Presidente deposto traçou caminho sem volta, avalia ativista político egípcio
Para Maged al Gebaly, Mursi governou apenas para seus aliados
Internacional|Do R7*
Embora a comunidade internacional não veja com bons olhos a intervenção militar no Egito, que tirou do poder o presidente islamita Mohammed Mursi na quarta-feira (3), grande parte da população egípcia foi às ruas comemorar o golpe de Estado. Em entrevista ao R7, o ativista político egípcio Maged al Gebaly tenta explicar o apoio do povo aos militares: "Mursi governou apenas para seus aliados".
— Mursi é quem estava conduzindo um golpe de Estado há mais de um ano contra as tradições modernas no Egito. Ele fala de diálogo, mas só dialoga com as forças religiosas e exclui totalmente as forças seculares da cena política. O povo quer uma Constituição democrática, social e secular.
Na opinião de Al Gebaly, os erros de Mursi em diferentes áreas provocaram uma desconfiança geral na população, que também leva em conta os antecedentes políticos e o discurso sectário da Irmandade Muçulmana, partido do presidente deposto.
— Mursi excluiu todos os partidos seculares do processo político, e não permitiu eleições estaduais e municipais. Economicamente, adotou a mesma agenda econômica neoliberal do [ex-presidente, Hosni Mubarak], até com mais medidas repressivas aos trabalhadores. Socialmente, houve muita repressão aos cristãos, às mulheres e aos jovens.
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Após a deposição de Mursi, o ativista vê com otimismo os próximos passos a serem dados e acredita que o diálogo com a elite militar das Forças Armadas — que possui forte influência política e econômica no país — seja necessário e cuidadoso.
— A ideia é negociar com base nos princípios da revolução e no plano de transição democrática.
Um ponto delicado, na avaliação de Al Gebaly, é a reação que terá a Irmandade Muçulmana, que se recusa a deixar o poder.
— Poderão usar dois discursos: um externo, no qual se vitimizam, e outro discurso interno, em árabe, no qual vão ameaçar a população. Eles vão tomar medidas mais autoritárias, transferir o máximo de dinheiro para o exterior antes de sua queda, assim como tentarão usar o Hamas para reprimir os manifestantes e caçar seus opositores.
* Ana Carolina Neira, estagiária do R7
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