Patriota repete Dilma e critica operação que trouxe senador boliviano ao Brasil
Antonio Patriota participou hoje da posse do novo chanceler, Luiz Alberto Figueiredo Machado
Internacional|Do R7, com agências internacionais
O ex-ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota afirmou nesta quarta-feira (28) que nunca poderá voltar a se repetir o que ocorreu com o senador boliviano Roger Pinto Molina, que saiu de La Paz sem um salvo-conduto do governo de Evo Morales, em um episódio que levou à renúncia do chanceler.
Na cerimônia em que o novo ministro, Luiz Alberto Figueiredo Machado, assumiu suas funções, Patriota disse que o Brasil "atuou com total transparência no caso do senador" e que "buscou uma solução negociada" para que o político pudesse deixar a embaixada em La Paz, na qual se refugiou em 28 de maio de 2012.
No entanto, Molina, um inflamado opositor de Morales, conseguiu deixar a embaixada e viajar para Brasília graças à cumplicidade de um diplomata brasileiro, o que, segundo Patriota, constituiu uma "atuação independente que não pode voltar a ocorrer".
O ex-chanceler referiu-se ao diplomata Eduardo Saboia, encarregado de Negócios na Bolívia (equivalente a embaixador temporário), que assumiu a responsabilidade pela saída de Molina do país.
— Nenhum assunto foi evitado pelo Ministério das Relações Exteriores, nem o do senador boliviano Roger Pinto Molina.
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Na terça-feira (27), em visita ao Congresso, a presidente Dilma Rousseff também criticou a operação. Segundo ela, os países têm a obrigação de proteger seus asilados, garantindo a segurança e a integridade física deles.
— Lamento que um asilado brasileiro tenha sido submetido à situação que este foi. Um Estado democrático e civilizado a primeira coisa que faz é proteger a vida e garantir a segurança dos seus asilados.
Dilma negou que as condições em que o senador estava abrigado na Embaixada do Brasil em La Paz fossem precárias. Ao justificar a operação, o diplomata Saboia alegou razões humanitárias, chegando a comparar a situação do senador à da presidente Dilma, quando esteve presa durante o regime militar.
"Eu estive no Doi-Codi, eu sei o que é o Doi-Codi, e asseguro a vocês, é tão distante o Doi-Codi da embaixada brasileira lá em La Paz como é distante o céu do inferno. Literalmente isso", disse Dilma ontem.
O Itamaraty abriu sindicância para investigar a atuação de Saboia. Ele pode ser condenado com uma simples advertência (oral ou escrita) ou até com a exoneração da carreira. O episódio provocou uma crise diplomática com o governo boliviano, que condenou a fuga do senador, e resultou na queda de Patriota.
Durante sua despedida hoje, Patriota elogiou o empenho de Dilma na erradicação da pobreza, no esforço para a distribuição da riqueza de “forma inclusiva” em um “ambiente de democracia, moralidade, com respeito aos direitos humanos e com a voz das ruas”. O ex-chanceler lembrou que a política externa foi construída com bases sólidas.
Antonio Patriota ficou dois anos e oito meses na função e será o representante do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York (Estados Unidos). O cargo era ocupado pelo novo chanceler Figueiredo Machado.