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Para mulheres de negócios, o pior inimigo pode vir de dentro

Frequentemente mulheres em cargos de liderança se veem presas em um conflito de identidade 

Internacional|Do R7

Em 2012, Michelle Obama (esq.) e Hillary Clinton (dir.), duas mulheres consideradas exemplo de liderança, entregam um prêmio em reconhecimento ao trabalho da turca Safak Pavey (centro) em defesa dos direitos das mulheres
Em 2012, Michelle Obama (esq.) e Hillary Clinton (dir.), duas mulheres consideradas exemplo de liderança, entregam um prêmio em reconhecimento ao trabalho da turca Safak Pavey (centro) em defesa dos direitos das mulheres

Aqui vai uma dica para mulheres que disputam vagas executivas com homens: "Não comprem aquele terninho cinza. Não é isso que vai ajudar".

O conselho vem de Natalia Karelaia, professora assistente de ciências da decisão na escola internacional de negócios Insead, baseada em um estudo extensivo sobre como mulheres com cargos executivos se entendem – ou não – com seus colegas do sexo masculino. Segundo ela, com frequência mulheres em cargos de liderança se veem presas em um conflito de identidade causado pelos estereótipos que ditam a forma como deveriam se comportar.

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O stress de tentar viver de acordo com esses estereótipos pode enfraquecer seu desempenho e confirmar pontos de vista negativos sobre mulheres em cargos de liderança. Segundo ela, adotar atributos tipicamente masculinos, como os ternos cinza, não resolve as contradições desse ambiente e pode até mesmo intensificar o conflito interno entre a identidade de liderança e de gênero.


Ao invés disso, Karelaia aconselha que as mulheres estejam conscientes e aceitem as qualidades femininas positivas que podem ser trazidas para suas funções como líderes.

"Não tem tanto a ver com a forma como você se veste, mas como você se sente em relação à sua identidade feminina. É isso que vai permitir que você seja bem sucedida", afirmou. "Valorizar a feminilidade reduz o estresse e aumenta as chances de sucesso."


Isso não significa necessariamente seguir o exemplo da escritora e exploradora inglesa Freya Stark. Quando começou a trabalhar para o jornal Baghdad Times, no início dos anos 1930, Stark exigia que todos os seus colegas masculinos se levantassem sempre que entrava na sala: "Mulheres de negócios devem ser vistas como rainhas", proclamava.

Mesmo sem tantos exageros, empresas devem realizar iniciativas mais positivas para reconhecer e desenvolver o potencial das mulheres, tanto durante o processo de contratação quanto nos programas de tutorado que ajudam as mulheres a avançarem na carreira.

Existem ótimas razões comerciais para se fazer isso. Embora ainda haja mais homens que mulheres nos escalões mais altos do mundo empresarial, as mulheres têm ganhado espaço em muitas áreas. De acordo com as estatísticas da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, 47 % das mulheres irão se graduar em um curso universitário nos países pertencentes à organização, em comparação com apenas 32% dos homens. Quarenta por cento dos aprovados no programa de MBA de dois anos da Escola de Negócios da Harvard, em outubro do ano passado, eram mulheres.

Apesar disso, de acordo com a empresa de contabilidade e consultoria Grant Thornton, apenas 20% dos cargos de gestão sênior em nível global são ocupados por mulheres. No Relatório Internacional de Negócios de 2012, a empresa de consultoria alertou que "uma bibliografia cada vez maior sugere que o desequilíbrio na diretoria pode ser negativo para as perspectivas de crescimento das empresas".

Citando uma pesquisa realizada em 2007 pela Catalyst, uma organização sem fins lucrativos criada para dar mais oportunidades a mulheres de negócios, a Grant Thornton destacou que empresas com uma maior proporção de mulheres na diretoria tinham um desempenho melhor que o de suas rivais, em termos de retorno sobre o capital investido, retornos sobre capital próprio e vendas (66, 53 e 42%, respectivamente). Outro relatório publicado pela McKinsey & Company revelou que empresas com maior proporção de mulheres em cargos de liderança costumam apresentar melhor desempenho nos mercados de ações, comparadas com empresas dominadas por homens.

Por que, então, as mulheres não estão tomando conta dos cargos de liderança e permitindo que mais empresas se tornem lucrativas e bem sucedidas? As obrigações familiares, incluindo ter e criar filhos, são a explicação mais citada.

Contudo, de acordo com Karelaia, as causas vão muito além e residem em atitudes estereotipadas e profundamente arraigadas entre homens e mulheres em relação ao gênero e à liderança. Muitos acreditam que o sucesso em cargos de liderança exige assertividade e competitividade, atributos que batem de frente com a ideia de uma mulher sensível e carinhosa. Até mesmo quando as mulheres tentam buscam uma posição de líderes – e muitas são desmotivadas a tentar – elas são oprimidas pelo sentido de que precisam suprimir sua persona feminina.

Essa é exatamente a visão de Sheryl Sandberg, ex-chefe de gabinete do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, indicada para ser COO do Facebook em 2008 e que se tornou a primeira mulher no conselho diretivo da empresa no ano passado.

"Somos todas julgadas e atrapalhadas por estereótipos determinados por gêneros", afirmou durante uma mesa redonda sobre mulheres de negócios no Fórum Econômico Mundial em Davos, no começo deste ano. "A principal diferença entre homens e mulheres no ambiente de trabalho é que homens bem sucedidos são bem vistos, ao passo que mulheres bem sucedidas não. À medida que a mulher se torna mais bem sucedida, tanto homens quanto mulheres passam a gostar menos dela."

"As mulheres são punidas por violarem estereótipos", afirmou Herminia Ibarra, que é professora de liderança, educação e de comportamento organizacional na Insead, e moderou a mesa redonda realizada em Davos. "Se for uma mulher competente e bem sucedida, as pessoas deixam de gostar de você. Se as pessoas gostarem de você, não acham que é bem sucedida."

Uma vez que a maior parte de nós, sejamos homens ou mulheres, deseja ser competente e benquista, esse é um fardo difícil de carregar. Em uma pesquisa envolvendo 638 mulheres em cargos de liderança em uma série de setores e países, Karelaia e a pesquisadora Laura Guillen, professora assistente da Escola Europeia de Gestão e Tecnologia, com sede em Berlim, descobriram que as mulheres que se sentem ameaçadas por sua identidade de gênero tem mais dificuldade em realizar suas funções de liderança.

Por outro lado, as mulheres que se saíam melhor eram as que se sentiam mais confortáveis com sua identidade de gênero.

"Nossos resultados revelaram que uma visão mais positiva da identidade de gênero reduz a percepção de conflito das líderes entre sua autopercepção como mulheres e como líderes", afirmaram Karelaia e Guillen. "Ao reduzir o conflito de identidade, uma identidade de gênero mais positiva aumenta o prazer pela liderança e diminui o senso de obrigação."

(Nicholas Bray é correspondente da Insead Knowledge na Europa.)

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