Um dos caminhos para se alcançar a paz mundial é ir mais além e chegar a uma paz universal, na opinião do diplomata Konstantin Biryukov, representante em São Paulo da Rossotrudnichestvo (Agência Federal para Assuntos da Comunidade dos Estados Independentes, Compatriotas Residentes no Estrangeiro e Cooperação Humanitária Internacional), vinculada ao governo russo.
Pelo termo "universal" entende-se que parcerias na área de tecnologia espacial, com vistas à exploração do universo para além das órbitas dos planetas, podem gerar um entendimento entre os países no plano terrestre.
Por essa "utopia", ainda que possível na opinião do diplomata, todas as nações, inclusive aproveitando vínculos como o dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) estariam dentro de uma única corrida espacial.
— Os Estados Unidos estão montando plataforma, a China e a Rússia também. O melhor seria todos se unirem em torno de um único investimento em um projeto mais amplo, já que se fala do futuro da humanidade e, neste campo, as descobertas são fundamentais para todos. A pesquisa espacial é um instrumento valioso e imprescindível que acelera descobertas vitais para a vida do ser humano. E as parcerias, além de facilitarem o processo, ajudam no entendimento entre os países.
Um dos exemplos desta iniciativa russa foi a inauguração, na última semana, de um telescópio russo, colocado no Observatório do Pico dos Dias, em Minas Gerais, para detectar lixo espacial e facilitar o trajeto de foguetes e naves espaciais. Segundo ele, este é um dos projetos aprovados, mas a quantidade poderia ser maior se a parceria na base de Alcântara, no Maranhão, tivesse sido aprovada no início dos anos 2000 pelo governo brasileiro.
— Queríamos mais projetos com o Brasil. Mas essa iniciativa em Minas Gerais, que também é benéfica para todos, já é importante. Os dados estarão disponibilizados para o governo brasileiro. A pesquisa espacial é para todos. Ela é um instrumento necessário para o desenvolvimento humano. Produtos como o papel de alumínio, o ar condicionado, o forno de microondas, a TV, o rádio, o computador, tiveram como essência a pesquisa espacial. Não se pode medir esforços em manter esse setor como prioritário para o futuro.
No plano espacial, as divergências entre russos e americanos se arrefecem, diferentemente do que ocorreu a partir dos anos 50 do século passado, quando, desde o lançamento do satélite Sputinik 1, ambos iniciaram uma competição hostil. O panorama parece ter mudado neste sentido. Na segunda-feira (10), por exemplo, um astronauta norte-americano e dois cosmonautas russos pousaram, vindos na cápsula Soyuz (russa) no Cazaquistão, encerrando missão de quase seis meses a bordo da Estação Espacial Internacional.
O diplomata admitiu, nas entrelinhas, que todas essas iniciativas para ampliar contatos também fazem parte de uma estratégia russa de tornar o país mais conhecido pelo mundo. Apoiada, inclusive, no fato de que, na exploração do universo, as fronteiras não contam, já que, em cada área da Terra, há uma característica que pode facilitar a pesquisa para todos. Foi por sua localização estratégica que o Pico dos Dias foi escolhido para abrigar o telescópio.
Defesa da soberania
Segundo Biryukov, a imagem da Rússia tem sido deturpada por interesses de nações ocidentais que buscam, com uma série de iniciativas, desafiar a soberania do país presidido por Vladimir Putin.
Ele não negou, afirmando não estar falando pelo governo, que a Rússia tem investido uma quantia significativa do PIB em sua defesa, mesmo com algumas dificuldades financeiras que, segundo ele, foram superadas com planejamento, na busca de manter um equilíbrio diante do poderio dos Estados Unidos. Biryukov conta que, entre outras ações, o governo russo guardou recursos a partir da alta do petróleo, como uma precaução para os momentos de baixa no valor desta commodity.
— Claro que nos sentimos ameaçados. Os Estados Unidos, por exemplo, com pretextos injustificáveis de se prevenir contra ataques de países como a Coreia do Norte, colocou arsenal perigoso a 700 km de Moscou. Precisamos nos proteger. A Otan, por sua vez, também ampliou sua atuação quando, em sua essência, veio para se contrapor ao Pacto de Varsóvia. Mas o Pacto de Varsóvia acabou após o fim da União Soviética e, pelo contrário, a Otan teve continuidade e mantém uma estratégia militar que não facilita acordos.
Tripulantes de EUA e Rússia voltam à Terra após seis meses na Estação Espacial
Em relação ao comunismo, Biryukov afirma que o modelo já não existe no país. Mas destaca que o regime trouxe benefícios, como sistemas de saúde e educação acessíveis e eficientes. Hoje, porém, o desafio no país é manter essas conquistas no capitalismo.
— Hoje a Rússia é 100% capitalista e esses sistemas (saúde e educação) foram exitosos no passado. A população quer mantê-los e ainda se está analisando a melhor maneira de preservar os padrões de qualidade no atual regime.
Para ele, uma das formas de se entender a Rússia é conhecer a história do país e as dificuldades que assolaram os governos após o fim da União Soviética, algo ainda recente dentro de um processo de reconstrução. Isto em uma região em que vários povos a habitam há milênios, sob o comando de sucessivas nações ao longo deste período. Mas, segundo ele, o país está encontrando a estabilidade interna.
— A Rússia é uma democracia plena, ao contrário do que muito se ouve na mídia internacional e está se abrindo cada vez mais para o mundo, inclusive com programas que fornecem bolsas a estudantes de vários países para as universidades locais.
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Após o colapso da União Soviética, boa parte do armamento russo ficou obsoleto. Houve a impressão de que a Guerra Fria havia acabado. Mas, algumas décadas depois, pode-se perceber, principalmente após a ascensão do presidente Vladimir Putin, em 2000, e uma nova política armamentista, que a Guerra Fria apenas havia "esfriado"