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Trapalhada ou ato de coragem? Fuga de senador boliviano ao Brasil divide especialistas

Diplomata Eduardo Saboia afirma ter articulado sozinho a saída de Roger Molina da Bolívia

Internacional|Natália Guerra, do R7

Molina acena para jornalistas em frente à casa de seu advogado, onde está hospedado, em Brasília
Molina acena para jornalistas em frente à casa de seu advogado, onde está hospedado, em Brasília

A controversa operação da representação diplomática que retirou o senador boliviano Roger Pinto Molina da Embaixada do Brasil em La Paz e o trouxe ao País divide especialistas. A ação, arquitetada pelo diplomata Eduardo Saboia — encarregado de negócios na Bolívia e chefe provisório da representação — sem o aval do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), criou uma crise diplomática e acelerou a demissão do chanceler Antonio Patriota, que deixou o cargo na noite de segunda-feira (26).

Para o professor Clodoaldo Bueno, do Departamento de História da Unesp de Assis, ficar “confinado em um prédio público por mais de 400 dias é uma situação esquisita”, e foi uma decisão humanitária trazer o senador boliviano ao Brasil. Além disso, para ele, o governo de Evo Morales faltou com respeito ao não conceder o salvo-conduto, documento que permitiria a Molina deixar a Bolívia com o conhecimento das autoridades locais, mas sem ser preso.

— O normal era tirar [o senador] do país imediatamente [após o Brasil conceder o asilo diplomático]. O Evo não permitiu. Isso é não aceitar o asilo que foi dado. Ele faltou com o respeito internacional ao não aceitar que o Brasil retirasse o senador. Se todo mundo fizer isso, acaba a figura do asilo político. E se é um grupo? Vai morar todo mundo na casa do embaixador? Isso é contra a prática diplomática.

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Saboia “teve muita coragem”, segundo Bueno, para resolver a situação, embora do ponto de vista funcional não esteja correto passar por cima da hierarquia.


— Colocou em risco sua carreira.

Já o professor de relações internacionais da PUC-SP Geraldo Zahran é crítico da operação coordenada por Saboia: “Uma baita duma trapalhada”. Para ele, o argumento humanitário não se sustenta.


— Sinceramente, não sei qual era a situação do senador na embaixada, mas um exilado preso numa embaixada não é algo tão incomum assim. É algo com que a diplomacia convive, como o caso do Julian Assange, que está na embaixada do Equador em Londres há [14] meses. Não sei se foi uma questão de tratamento médico, alguma coisa urgente. Me parece que o diplomata fez um julgamento pessoal e realizou a operação.

Zahran aponta ainda que o foco está voltado para o ex-chanceler e o diplomata que organizou a fuga, mas muito pouco tem se falado sobre o restante da missão diplomática na Bolívia.

— Deve ter mais pessoas envolvidas e, por algum motivo, isso não tem vindo à tona.

Crise no Itamaraty?

Para os especialistas ouvidos pelo R7, não há crise no ministério — e se houve alguma, já acabou. Zahran opina que, embora a imprensa tenha falado muito sobre a perda de prestígio de Patriota em relação a Dilma Rousseff, a relação não parecia diferir daquela que a presidente tem com outros ministros.

— Vejo isso como uma característica da presidente de maneira geral, ela é centralizadora com todos os ministros.

Zahran acredita que a demissão de Patriota pode ser, em parte, uma resposta ao governo da Bolívia.

— São dois fatores interligados. O relato que a gente tem é que a presidente tinha dado uma ordem expressa para que não fosse realizada nenhuma operação de resgate. Então, se um dos subordinados realiza essa operação, alguma coisa tem que ser feita. E, também, a mudança energética nesse ponto dá alguma resposta ao governo boliviano.

Para ele, a transição parece “tranquila”.

— O novo ministro era embaixador do Brasil nas Nações Unidas, é amigo do Patriota. Não há uma ruptura.

Bueno concorda e diz que a crise já está resolvida.

— Eu acho que o Itamaraty vai punir o funcionário, porque faz parte das regras do jogo. O funcionário não pode tomar iniciativa sem o conhecimento do seu superior. Não vai acontecer mais nada.

Bueno questiona qual será a postura do Brasil caso a Bolívia de fato peça a extradição do senador.

— Eu acho que ele é asilado nosso e pronto. [Dilma] vai ter que dizer não, ou se sujeitar ao Evo. O melhor seria “matar” o assunto. Ele [Evo] pode fazer um pedido de extradição proforma, a Dilma pode dar uma resposta explicando as razões [para não extraditá-lo]. Eu tenho a impressão de que os dois governos têm uma relação muito boa e isso não vai prejudicar.

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