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"É uma sensação de dor e humilhação", diz jornalista negra barrada em supermercado 

Etiene Martins, de 32 anos, foi hostilizada pelo segurança do estabelecimento, no centro de BH

Minas Gerais|Márcia Costanti, do R7


Jornalista pretende fazer uma representação no Ministério Público
Jornalista pretende fazer uma representação no Ministério Público

Um misto de dor, vergonha e humilhação: foi esta a sensação da jornalista e publicitária Etiene Martins, de 32 anos, ao ser impedida de entrar com uma mochila pelo segurança de um supermercado no centro de Belo Horizonte. O caso veio à tona depois que ela publicou um desabafo em seu perfil do Facebook, onde relata a discriminação que sofreu do funcionário do estabelecimento por ser negra. 

— Minha vontade era só chorar, chorar e chorar. É muito triste você olhar para o lado e ver todo mundo te olhando como se vocês estivesse roubando o supermercado. É uma sensação de dor, humilhação e vergonha. Depois, senti medo, achei que ele iria me bater.

Ela só queria comprar duas lâmpadas no supermercado, mas acabou sendo surpreendida pela reação agressiva do segurança. Ao chegar no estabelecimento, Etiene se deparou com uma roleta e perguntou ao funcionário como deveria proceder para entrar no comércio. Irritado, ele gritou que ela deveria primeiramente guardar a bolsa no guarda-volumes. Como viu outros clientes entrando com mochilas, no entanto, a jornalista passou pela catraca e ainda foi ameaçada com um cassetete. 

— A clientela inteira estava de bolsa, inclusive uma pessoa passou de mochila e ele não abordou. Mas, assim que eu passei pela roleta, ele segurou o cassetete que estava na cintura dele e eu questionei se ele estava pensando que eu iria roubar. Foi neste momento que ele disse que “são pessoas assim que roubam aqui todo dia”.


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Constrangida e chorando, Etiene buscou um responsável pelo local e foi informada por uma das encarregadas que aquela não era a primeira vez que o vigia tinha um comportamento deste tipo. Ainda segundo ela, a mulher tentou justificar o ocorrido, alegando que o homem prestava serviços por meio de uma empresa terceirizada e não era funcionário direto do comércio. Sem apoio, a jornalista decidiu tomar uma atitude e chamar a Polícia Militar. 

Foram cerca de três horas e meia para registrar o Boletim de Ocorrência contra o segurança e, mesmo assim, ela ficou decepcionada. No documento, o caso foi registrado como “outras infrações à pessoa”, e não como racismo, como a jornalista esperava. 


— O que acontece é que estamos acostumados a passar por este tipo de coisa o tempo todo. Mas gera um transtorno tão grande que as pessoas acabam largando para lá por causa do desgaste. Eu insisti para que o policial o levasse para a delegacia em flagrante pelo crime de racismo, mas não foi registrado assim. A polícia ainda está muito despreparada para lidar com este tipo de situação.

Ela conta ainda que recebeu várias mensagens de solidariedade depois do ocorrido de pessoas que sofreram o mesmo tipo de preconceito de todas as formas possíveis. Etiene, que é militante do Movimento Negro em Belo Horizonte, conta que jamais esperou vivenciar um episódio de racismo declarado. 

— Todos os negros no seu cotidiano passam por algum tipo de discriminação, só que geralmente é mais “cordial”, se é que se pode dizer isso. Quem é negro sabe do que eu estou falando, mas as pessoas não fazem de forma direta. Eu pensava que jamais deixaria algo assim acontecer comigo e fiquei sem reação, dá vontade de ir embora e só chorar. É uma dor mesmo. 

Agora, a jornalista pretende levar a denúncia adiante e encaminhar uma representação ao Ministério Público de Minas Gerais e à Polícia Civil. Por meio de nota, o supermercado O Dia lamentou o fato e ressaltou que "não compactua com qualquer tipo de destrato aos clientes". O estabelecimento alegou ainda que o funcionário "já foi desligado de suas funções".

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