Em vídeo apresentado por delegado, testemunha diz que foi torturada na casa de Amarildo
Outro homem afirmou que casa do pedreiro era alugada para o tráfico
Rio de Janeiro|Do R7
Além do depoimento de moradores e policiais, o relatório apresentado pelo delegado Ruchester Marreiros, que aponta o pedreiro Amarildo Dias e sua mulher, Elizabete Gomes da Silva, como suspeitos de ligação com o tráfico de drogas, se sustenta em dois vídeos. Nas imagens, duas testemunhas, que não se identificaram, revelam relação entre o casal e traficantes da Rocinha. A casa da família seria alugada para que os criminosos realizassem sessões de tortura. O material coletado por Ruchester, que era delegado adjunto da Delegacia da Gávea (15ª DP) — responsável pelo caso —, veio à tona após ele ser transferido para a Delegacia de Repressão a Crimes de Informática.
Uma das testemunhas que gravaram depoimento aparece com as duas mãos enfaixadas e diz ter sido torturada na casa onde Amarildo vivia com a família.
— Eles me botaram sentado na escada da porta da Bete. Ela é conhecida minha. Aí ela comentou: “você vai tomar um coro, né?”. Eu falei: “pô, acho que vou”. Então você vai ser o nono [disse ela]. Quebraram minhas duas mãos e me queimaram todo, no peito, na barriga, tudo.
A outra suposta testemunha afirmou que Amarildo era traficante e que sua mulher alugava o quintal a criminosos.
— [O Amarildo era pedreiro?] Não, era traficante. Ele era envolvido, guardava drogas para os caras. A Bete alugava o quintal para torturar pessoas.
O advogado da família de Amarildo, João Tancredo, disse que as acusações são falsas.
— É um absurdo. Tenta-se criminalizar a vítima para justificar medidas absurdas como essa que é o desaparecimento do Amarildo. [Se isso fosse verdade] A gente devia usar a casa da família do Amarildo para dizer aos garotos de comunidades para não irem para o tráfico, porque é uma casa miserável, com um único cômodo. É um fato negado pela família.
Tancredo, porém, admitiu que, como acaba sendo recorrente em favelas, a família do pedreiro pudesse conhecer traficantes.
— Existe tráfico e circula na comunidade inteira. É evidente que eles conheciam traficantes, moram lá há mais de 40 anos. Mas daí a associá-los ao tráfico é muito barra pesada. Há uma tentativa de vinculá-los à conduta criminosa.
Segundo o material apresentado pelo delegado Marreiros, que participou das investigações da Operação Paz Armada, que prendeu traficantes na Rocinha, Elizabete seria suspeita de associação com o tráfico, ao dar cobertura a ações de traficantes, enquanto Amarildo é suspeito de tráfico e associação ao tráfico. Marreiros diz que Amarildo era conhecido como Boi e receberia ordens de traficante na Rocinha.
No relatório produzido após a transferência, Marreiros pedia a prisão da mulher de Amarildo. Ao R7, ele disse que não pediu a prisão de Amarildo por ele estar morto — a polícia faz buscas pelo corpo do pedreiro na Rocinha. Por considerar que há falta de provas, o delegado titular não deu prosseguimento ao pedido de prisão da mulher de Amarildo.
A Polícia Civil informou, por meio de nota, que segundo Orlando Zaccone, o documento feito por Ruchester Marreiros foi usado "apenas como peça de informação do inquérito, uma vez que Ruchester, quando o assinou, não estava mais lotado na delegacia e, portanto, não era a autoridade com atribuição para fazê-lo".
O relatório final da investigação foi produzido por Orlando Zaconne, que o encaminhou na quarta (7) ao Ministério Público. Zacone diz que não havia elementos que comprovassem que a "Bete" citada no relatório de Marreiros fosse esposa de Amarildo. O delegado afirmou ainda que não há dois relatórios sobre o caso, apenas o documento assinado por ele.
O R7 tentou contato com a família de Amarildo, mas não conseguiu retorno até a publicação da reportagem.
Assista ao vídeo: