Logo R7.com
Logo do PlayPlus

Indianas ardem em protesto para recuperar o direito de sair à noite

Após estupro coletivo e morte, movimento feminino se fortalece para reivindicar segurança

Internacional|Diego Iraheta, do R7

Jovem indiana critica omissão da polícia em proteger as mulheres
Jovem indiana critica omissão da polícia em proteger as mulheres

O luto e a revolta que tomaram conta da Índia, no fim de 2012, mostram um esgotamento das mulheres. O estopim foi o estupro coletivo de Jyoti Singh Pandey dentro de um ônibus — sentença de morte da universitária. As indianas estão cansadas do desrespeito, da violência, do risco diário de simplesmente ir para a rua ou usar o transporte público. Em entrevista ao R7, a pesquisadora Shweta Srinivasan, de 25 anos, revelou que esses temores são comuns à boa parte das conterrâneas.

— Infelizmente, não é raro que a maioria das mulheres sofra uma experiência de ser molestada no transporte público. Eu tinha que ter muita coragem quando pegava ônibus cheio, enquanto estava na faculdade ou estágio em Nova Déli [capital da Índia].

Índia e suas mulheres: estupro coletivo, insegurança e fim do silêncio

Há três anos morando em Bangalore, Shweta revela que, na capital, era "obrigada a forçar minha passagem no ônibus para não parecer uma 'presa fácil'".


As cenas de homens constrangendo mulheres no transporte coletivo já eram comuns na Índia há quase quatro décadas. A dona-de-casa Geeta Sundar, de 48 anos, que já viveu em várias partes do país e hoje mora em Kochi, lembra que indianos mais velhos costumavam lhe lançar olhares libidinosos e piscar quando ela era apenas uma menina.

— À medida que eu crescia, eu tinha que viajar de ônibus e andar na rua e enfrentava agressão física e assédio. Em ônibus cheio, ninguém sabe quem tocou você, quem passou a mão em você.


Conheça os riscos que as mulheres enfrentam pelo mundo

Novas leis combatem ataques com ácido contra mulheres


Além do transporte coletivo, as mulheres são alvo de agressões físicas e verbais em diversos espaços públicos da Índia. Ao R7, Geeta conta que, assim como ela, a filha também já foi constrangida em um local que seria, em tese, livre de riscos.

— Definitivamente, as mulheres não se sentem seguras na Índia. O problema é que, quando vamos a lugares muito cheios, sempre há chance de ser roubada, molestada e assediada. Há agressão sexual e comentários vulgares. Antigamente, havia estranhos me seguindo nas ruas. E não eram lugares desertos, mas mercados normais ou até áreas residenciais. E, recentemente, enquanto minha filha viajava sozinha a trabalho, ela foi assediada no avião por um passageiro.

Uma pesquisa da ONU Mulheres, baseada em dados de 2010, aponta que o assédio sexual é parte do cotidiano das indianas de todas as classes. Os abusos verbais e físicos acontecem em espaços públicos, tanto aqueles com multidão quanto os mais reservados. Adolescentes de 15 a 19 anos são as mais afetadas.

A polícia que não protege

A indiferença da polícia na hora de registrar queixas de estupros e a demora em iniciar investigações de crimes sexuais também atingiram o limite. Os protestos que sucederam a tragédia de Jyoti colocam a atuação policial em xeque na Índia. O silêncio da dor das mulheres só pode ser combatido com ação das autoridades.

Segundo o estudo da ONU Mulheres, as indianas acabam sendo punidas por causa da violência contra elas próprias. Em vez de a polícia assegurar a proteção às mulheres, elas acabam se vendo obrigadas a ficar em casa durante a noite e a deixar de visitar certos locais. A pesquisadora Shweta brada contra essa inversão.

— A polícia pensa que o melhor caminho para acabar com a ameaça é restringir o direito de ir e vir das mulheres em espaços públicos. Descontextualizam o crime, em vez de tomar o nosso lado e nos proteger.

Aconteceu no mundo? Você lê no R7 Notícias

Porém, o movimento feminino após a morte de Jyoti ganhou força para desafiar a tácita lei de que mulher deve viver quase escondida na Índia, conta Shweta.

— Desde as manifestações, algo extraordinário está acontecendo nos espaços urbanos. Mulheres de vários estilos de vida estão empreendendo um protesto consistente. Há marchas ao redor de locais convencionalmente “escuros e inseguros” durante a noite.

Esse movimento está sendo chamado de “Devolvam a noite”. É mais um apelo das indianas por liberdade. Elas querem ser livres para viver à noite, lá fora, sozinhas.

Sem o risco de sofrerem como Jyoti e tantas outras mulheres, caladas por uma polícia que não protege e por uma cultura que silencia a violência sexual.

Últimas


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com oAviso de Privacidade.