Crise no RJ: prisão de Cabral deve dificultar ainda mais aprovação de pacote de Pezão
Governador do Rio tenta aprovar na Alerj ajuste fiscal para reequilibrar contas
Rio de Janeiro|Do R7
A prisão nesta quinta-feira (17) do ex-governador Sérgio Cabral, de quem o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), foi vice, acrescenta um ingrediente explosivo na crise do Estado e deve dificultar ainda mais a aprovação do ajuste fiscal do Executivo fluminense na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio).
Na opinião de Paulo Baía, cientista político da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a prisão de Cabral tem potencial para abalar o partido de Pezão no Rio de Janeiro, tendo em perspectiva que o grupo político aliado ao ex-governador está no poder há dez anos. Baía observa que a operação Calicute, que prendeu Cabral e ex-secretários dele, é um braço estadual da Lava Jato e deve colocar em foco obras no Estado, como a reforma do Maracanã.
— A prisão do Cabral é um soco nos peitos do PMDB do Rio. O Pezão é nocauteado pela prisão do Cabral. Está acontecendo algo novo: a população está festejando a prisão, não são apenas os servidores públicos, mas a população em geral.
O cientista social Marcelo Castañeda, colaborador do Programa de Pós em Comunicação da da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), também diz acreditar que a operação tenha desdobramentos no Estado e possa abalar a estrutura do PMDB. Ante as medidas impopulares do pacote, a divisão na base parlamentar de Pezão também atrapalha os planos do governador, acrescenta o cientista social, que defende que a população seja ouvida sobre as medidas.
A prisão do ex-governador também marcou os discursos dos parlamentares no segundo dia de discussão do pacote de medidas de austeridade na Alerj. Os parlamentares voltarão a debater o ajuste na próxima terça-feira (22).
O deputado Marcelo Freixo (Psol) afirmou no plenário da Alerj nesta quinta que a suspeita de desvios em obras — com prejuízo estimado em R$ 220 milhões — nos governos Cabral inviabiliza a aprovação das propostas de ajuste fiscal.
— Não tem moral, um governo que foi liderado por alguém que está preso, acusado por formação de quadrilha, querer aprovar um pacote tão vergonhoso para o servidor e para a população mais pobre do Rio.
Para outro parlamentar da oposição a Pezão, Wanderson Nogueira (Psol), "um novo caminho deve ser trilhado e nesse novo caminho a população deve ser defendida a todo custo".
— A população não aceita mais seus Sérgios Cabrais da vida. [...] O Brasil precisa ser refundado e o Estado do Rio de Janeiro no seu papel de vanguarda deve ser o primeiro a fazer essa refundação, que não passa por números nem prisões. Eu não comemoro a prisão do Sérgio Cabral e dos seus. Eu comemoro o nascimento de uma nova experiência.
Moro cita crise em decisão
Na decisão em que manda prender o ex-governador do Rio, o juiz Sérgio Moro citou a crise financeira do Rio de Janeiro para justificar a prisão. Para ele, seria uma afronta deixar que os investigados seguissem usufruindo de recursos de supostas propinas.
"Essa necessidade [da prisão] faz-se ainda mais presente diante da notória situação de ruína das contas públicas do Governo do Rio de Janeiro. Constituiria afronta permitir que os investigados persistissem fruindo em liberdade do produto milionário de seus crimes, inclusive com aquisição, mediante condutas de ocultação e dissimulação, de novo patrimônio, parte em bens de luxo, enquanto, por conta da gestão governamental aparentemente comprometida por corrupção e inépcia, impõe-se à população daquele Estado tamanhos sacrifícios, com aumento de tributos, corte de salários e de investimentos públicos e sociais. Uma versão criminosa de governantes ricos e governados pobres", disse Moro.