Médicos acusados de tráficar órgãos de criança de 10 anos vão depor nesta semana
Caso se arrasta desde 2000 em Poços de Caldas; dois médicos foram condenados neste ano
Minas Gerais|Enzo Menezes, do R7 MG
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais marcou para quarta (31) e quinta-feira (1º), em Poços de Caldas, no sul de Minas, as audiências de instrução do "Caso Pavesi".
Três médicos da Santa Casa da cidade são acusados de terem atestado a morte de um menino de 10 anos, Paulo Veronesi Pavesi, que ainda estava sedado. Seus órgãos - córneas, fígado e rins - foram retirados em 21 de abril de 2000 par alimentar uma máfia de transplantes, a ONG MG Sul Transplantes, segundo o Ministério Público.
Os médicos Celso Roberto Frasson Scafi e Cláudio Rogério Carneiro Fernandes, que integrariam o esquema, foram condenados a oito anos de prisão em fevereiro deste ano por participação na morte de outro paciente, que também teve órgãos retirados pela MG Transplantes. Além deles, Sérgio Poli Gaspar também responde ao processo.
Médicos condenados por vender órgãos de paciente continuam trabalhando normalmente
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O Ministério Público pediu a inclusão de outros quatro médicos suspeitos de atuar no esquema, que ocorreu no início dos anos 2000 na Santa Casa de Poços de Caldas. Entre eles está Alvaro Ianhez, responsável pelo primeiro atendimento, e que chefiava a MG Sul Transplantes.
As audiências serão conduzidas pelo juiz Narcísio Alvarenga Monteiro de Castro, que teve o pedido de afastamento do caso negado pela 3ª Câmara Criminal do TJMG. Os advogados de Scafi e Carneiro entraram com pedido de suspeição após a primeira condenação alegando que o juiz teria demonstrado parcialidade em entrevistas.
Segundo os desembargadores, entretanto, o uso de expressões como "máfia dos transplantes" na sentença e entrevistas à imprensa não retiraram sua isenção.
Paulo Pavesi caiu de um brinquedo de 10 metros de altura em sua casa. Ele foi levado para a Santa Casa, onde foi classificado como doador de órgãos. Horas depois, a morte encefálica foi atestada. De acordo com a acusação, os médicos respondem por demora no atendimento, fraude no exame que deteminou a morte encefálica e abandono do tratamento.
Scafi era sócio do deputado estadual Carlos Mosconi (PSDB), presidente da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de Minas Gerais e ex-presidente da Fhemig. Ao lado dos médicos acusados, o deputado é um dos idealizadores da ONG MG Sul Transplantes, apontada como "atravessadora" do esquema de tráfico de órgãos humanos. Mosconi foi uma das testemunhas de defesa dos médicos no procesos e, segundo um dos delegados ouvidos, havia "pedido" um rim para Ianhez. Em nota, o deputado afirmou que jamais foi réu ou investigado nos processos em questão.