Por que parte da imprensa erra feio ao chamar talibãs de militantes
Especialistas explicam que grupo é considerado terrorista e lamentam invasão
Refletindo Sobre a Notícia por Ana Carolina Cury|Do R7 e Ana Carolina Cury
Grande parte da mídia tem se referido ao Talibã como um grupo de militantes quando, na verdade, é um grupo de terroristas, pois é formado por radicais islâmicos que utilizam da violência para atingir objetivos políticos, praticando atentados para desorganizar a sociedade e buscar o poder. Hoje o Talibã atua no Afeganistão e no Paquistão e tem como objetivo implementar um regime extremista, baseado na lei islâmica, e recuperar o controle dos territórios, com ofensivas contra a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e os governos do Paquistão e Afeganistão.
Para isso, segundo o cientista político especialista em Israel e Oriente Médio e diretor executivo da StandWithUs Brasil, André Lajst, a organização utiliza táticas de guerrilha e ataques de homens-bomba. "O Talibã sempre teve parceira com a Al-Qaeda. Inclusive deu casa para Bin Laden, nos anos 90. De lá, ele teria programado o atentado de 11 de setembro, e outros ataques. Ou seja, eles perpetuam e apoiam o terrorismo", observa.
Diante desse cenário, não dá para entender como alguns movimentos de esquerda estão apoiando a invasão, após a saída das tropas americanas do Afeganistão. Isso sem falar que quando o país foi comandado pelo grupo (de 1996 a 2001), as mulheres não podiam trabalhar, estudar, sair sozinhas e ainda sofriam abusos de todos os tipos. Atitudes totalmente criticadas por militantes de esquerda.
O Partido da Causa Operária (PCO) chegou ao cúmulo de elogiar - no Twitter - a tomada de poder do grupo terrorista no Afeganistão. "Ao bater em retirada, o imperialismo estadunidense revela a crise em que se encontra. Sem sombra de dúvida, o avanço do Talibã representa uma enorme vitória sobre os piores inimigos dos oprimidos de todo o planeta. Pelo fim das ocupações imperialistas", declararam.
O grupo terrorista Hamas, que governa a Faixa de Gaza, também parabenizou os talibãs e considerou a ação truculenta uma "vitória" contra os Estados Unidos. Inclusive já circula nas redes sociais a foto de um encontro entre o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, e um representante da delegação do Talibã.
De acordo com a socióloga Janine Melo, o registro foi feito há algumas semanas e pode indicar um estreitamento das relações entre os terroristas, cujos resultados também afetarão Israel. "Poderemos ver, em breve, um futuro apoio do Talibã ao Hamas. A ocupação do Afeganistão é um passo significativo para outras organizações terroristas islâmicas. Uma entidade que domina um país também domina recursos, e esses recursos vão alimentar atividades terroristas em todo o Oriente Médio (e além)", analisa.
Pronunciamento
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reiterou, em pronunciamento na segunda-feira (16), que o país agiu corretamente ao retirar os militares norte-americanos do Afeganistão. O democrata admitiu que o avanço do Talibã surpreendeu o governo dos Estados Unidos.
Só para entender melhor, após o ataque de 11 de setembro de 2001, Washington instaurou um governo interino no local com o objetivo de impedir um novo ataque da Al-Qaeda e, desde então, tentou criar instituições de Estado junto ao governo afegão. "Essa saída foi baseada em um acordo estabelecido no ano passado. Para Biden não adiantaria permanecer uma vez que a liderança política afegã não demonstrou interesse em lutar pelo futuro democrático do país", esclarece André Lajst.
Assim, após a retirada das tropas americanas do local, depois de quase vinte anos, o grupo terrorista assumiu o controle da capital, Cabul, no último domingo, sem enfrentar qualquer tipo de resistência. "O exército afegão não lutou para resistir, mesmo estando armado e tendo sido treinado pelos Estados Unidos. Militares, civis e até mesmo o presidente fugiram. Isso fez com que os talibãs conseguissem dominar completamente o palácio presidencial, os poderes do governo afegão para, assim, reestabelecer um regime similar ao do passado, ou seja, repressivo", acrescenta o cientista político.
Futuro incerto
Com a invasão, a vida da população local deve mudar radicalmente, especialmente a das mulheres, que sofrem com a repressão. As vendas de burcas, que são vestimentas que cobrem todo o corpo, deixando espaço apenas para os olhos, dispararam na capital, segundo o jornal britânico, The Guardian.
O povo está desesperado. Vídeos mostrando milhares de pessoas invadindo a pista no aeroporto internacional de Cabul e tentando entrar em aviões viralizaram nas redes sociais. Um deles mostra cidadãos subindo em um avião da Força Aérea americana que estava prestes a decolar. Esse tumulto deixou mortos e feridos. Ao menos duas pessoas caíram depois de se pendurarem na parte externa de um avião.
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu uma nota e disse estar preocupado com os recentes acontecimentos. De acordo com o Itamaraty, não há registro de brasileiros atualmente residindo ou em trânsito no Afeganistão.
"Segundo Biden, eles não erraram porque estão protegendo as vidas dos soldados americanos que eventualmente morreriam em vão numa guerra que não é a deles. Não dá para culpar os Estados Unidos por estarem protegendo seus interesses nacionais... Mas, o que nos preocupa agora é a crise humanitária causada", lamenta o especialista em Israel e Oriente Médio.
O destino dos mais de 32 milhões de afegãos que agora estão nas mãos do Talibã está totalmente incerto. André Lajst aponta que uma tentativa para amenizar o derramamento de sangue é acolher as pessoas que estão fugindo de lá. "Aqueles que colaboraram com os Estados Unidos serão retaliados no Afeganistão e julgados por traição, sofrendo penas de morte, execuções em público e por aí vai. Não podemos reconhecer a legitimidade desse governo. Eles são terroristas", conclui.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.