Polícia do Rio dispensa delegado criticado por investigação de estupro coletivo e fala em "desgaste"
Deputados e movimentos sociais disseram que Alessandro Thiers criminalizou a vítima
Rio de Janeiro|Do R7
O delegado Alessandro Thiers foi dispensado do comando da DRCI (Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática) nesta terça-feira (7), um dia após ter se negado a ir a uma audiência pública na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) que discutiu a cultura do estupro.
Por meio de nota, a polícia informou que Thiers foi afastado em razão do "intenso desgaste a que foi submetido durante a condução do inquérito policial sobre a investigação do estupro coletivo".
Após elogiar a competência do delegado, a direção da Polícia Civil pondera, contudo, ser "necessária a preservação da gestão da delegacia especializada diante do volume e da complexidade das demandas diariamente recebidas".
O cargo foi assumido pela delegada Daniela Terra, que era titular da 33ª DP (Realengo).
Thiers falaria sobre a condução que deu à investigação do caso do estupro coletivo de uma jovem de 16 anos em uma comunidade da zona oeste do Rio de Janeiro. Antes de o caso deixar DRCI e ir para os cuidados da DCAV (Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima), as declarações do delegado haviam sido criticadas por deputados, pela advogada da jovem e por movimentos sociais.
As críticas ao delegado começaram com a então advogada da adolescente, Eloisa Samy, que disse, na ocasião, que ele criminalizou a vítima. Thiers questionou se a menina, que afirma ter acordado em uma casa com 33 homens e sido estuprada, teria o hábito de fazer sexo em grupo.
Relembre: mesmo após vídeo, delegado disse não saber se houve estupro e causou polêmica
A deputada Martha Rocha (PDT), ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, divulgou nota em repúdio a declarações do delegado. Ela também disse acreditar que falas do agente publicadas na imprensa "criminalizam e culpabilizam" a vítima.
"Quando estamos diante de uma barbárie dessas e o delegado diz que 'está investigando se houve consentimento e que a polícia não pode ser leviana', entendemos porque tantas mulheres deixam de ir às delegacias denunciar casos de abuso sexual e violência", disse ela, que é presidente da Comissão de Segurança Pública e Assuntos de Polícia da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).