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"Não há nenhum risco de Macri ter mandato interrompido", diz ex-presidente da Argentina

Em entrevista ao R7, Fernando de la Rúa fala sobre sua experiência e critica governo anterior

Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7


De la Rúa foi presidente da Argentina entre 1999 e 2001
De la Rúa foi presidente da Argentina entre 1999 e 2001

Ele ainda tem na memória o eco dos gritos e dos tumultos em frente à Casa Rosada, que o obrigaram a renunciar à presidência da Argentina, em 2001, quando entrava em seu terceiro ano de mandato. O país vivia uma turbulência política e econômica, com fuga de investimentos e limitação de saques bancários da população.

Passaram-se 15 anos e, daquele turbilhão, ficou a voz grave mas calma e o estilo que aparenta serenidade de Fernando de la Rúa, 78 anos. Ele mantém hábitos de um cidadão comum, atendendo o celular antes de consulta médica, se locomovendo de carro por Buenos Aires, mas isso não o impede de, por ter conhecido de perto as pressões de um governante, opinar como um conselheiro sobre os destinos do país.

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Presidente entre 10 de dezembro de 1999 e 21 de dezembro de 2001, após longa trajetória política, de la Rúa busca agora, conforme conta ao R7, ajudar a Argentina a não passar mais pelo que ele passou e finalmente alcançar a estabilidade política sem depender o peronismo.

Como membro da tradicional UCR (União Cívica Radical), dentro da coalizão Cambiemos, ele apoia o PRO (proposta Republicana) do presidente Maurício Macri e acredita que, diferentemente de outras ocasiões, o desemprego e a inflação não serão capazes de derrubar o atual governo argentino. Neste caso, Macri será o primeiro não peronista que, desde do último governo de Juan Domingo Perón (1973-1974), terminará seu mandato.


R7 - Como o senhor vê os benefícios e prejuízos trazidos pelo peronismo na história da Argentina?

Fernando de la Rúa - O peronismo sempre foi uma realidade que precisa ser considerada e, em cada momento, tratar de ser aprimorada dentro da democracia. O peronismo assumiu várias caras, sempre deu a cara e depois seguia para outra experiência.


R7 - O senhor, que inclusive já concorreu em chapa contra Juan Domingo Perón, em 1973, poderia citar exemplos ao longo deste período?

FR - Vejamos: o governo populista de Isabel Perón (cujo nome era Maria Estela Martinez de Perón) e seu ministro Lopez Rega (mentor do governo na ocasião, entre 1974 e 1976). Depois do período militar (1976-1983) veio a política liberal de Carlos Menem, depois a política de esquerda dos Kirchner, agora já pensam em outras coisas. O peronismo compreende estar no poder dentro de uma eleição e a escolha tem de ser com respeito às instituições. E se isso acontecer a política argentina melhorará muito.

R7 - Como o senhor analisa o atual desempenho do governo do presidente Maurício Macri?

FR - O governo tem tido dificuldades mas está indo muito bem, enfrentando a situação e está resolvendo os problemas da Argentina. Isso leva um tempo, não se recupera de um dia para outro, mas as medidas para isso estão sendo tomadas. É uma lástima que a questão das tarifas (reajuste) esteja demorando, mas o governo está tomando um bom caminho.

R7 - O senhor considera necessário esse aumento de tarifas (só do gás, seria de 300%, mas a Suprema Corte vetou)?

FR - É um assunto grave e importante, se cometeu um erro (no governo anterior) e agora está se tentando consertar. O aumento é necessário porque ficamos com 12 anos de subsídios para a energia, a mudança tem de ser proporcional para que seja algo suportável para a economia.

R7 - Isso não pode prejudicar a popularidade do presidente e a sua governabilidade?

FR - As principais pesquisas não têm registrado uma queda significativa na popularidade do presidente e na confiança no governo.

R7 - Já houve panelaços e as centrais sindicais se uniram para protestar por melhores salários e contra o desemprego. Como o governo pode lidar com essa situação?

FR - É um momento de conflito porque os acordos salariais seguiram uma política de anos que foi reformulada. Mas todos neste momento têm de compreender a realidade do país e a situação econômica deixada pelo governo anterior para podermos avançar.

R7 - Por sua própria experiência, vê algum risco de o presidente Macri não terminar o seu mandato?

FR - Não há nenhuma dúvida sobre a estabilidade do governo e a segurança da posição institucional que ele representa, portanto não há nenhum risco de Macri ter o mandato interrompido.

R7 - O senhor atribui à paridade entre peso e dólar, que teria engessado o governo, a causa de sua renúncia em 2001?

FR - Não foi isso, a paridade permitia que não houvesse inflação e a manutenção dos salários com grande poder aquisitivo. Os problemas foram outros: a atitude do FMI (Fundo Monterário Internacional), a desvalorização do Real no Brasil e uma conspiração que visou tornar instáveis as instituções.

R7 - Em determinado momento, o FMI ajudou a Argentina em seu governo, injetando US$ 40 bilhões na economia...

FR - Naquele momento (meses próximos da renúncia) o FMI retirou a ajuda e provocou falta de dinheiro circulante. A situação do Brasil era idêntica à da Argentina, tinha o mesmo quadro de dívida externa. O FMI apoiou o Brasil e não quis apoiar a Argentina.

R7 - O senhor tem planos de voltar a atuar na política argentina, se candidatando a algum cargo?

FR - De nenhuma maneira, estou retirado da cena política, salvo para dar conferências, participar com minhas opiniões em encontros internacionais. E vou escrever um livro que estou preparando (de memórias).

R7 - Qual aprendizado o senhor trouxe do período em que atuou como presidente e o país passou por aquela crise?

FR - Todos devem aprender com aquela crise, foi ruim para o país, mas deixou lições de que não se deve descuidar de questões importantes.

R7 - A situação agora é outra...

FR - A estabilidade está garantida e agora é esperar que venham os aportes do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento e do próprio FMI. Espera-se que haja investimentos e isso requer que haja estabilidade politica garantida, que é vital para o desenvolvimento econômico.

R7 - Como o senhor vê o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Brasil?

FR - A situação do Brasil não é indiferente para a Argentina. Está repercutindo negativamente no comércio exterior, 30% das exportações argentinas vão para o Brasil e com a crise econômica no Brasil as exportações se reduziram. Quanto aos problemas instituicionais, estive há cerca de quatro meses em São Paulo e disse que é um erro mudar o curso político no País, é melhor deixar o governo manter sua estabilidade até o fim, mantenho minha opinião. Agora me parece que a estabilidade vai por outro caminho e que votarão contra a Dilma.

R7 - O senhor considera que o impeachment de Dilma Rousseff seria um golpe?

FR - (Caso ocorra) Não é um golpe porque foi feito dentro do respeito às instituições, mas me parece que não encontraram uma causa de fundo contra Dilma, não foi possível apontar contra ela nenhum ato doloso. Sem querer interferir na política interna brasileira, acho que se o presidente for ruim, o país tem condições de se recuperar e ir adiante.

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