Tensos, membros da comunidade judaica argentina divergem de Israel
Organização judaica fazia fortes críticas a Nisman por causa da falta de solução para atentado
Internacional|Eugenio Goussinsky do R7
A poeira das ruínas da Amia (Associação Mutual Israelita Argentina), que veio abaixo após a explosão de uma bomba na entrada do prédio, ainda polui a investigação sobre o atentado que deixou 85 mortos, a maioria da comunidade judaica, em Buenos Aires.
O crime ocorreu em 18 de julho de 1994 e, passados 20 anos de informações confusas, negativas dos acusados, comportamento contraditório dos vários governos argentinos, a angústia da tragédia já causa um conflito de opiniões entre a comunidade judaica local e Israel, país que, em última instância, representa todas as comunidades judaicas pelo mundo.
A divergência tem como pivô a figura do promotor Alberto Nisman, morto neste fim de semana, em circunstâncias ainda não esclarecidas.
Cristina Kirchner autoriza abertura de relatórios utilizados por promotor encontrado morto
Em declaração ao R7, Jack Terpins, presidente do Congresso Judaico Latino-Americano, uma organização com representatividade junto à Organização das Nações Unidas e vários governos, manteve um discurso racional e preferiu não dar apoio às acusações de Nisman contra o governo argentino.
Terpins, que mora em São Paulo, já tinha viagem marcada para esta terça-feira (20), com destino a Buenos Aires, para tentar se inteirar de perto da situação. O clima é tenso, principalmente entre os familiares das vítimas, que até hoje esperam por uma solução da Justiça.
— A comunidade judaica sofreu outro baque muito grande. As famílias das vítimas tinham uma esperança em ter, enfim, uma solução, afinal, estão há mais de 20 anos esperando. E agora tudo vai começar de novo. Não sei se as informações que o promotor Nisman tinha em mãos eram corretas, nem sei se o governo está certo. Estou esperando o desenrolar das investigações. Estou viajando para prestar minha solidariedade à comunidade judaica local.
A cautela de Terpins deixou claro que sua intenção é não descontentar membros da comunidade judaica de Buenos Aires que vinham fazendo fortes críticas à postura de Nisman. É neste ponto que há a discordância aparente em relação à opinião do governo israelense sobre o promotor.
Promotor que acusou Cristina Kirchner é achado morto; entenda o caso
Pouco antes da morte de Nisman, a associação civil judaica argentina Memoria Activa rejeitou a acusação do promotor contra a presidente argentina Cristina Kirchner e outros membros ligados ao governo.
O grupo lamentou a morte do promotor e pede que o caso seja investigado. Mas havia criticado duramente a postura de Nisman na investigação sobre a Amia e foi contrário à sua ida ao Congresso, que iria ocorrer nesta segunda-feira (19), para dar detalhes sobre as denúncias do promotor de que Cristina e alguns de seus seguidores haviam feito um acordo com o Irã para encobrir as investigações.
— É público e notório que Nisman utilizou os enormes recursos de sua promotoria para fins que nada têm a ver com o esclarecimento do massacre.
Para a instituição judaica, Nisman "trabalhava para os interesses dos verdadeiros encobridores". A Memória Activa dizia-se farta em relação às denúncias de Nisman, as quais atribuíram um caráter midiático. O grupo é composto por familiares e amigos das vítimas não só do atentado da Amia como o da Embaixada de Israel em Buenos Aires, ocorrido em 1992, que deixou 29 mortos.
Já o governo de Israel, em comunicado oficial divulgado pela embaixada do país na Argentina, além de manifestar a dor pela morte do promotor fez elogios à sua conduta durante todo o processo. E pediu que a Argentina dê continuidade às investigações.
— Nisman foi um homem de direito valente e destacado, que lutou incessantemente pela justiça e que trabalhou com grande determinação para expor a identidade de quem perpetrou o atentado terrorista e os seus autores intelectuais.
Para as organizações judaicas argentinas, o Congresso Judaico Latino-Americano e segundo as declarações de Nisman, os autores do atentado da Amia foram o Irã e o grupo Hezbolah, que negam qualquer participação no caso.