"Para Maduro, não existe hipótese de saída honrosa", diz especialista
Nesta quarta, Venezuela terá protestos e Maduro usa estratégias para resistir no poder
Internacional|Eugenio Goussinsky, do R7

As ruas de Caracas e de várias cidades venezuelanas voltaram, nos últimos dias, a ser palco de manifestações contrárias ao governo de Nicolás Maduro, eleito em 2013 com 50,1% dos votos. As iniciativas comprovam que a oposição, aglutinada no partido MUD (Mesa de Unidade Democrática), não se desapega da obsessão de revogar o mandato do governante, lutando por uma eleição presidencial antecipada.
Nesta quarta-feira (19), está marcada uma nova onda de protestos na Venezuela. Somente em abril, cinco manifestantes foram mortos em meio a reivindicações pelo país. Maduro, porém, promete resistir e, já passado o prazo do referendo revogatório exigido pelos opositores, tem como objetivo terminar o mandato, apesar de toda a pressão contrária.
Na opinião do professor Alberto Pfeifer, do Instituto de Relações Internacionais da USP (Universidade de São Paulo), a hipótese de uma "saída honrosa", atendendo aos apelos, está descartada.
— Para Maduro, e o tipo de movimento a que ele pertence, não existe a saída honrosa. Claro que ele pensa em ir até o fim (as próximas eleições serão no final de 2018) e depois ganhar novamente ou então eleger um sucessor do seu partido.
A bandeira chavista de igualdade, após várias eras em que a Venezuela foi dominada por oligarcas atrelados à renda do petróleo, ainda tremula entre uma parcela significativa da população, conforme diz o professor.
Muito desse apoio, segundo ele, ainda é resultado de uma política considerada clientelista por muitos opositores. E também do essencial suporte das Forças Armadas, que, no geral, ainda estão ao lado de Maduro.
— Não diria que a situação de Maduro pode ser revertida, mas mantida. O apoio pode ser considerado minioritário, inferior a 50%, mas enquanto ele tiver esse apoio ele se mantém no poder, afinal ele foi o presidente eleito e conta com esse apoio firme, mesmo que de cunho clientelista, já que aumentou salário, fez transferência de renda para essas parcelas da população.
O discurso de Maduro visa manter o vínculo com esses grupos. A escassez de alimentos e medicamentos, devido à crise econômica não impediu o presidente de destinar 73,6% do orçamento de US$ 12,85 bilhões, aprovados em 2016 à revelia do Parlamento, à área social, em um país que teve uma queda de 10% do PIB no último ano e uma inflação de cerca de 450%.
A essa estratégia, segundo Pfeifer, se alia a da iniciativa de Maduro finalmente aprovar eleições municipais e de Estados, que tinham sido adiadas em dezembro de 2016 e em fevereiro de 2017 por ainda não ter sido concluído, conforme disse o governo, o recadastramento dos partidos. Ele considera que Maduro espera uma derrota, mas pode se beneficiar com a situação.
— Ele vê essas eleições como uma perda controlada. Maduro já calculou que será derrotado em alguns municípios e Estados, mas vai manter regiões suficientes para garantir um apoio. Então ele dirá: "olha, vocês me acusam de ser autoritario e realizei eleições nas quais a oposição ganhou em alguns locais". Esse é o jogo dele, ele cede em um campo para ganhar em outro."
Oposição legítima
Todas as exigências da oposição, porém, são legítimas, segundo o professor. Estas voltaram a se intensificar após decisão do Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela, no início deste mês, de assumir as funções da Assembleia Nacional legislativa, liderada pela oposição.
— Maduro errou no populismo desenfreado, no péssimo gerenciamento das contas públicas, na manipulação da PDVSA, principal empresa venezuelana, estatal produtora de petróleo. E a oposição cumpre seu papel, já que foi eleita majoritariamente na Assembleia Nacional. Antes até se pode dizer que teve papel pífio, já abandonou eleições e deixou para o (Hugo) Chávez 100% da Assembleia Nacional. Depois disso passou a cumprir seu papel democrático.
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Os protestos recentes contribuíram para a ação do Tribunal ser revertida em seguida. E, com isso, as manifestações ganharam força, dentro de uma estratégia de derrubar o governo por meio da opinião pública. Esse tem sido um dos últimos recursos da oposição, segundo Marília Carolina de Souza, professora de Relações Internacionais da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), em São Paulo.
— Os opositores agora apostam nos formadores de opinião, em grupos ligados à burguesia local, a ONGs e a instituições como a OEA (Organização dos Estados Americanos) para chamarem a atenção da opinião pública mundial no sentido de pressionar o Maduro. Temos visto a mídia internacional criticar o governo e a oposição está contando com isso.
