com apoiadores de cabeça (foto) que destacam o evento desta quinta-feira. Além disso, jornais locais publicaram edições especiais com detalhes da festa e da obra, como foi o caso do “Le Progress Egyptian”(foto).
Além de tentar retomar o crescimento com o novo canal, vital para a economia nacional há 150 anos, o governo de Sissi também aproveita a ocasião histórica para tentar abafar os polêmicos julgamentos que têm condenado ativistas islâmicos que participaram dos protestos na praça Tahir, durante a Primavera Árabe e ao longo da rápida gestão da Irmandade Muçulmana, hoje considerada ilegal pelos militares.
Segurança
Outro fator que tem abalado o país é a crescente presença de grupos ligados ao Estado Islâmico na região. Recentemente, um barco da marinha egípcia fora afundado pelos radicais, além desses terem assumido a autoria de ataques executados contra representações estrangeiras e membros do Poder Judiciário egípcio.
Para garantir a segurança do evento, o ministro do Interior egípcio, Magdy Abdel Ghaffar visitou na terça-feira (4) a cidade de Islmaylia, centro da festa. O chefe de polícia também inspecionou postos militares na região, além de ordenar o reforço na segurança da principal estrada que leva à festa de inauguração.
Certamente, um ataque proferido pelos radicais poderá colocar em xeque a ideia de que o país já retomou a normalidade após as constantes turbulências dos últimos anos.
A grande obra
A construção em tempo recorde do novo canal de Suez teve início no dia 6 de agosto de 2014 e agora está em sua fase final com mais de 80% concluída. De acordo com o presidente e diretor-geral da Autoridade do Canal, o Almirante Mohab Mameesh, a obra movimentou 210 toneladas de areia escavada, e conforme suas próprias palavras, é um ‘’presente do Egito para o mundo’’.
Acredita-se que a receita produzida pelo canal deverá saltar dos atuais US$ 5,3 bilhões para US$ 13,2 bilhões até 2023.
Organização do evento
A fase inicial da festa que envolve a inauguração do canal foi marcada por certa desorganização logística. Foram relatados problemas com passagens e má comunicação entre os responsáveis pelo evento e convidados do mundo inteiro, sobretudo jornalistas.
Egito se prepara para grande inauguração do novo Canal de Suez
Apesar da autoridade do canal de Suez ter contratado uma grande empresa internacional de relações públicas e marketing, tais conflitos, que poderão inclusive afetar a cobertura jornalística de alguns países convidados, demonstra que o governo do Egito mesmo sendo referência em engenharia, ainda tem muito o que aprender no quesito dos grandes eventos globais.
Espera-se que a confusão não se repita nesta quinta durante a festa de inauguração.
* Fábio Cervone viajou a convite do governo do Egito
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