Massacre em escola de Newtown reaviva debate sobre porte de armas nos EUA
Tema foi abordado pelo presidente Obama e pelo prefeito de Nova York, Michael Bloomberg
Internacional|Do R7, com AFP
Conseguirão as quase 30 pessoas, a maioria crianças, abatidas a tiros nesta sexta-feira (14) em mais um massacre ocorrido em uma escola de Connecticut, nos Estados Unidos, vencer a resistência de Washington em discutir a legislação sobre porte de armas? Após um ano particularmente sangrento, o debate volta à tona.
O tema foi lembrado por duas das principais figuras públicas dos EUA, o presidente Barack Obama e o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg.
Em discurso emocionado na Casa Branca, Obama pediu "ações significativas" sobre o porte de armas.
Bloomberg retrucou em seguida, afirmando que o país precisa de "ações imediatas" de seu presidente, para que o congresso resolva o problema.
A Casa Branca se negou a tomar posição sobre o tema da reforma das leis que regulamentam a venda de armas de fogo depois do massacre em Newtown.
"Não penso que hoje seja o dia para discutir política", disse o porta-voz do governo, Jay Carney, ao ser consultado sobre a questão.
— Acho que é importante, em um dia como hoje, ver as coisas assim, como sei que o presidente faz como pai e eu, como pai, e outras pessoas que são pais e mães, que é sentindo uma enorme compaixão pelas famílias afetadas.
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No entanto, o representante democrata Jerrold Nadler respondeu imediatamente, por meio de sua conta no microblog Twitter, "se este não é o momento de termos uma discussão séria sobre o controle de armas, não sei quando (este momento) chegará".
— [O tema] continua sendo uma pessoa instável que tinha acesso a armas de fogo e cometeu um crime horrível contra crianças inocentes. Peço ao presidente Obama, ao Congresso e à população americana a agir além do choque e, finalmente, fazerem algo.
O porta-voz de Obama assegurou que a postura do presidente é a de assegurar que aqueles que não estão autorizados a portar armas não tenham acesso a elas, garantindo ao mesmo tempo ao restante dos americanos o direito de possuir armas contido na Constituição, na famosa Segunda Emenda que o lobby das armas defende com unhas de dentes.
Sem esconder o cansaço e a revolta, a mídia americana imediatamente reavivou o debate sobre o porte de armas, da mesma forma que fez quando 12 pessoas morreram durante um outro massacre em um cinema do Colorado (oeste), e esta semana, após um tiroteio em um centro comercial do Oregon (nordeste), que provocou três mortes.
"Este não é um dia para a política", disse Susan Page, chefe do escritório em Washington do influente jornal USA Today. Mas "este é o ponto sem retorno? Eu não sei", questionou-se.
"Falta que se veja a mudança, que seja mensurável", disse o jornalista Alex Wagner, da emissora MSNBC.
— Esperamos que haja suficiente peso político para reformar a forma como tratamos [o tema de] as armas e a violência causada por armas de fogo neste país.
No entanto, os defensores da Segunda Emenda da Constituição — "sendo necessária uma milícia bem ordenada para a segurança de um Estado livre, o direito do Povo a possuir e portar armas não será infringido" — insistem em que a solução não vá pelo lado da restrição da venda de armas semi-automáticas. A venda de armas automáticas, por outro lado, permanece proibida.
"Rejeitamos o uso indevido das armas de fogo", disse à AFP Alan Gottlieb, fundador da Fundação Segunda Emenda (FSE).
"Mas há um lado bom das armas que não se pode esquecer (...) Todos estes crimes completamente loucos ocorreram em lugares onde está proibido ter armas", acrescentou, considerando que os adultos da escola deveriam ter o direito a estar armados.
Barack Obama tem argumentado que a oposição republicana no Congresso torna possível qualquer reforma das leis federais sobre o comércio de armas, especialmente a proibição dos fuzis de assalto, votada na década de 1990 sob o mandato do democrata Bill Clinton, mas que expirou em 2004 durante o governo do republicano George W. Bush.